Treinador reforçou o seu papel ao nível da gestão das equipas profissionais, da comunicação e das contratações
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Sérgio Conceição tinha contrato com o FC Porto e qualquer movimento que o levasse a sair tinha um custo de 15 milhões de euros, valor da cláusula de rescisão do treinador em quem a clube mantém total confiança. O treinador quis, no entanto, rever algumas situações estruturais e reforçar poderes em matérias em que nem sempre esteve de acordo no passado.
Conceição chegou há dois anos e procedeu a muitas alterações, mas ampliou o raio de ação em 2019/20.
Vincou-o em mais do que uma vez e fez questão até de dizer que a continuidade dependia dessa revisão. A SAD compreendeu as razões de Sérgio Conceição e confiou-lhe a gestão total de tudo que tem a ver com a equipa de futebol.
Hoje, o técnico é responsável por muito mais do que apenas liderar o processo de treino e de jogo, efeito para o qual foi contratado há dois anos. Nessa altura, por ser um perfecionista, entendeu que precisava de mudar algumas coisas na organização interna da equipa profissional. Foi continuando a fazê-lo e, com esta nova revisão de "poderes", tornou-se praticamente um "manager" à inglesa.
Tudo o que está à volta da equipa, o treinador maneja. Rigorosamente tudo. Ao contrário dos britânicos, porém, não delega no número 2 as competências principais do treino, pois essa continua a ser a sua principal área de intervenção.
Estamos a falar de outras coisas e de regras novas. A liderança do processo estrutural de formação de jogadores, a decisão absoluta sobre as contratações e as alterações no processo de comunicação do clube são as principais.
Sérgio Conceição deixou de falar sobre arbitragens na última época por algum descontentamento a propósito opiniões emitidas no Porto Canal por comentadores que nada têm que ver com a estrutura portista.
Essa foi uma situação que o treinador exigiu erradicar: árbitros são matéria sensível e só ele e a administração devem pronunciar-se, ainda que a comunicação do clube também o possa fazer, obviamente com acordo de todos. O mais provável é que o técnico volte a falar sobre arbitragem quando o entender em 2019/20. Sérgio irá clarificá-lo em breve.
Conceição vai clarificá-lo em breve, mas quer uma só voz quando o assunto são as arbitragens
O dossiê das contratações, a cargo de Pinto da Costa e Luís Gonçalves, tem tido também a intervenção muito direta do treinador, mais do que em anos anteriores, até porque o FC Porto também tem, nesta altura, um maior desafogo para atacar o mercado e o técnico pode escolher jogadores num quadro mais amplo e com maior critério.
Os cinco que chegaram em 2019/20 tiveram o selo do treinador, que insistiu particularmente na contratação de Zé Luís e no regresso de Marcano. O processo que guia a contratação de um guarda-redes é sintomático: foram apresentados dezenas à SAD, alguns até agradaram ao treinador, mas nenhum correspondia a 100% ao perfil idealizado. Navas e Trapp foram os que mais se aproximaram e é o segundo que a SAD está a negociar.
Um novo gabinete e Casillas por sua ordem
Mas há mais. O gabinete de gestão da comunicação e imagem da equipa A foi criado há um mês [anunciado no dia de arranque dos trabalhos da pré-temporada] com dedo do treinador, consciente da crescente exposição social dos jogadores.
O acompanhamento e aconselhamento por pessoas especializadas é um passo para evitar fugas de informação e/ou constrangimentos causados por qualquer ação ou publicação despropositada na ótica do clube. Quem fala, como fala e onde fala é assunto que o técnico puxa para si. A própria gestão da comunicação da equipa e dos jogadores tem sido diferente neste início de temporada.
O novo cargo criado para Casillas também foi responsabilidade direta de Sérgio. Pinto da Costa foi quem decidiu integrar o guarda-redes na estrutura, mas coube ao treinador reclamar um lugar para Iker junto da equipa, por entender que a sua presença, experiência e referência podem ser mais-valias para todos. O espanhol está, por isso, com a equipa no Algarve.
Além da principal, também a B e os Sub-19 estarão debaixo da intervenção direta do treinador, que reclama transversalidade entre equipas profissionais
A formação e os escalões do clube já tiveram em 2018/19 um acompanhamento próximo da parte de Sérgio Conceição e em 2019/20 essa transversalidade vai ser aumentada no âmbito do reforço de poderes. A ideia é que a equipa principal, equipa B e os Sub-19 sejam encarados como um só plantel: ou seja, todas as equipas profissionais do clube.
O objetivo é que todos sejam ativos do FC Porto e possam saltar entre equipas com frequência em função da necessidade das mesmas e dos jogadores, seja nos treinos ou nos jogos. José Tavares é o coordenador geral da formação, mas Conceição faz a gestão das subidas e descidas dos jogadores, observa-os com frequência e define as etapas a que estes devem ser sujeitos.
O tal conceito de um só plantel nota-se neste estágio algarvio: há dois jogadores presentes que ainda são Sub-19 (Tomás Esteves e Fábio Silva), ativos claros da equipa B (Diogo Queirós, Romário Baró e Madi Queta) e outros que por lá passaram recentemente, como Diogo Costa e Diogo Leite.
As reuniões com Rui Barros, treinador da equipa B, são constantes, como eram com Mário Silva. E o estreitar de relações entre as três equipas obedece a diretivas que Sérgio dita.
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