ENTREVISTA, PARTE II - Capitão do Salgueiros, onde joga há três anos, Diogo Valente chegou aos 500 jogos. Ainda dói o objetivo falhado na última temporada, mas não atira toalha ao chão quanto ao seu futuro e ao do clube
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Venceu uma Taça pela Académica, estreou-se na Liga pelo Boavista, vive a eterna juventude no Salgueiros, aos 39 anos, e guarda a mágoa de ter falhado no FC Porto, onde fez um de 500 jogos agora cumpridos como sénior.
Como lida com esta marca dos 500 jogos?
-É uma marca bonita, não tinha ideia de que estava a completar 500 jogos. É gratificante, numa carreira já longa, fazê-lo num clube com tanta história e que ficará, para sempre, como um dos que mais me marcaram. Sem dúvida que é um momento interessante da minha carreira. Unicamente tinha noção dos jogos aproximados feitos em cada clube; tinha ficado a um de fazer 100 pela Académica. E, lá está, a Académica é outro lugar especial do meu trajeto, onde conquistei uma Taça de Portugal.
O momento do Salgueiros não acompanha este momento individual...
-Temos de assumir que estamos muito aquém do que pretendíamos, e temos de assumir que o objetivo passou a ser a permanência. Por tudo o que foi esta época, orçamento baixo, plantel muito jovem, série competitiva...
Deixar de jogar sem subir o Salgueiros será duro?
-Há uma mágoa, mas mais pelo ano passado. Fizemos uma grande campanha e não merecíamos aquele golo sofrido no último minuto em Lourosa. Dava a subida, e é algo que ainda hoje está por digerir. Sentíamos que seria naquele ano o regresso às competições profissionais, algo necessário para os adeptos e para a história do clube. Necessita de se reerguer e voltar ao nível que já andou. Esta é a minha terceira época; na primeira também devíamos ter feito muito mais, porque o investimento foi forte. Agora vamos ver o futuro. Só no final vou avaliar a situação a nível físico, mental e motivacional para ver se vou jogar. Ainda gostava de ficar marcado por uma subida no Salgueiros.
Aos 39 anos, como explica esta longevidade?
-A verdade é que hoje me cuido mais. Tenho de perceber a importância da parte física, isso envolve descanso, alimentação, aspetos musculares. Se perco faculdades, tenho de saber compensar. Sinto-me bem e tenho mostrado bons números, que me faltaram antes. Ganhei experiência, melhor posicionamento e entendimento da parte tática.
E como é a mudança de chip entre ser profissional e estar a este nível?
-Não é fácil, consegue-se pela paixão pelo jogo, motivação em treinar e jogar. Assim continuo com a chama acesa. Sinto falta da ribalta e sinto que não valorizei convenientemente a carreira. São coisas que não voltam atrás. Devia ter dado muito mais e dou esse conselho: entreguem-se com toda a paixão, porque são momentos muitos bons, outro nível em tudo, em condições. Quando caímos, sentimos uma diferença abismal.
Define um top 3 de clubes que o realizaram?
-Acho que fui um excelente profissional por onde passei, mas há clubes que marcam mais. No Salgueiros consegui ter sucesso já com certa idade e ser acolhido no núcleo da alma salgueirista. Fiz grandes épocas em Coimbra, numa delas venci a Taça, é algo que fica na história de qualquer jogador, ainda para mais num clube que não era favorito. Tenho de juntar o Boavista ao top 3, por me ter lançado no futebol profissional; deu-me a oportunidade de aparecer e mostrar o meu valor. E o Beira-Mar, onde dei os primeiros pontapés.
No estrangeiro também se enriqueceu?
-Foram boas experiências, tanto na Roménia como na Turquia. Adorei estar fora. Fiquei com a sensação, mesmo jogando em bons clubes de Portugal, que devia ter arriscado outras saídas. Tive ofertas de Espanha e Inglaterra. Na altura que assinei pelo Braga, tive proposta do Celta. Mais novo podia ter ido para o West Ham. Quando fui para o Cluj, olhei à parte financeira, porque tinha 27 anos. Desportivamente, podia ter sido mais benéfico ir para o Celtic, e chegou a estar tudo acertado. Mas não me posso arrepender, porque joguei a Champions pelo Cluj.
"Deixei de jogar pelo Boavista e tremi ao chegar ao FC Porto"
“Chego ao FC Porto, após duas épocas como figura do Boavista, revelação da Liga e internacional sub-21. Quando fica fechada a transferência, deixo de jogar pelo Boavista. Chego ao FC Porto, sem ritmo, meia época sem jogar, os níveis de confiança e físicos não estavam no topo. Tudo isso mexeu comigo e acusei a dimensão do clube. Não sei o que se passou, estranhamente deixei de jogar no Boavista. Era um menino de 21 anos e tremi.Não me apresentei preparado no FC Porto para essa cobrança de nível. E, depois, deu-se o facto de ser contratação de Adriaanse”, recorda.