Sporting perde peso nas camadas jovens: recuperar hegemonia e facilitar o futuro
Influência da formação leonina na Seleção e no plantel principal em quebra, em particular na época corrente: rescisões e empréstimos deixaram grupo com mínimo de quatro formandos.
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Durante décadas falar de formação em Portugal implicava falar de Sporting. No entanto, o paradigma mudou e os leões têm perdido, progressivamente, influência e peso nas camadas jovens, o que já se reflete nos atuais planteis da Seleção e do próprio Sporting. Fala-se genericamente de desinvestimento ou de fraca aposta na prata da casa, um cenário que se agravou nesta temporada devido às rescisões de cinco formandos (Rui Patrício, William Carvalho, Gelson Martins, Rafael Leão e Podence), às quais acresce a debandada que se verificou no verão, na gestão transitória de Sousa Cintra, pela via dos empréstimos (Domingos Duarte, João Palhinha, Matheus Pereira, Francisco Geraldes, Demiral, Ivanildo, Iuri Medeiros, este a cumprir empréstimo de ano e meio acordado em janeiro). A formação foi tema central dos debates e entrevistas da campanha eleitoral leonina e Frederico Varandas sempre colocou o assunto no topo das suas prioridades, pelo que é tempo de colocar mãos à obra com o futuro em vista, já que se trata de um trabalho que demora anos a dar frutos.
A promessa do líder leonino de ter a formação como base do plantel principal vai demorar a cumprir, de acordo com a sua própria previsão. Frederico Varandas foi eleito já com a época em andamento e as operações do mercado de transferências concluídas, herdando um plantel construído por Sousa Cintra (esteve cerca de dois meses à frente da SAD, transitoriamente) e José Peseiro, no qual se acentua a quebra, em comparação com os anos anteriores: no plantel principal, de 29 jogadores, há apenas quatro formados no clube e só um deles, Nani, é titular. Nas seleções jovens, o leão passou de ter uma média de 47 formandos, em 2010 (mais 14 do que o Benfica, por exemplo), para ter no presente apenas 21 (menos quatro do que as águias, como se verifica no quadro anexo). Nos AA, muito se falou de "Os Aurélios", em 2016 (na final do Europeu, oito titulares eram formados em Alvalade e outros dois estavam no banco), mas dois anos volvidos também as águias ganham força nas escolhas de Fernando Santos.
"Só nos aguentamos no escalão de sub-17, em termos de Seleção. O paradigma mudou. Temos de ter recrutamento, área técnica... Temos de ser mais efetivos e, para isso, precisamos de investimento. Temos de dominar Lisboa, Setúbal e Braga, os distritos mais jovens, e em escalões de seis a oito anos. Temos de ir buscar os melhores, ter as melhores condições de treino, com Unidade de Performance, porque não é entrar na Academia e sair jogador", disse o novo presidente verde e branco durante a campanha, apontando problemas e um período de meia dúzia de anos para a recuperação ter efeitos: "Temos de remodelar por completo a formação do clube. Não se impõe gostar do Sporting, ensina-se. Perdemos muita competitividade e qualidade. Sei o que é preciso alterar, onde investir e em que pessoas. Teremos problemas para os próximos cinco/seis anos. A formação vai ser a base da equipa."
Curtas
Um quinteto sub-23 assíduo nos treinos
Diogo Sousa, Miguel Luís, Thierry Correia, Elves Baldé e Nuno Moreira treinam frequentemente às ordens de José Peseiro, mas pertencem ao plantel de sub-23. A equipa principal, sem eles, já tem 29 jogadores (considerando Sturaro).
Equipa B é para reativar nos distritais
Criada em 2012, a equipa B leonina foi extinta na passagem para esta temporada, com influência do facto de terem descido de divisão. Varandas quer reativá-la, mas terá de fazê-lo nos campeonatos distritais.
Queiroz esgotou a geração de Figo
A geração de Luís Figo brilhou nas camadas jovens, conquistando campeonatos do mundo, mas isso teve os seus custos a nível de clube. Depois de ser campeão de iniciados pelos leões, chegava às fases finais dos campeonatos esgotado, fruto da elevada carga dos constantes estágios do selecionador jovem Carlos Queiroz.
Entre os cinco com dois Bolas de Ouro
O Sporting é um dos cinco clubes que formou dois Bolas de Ouro: Figo e Ronaldo. A par de Sporting, também Ajax (Cruijff e Van Basten), River Plate (Di Stéfano e Sivori), Manchester United (Bobby Charlton e George Best) e Dínamo de Kiev (Blokhin e Shevchenko) formaram dois.
"Os Aurélios" deram o único título luso
Portugal tem um título no palmarés, o Europeu de França, em 2016, e em muito o deve à formação leonina: no onze da final estavam Rui Patrício, Cédric, José Fonte, William, Adrien, João Mário, Nani e Ronaldo, ficando ainda no banco de suplentes João Moutinho e Quaresma.
Jesus "limpou-se" do mito em Alvalade
Jorge Jesus "limpou-se" do mito de não apostar em jovens em Alvalade, embora graças a um grupo herdado com onze da formação. Apostou em Gelson Martins e preparava-se para fazer o mesmo com Rafael Leão.