Sporting-FC Porto, um clássico de mística: as contas aos anos de casa de leões e dragões
Leões jogam em casa com a pressão de não perder o comboio da Champions. Dragões sem margem de erro na luta pelo bicampeonato. Rúben Amorim ainda não conseguiu derrotar Sérgio Conceição. Gonçalo Inácio e Esgaio têm, juntos, mais de 23 anos de Sporting; João Mário e Diogo Costa somam 24 de dragão ao peito. Mística de leões e dragões está bem enraizada.
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A camisola pode já não pesar como antigamente, quando os plantéis eram constituídos - até pela limitação de estrangeiros - quase em exclusivo com jogadores da casa. Mas os valores dos clubes perduram ao longo dos tempos e a verdade é que há exemplos do lado do Sporting e do FC Porto de quem tenha mais de uma década de "casa" - e até quem não tenha conhecido outro clube - e, como tal, sentem verdadeiramente a camisola que esta noite vão usar em Alvalade.
É o caso de Gonçalo Inácio e João Mário, por exemplo. À boleia desta mística que não está perdida, O JOGO fez as contas aos anos de clube de todos os elementos que Rúben Amorim e Sérgio Conceição já usaram esta temporada e a conclusão é que há mais antiguidade do lado do FC Porto, embora a diferença não seja assim tão grande. E isso deve-se, sobretudo, a um número bem superior de reforços que os leões contrataram esta temporada em comparação com os dragões.
Olhando para o plantel de Rúben Amorim, há quatro jogadores com dez ou mais anos de casa, contudo, dois deles - Daniel Bragança e Luís Gomes - ainda não foram usados. Os outros dois são o já referido Gonçalo Inácio e Ricardo Esgaio, o elemento com maior tempo de ligação ao clube, ainda que intercalado, visto que esteve uma época na Académica e quatro em Braga. No FC Porto, João Mário é quem está há mais tempo (desde 2009/10) ligado ao clube, apesar de não ter sido contabilizado neste trabalho o ano em que o lateral esteve emprestado ao Padroense. Seguem-se Bruno Costa, que não está convocado para o clássico, com 12 anos de azul e branco em duas passagens, e Diogo Costa e Bernardo Folha, ambos com 11,5 anos e sem que tenham representado outro clube.
Mas como isto da longevidade e de sentir a camisola não é um exclusivo de jogadores portugueses ou da formação, há que destacar os sete anos seguidos que o capitão Coates tem de Sporting, tantos como o capitão do FC Porto, Pepe, mas também Otávio. No caso dos portistas, porém, não são ininterruptos. E há, ainda, Marcano que já vai em 7,5 anos de dragão ao peito.
Para Ademar e José Alberto Costa, ex-jogadores de Sporting e FC Porto, a mística pode ter impacto, mas será sempre o caráter e a motivação dos jogadores a pesar mais. "Quem está mais identificado com o clube é natural que possa envolver-se numa dimensão diferente", atira Costa, apesar de não considerar esse fator decisivo. "É óbvio que um jogador que fica vários anos num clube grande, mesmo que não tenha começado lá, acaba também por encarnar o espírito do clube, a chamada mística", sublinha Ademar.
Mística à parte, é hora de falar noutras contas, naquilo que está em jogo. É verdade que o último jogo entre Sporting e FC Porto, há duas semanas, tinha um título em disputa (Taça da Liga), mas o terceiro confronto da época entre leões e dragões também possui ingredientes mais do que suficientes para o monopolizar as atenções. Há muito em jogo dos dois lados. Se para a equipa de Rúben Amorim - que pelo Sporting ainda não venceu Sérgio Conceição no campeonato - o título é, no melhor dos cenários, uma miragem, há a pressão de atingir o outro objetivo, fundamental não só a nível desportivo, mas também financeiro: a Liga dos Campeões. O Sporting está a cinco pontos do Braga, que ocupa o terceiro e último lugar e que dá acesso à próxima edição da prova. Realisticamente, esse é mesmo o único propósito, a nível nacional, dos leões, que perderam a final da Taça da Liga para o FC Porto e foram afastados prematuramente da Taça de Portugal.
Para Sérgio Conceição, que está numa série de oito vitórias consecutivas, a visita a Alvalade pode traçar a linha entre manter-se na corrida ao título ou ver o Benfica fugir na liderança. Os encarnados, diga-se, vão estar confortáveis no sofá a ver o clássico, uma vez que já derrotaram o Paços de Ferreira em jogo antecipado desta jornada.
Quando o lar tinha a outra cor
Se não faltam exemplos de jogadores que estão umbilicalmente ligados ao seu clube também há quem tenha mais anos no rival do que na casa atual.
André Franco, por exemplo, que está no Dragão desde o verão, é leão de formação, já que esteve 11 anos ligado ao Sporting, dez deles de forma consecutiva - dos sub-7 aos sub-17 -, tendo depois voltado para terminar a formação antes de sair para o Estoril. Manafá é o outro dragão que esteve do outro lado, mas neste caso apenas durante dois anos e meio. Ou seja, já tem mais azul do que verde na carreira.
No Sporting, Nuno Santos esteve sete anos e meio a aprender na formação portista (dos sub-11 aos sub-17) e Rochinha também foi moldado no Olival durante seis anos. Finalmente, Trincão teve uma passagem fugaz, de meia época, pelos sub-11 do FC Porto.
Alvalade recebe 14.º duelo entre os capitães
Coates e Pepe têm em comum o facto de serem centrais e capitães, de Sporting e FC Porto, respetivamente. São os dois jogadores mais experientes dos plantéis e esta tarde disputam o 14.º clássico, num duelo que começou há relativamente pouco tempo: janeiro de 2019. Pepe leva vantagem com seis vitórias e apenas uma derrota. E por Portugal também ganhou a Coates (2-0), no último Mundial.
Tendência é de poucos golos e divididos
Só por uma vez nos últimos 15 clássicos em Alvalade - para todas as competições - uma equipa marcou mais do que dois golos. Foi o Sporting de Carvalhal que ganhou 3-0 ao FC Porto de Jesualdo Ferreira. Desde esse duelo, de há quase 13 anos, registaram-se nove empates, cinco dos quais sem golos. A tendência, portanto, tem sido de pouca finalização e dividida.