"Seleção era mais do que justo pelo que fiz no auge. Tenho essa mágoa"

Cumprindo um desejo antigo, Ricardo Nunes assinou por dois anos pelo Varzim e vai terminar a carreira no clube do coração. O guarda-redes não podia estar mais feliz

Quais as emoções que sentiu ao voltar a entrar no estádio como jogador do Varzim?

-Senti uma grande alegria, não só porque cresci no Varzim como homem e como profissional, mas também porque foi aqui que vi o meu pai jogar e onde entrei com ele em campo antes dos jogos para tirar a fotografia com a equipa, com as bancadas repletas de gente num estádio mítico. Poder regressar é fantástico. Gostei muito de perceber o projeto que as pessoas estão a fazer para continuar a reerguer o clube e, juntando a isso, a minha paixão pelo Varzim e o sonho que tinha de terminar a carreira onde comecei, no clube de coração e na minha terra.

Poucos jogadores foram tão acarinhados num regresso. Sendo poveiro, sentiu esse apoio das pessoas?

-Isso aconteceu porque nunca me desliguei do clube e mantive sempre as minhas raízes. Sempre que podia, fazia questão de ver os jogos do Varzim em casa, porque é algo que está enraizado em nós desde pequenos. Saí para a Académica da melhor forma possível, dando dinheiro ao clube, fiz a minha carreira e achei que era o momento certo para regressar.

Quais as expectativas para estes dois anos no Varzim?

-Quase de certeza que vão ser os meus dois últimos anos de carreira. Sinto que posso ajudar dentro e fora de campo. Quero manter-me bem fisicamente, não ter lesões e jogar o máximo de jogos possível, tentando ajudar com a minha experiência no balneário para ajudar os miúdos a crescerem e para passar o que são os valores do Varzim a quem chega.

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Sendo uma referência do clube, está pronto para se assumir como capitão de equipa?
-A braçadeira representa muito para um jogador, mas podemos ser capitães de várias maneiras. Não venho para tirar nada a ninguém, no entanto, se as pessoas me convidarem ou se acharem que tenho o perfil ideal, logicamente que aceitarei de bom agrado.

Atendendo ao historial do Varzim, e apesar de já não estar na I Liga desde 2003, é possível assumir um objetivo de subida?

-O clube deve estruturar-se para isso em primeiro lugar e penso que é importante o que a Direção está a tentar fazer, criando bases e tendo um projeto bem definido. Há muitos aspetos fora de campo que podem ajudar a construir bons grupos, como ter ordenados em dia, ter condições para trabalhar e criar todas as infraestruturas para ajudar os jogadores. O Varzim está nesse caminho depois das dificuldades financeiras que passou, mas ainda tem muito a percorrer. O objetivo tem que passar sempre por fazer melhor do que no ano passado, mas o Varzim ainda não se pode assumir como um verdadeiro candidato à subida, podendo correr por fora como todas as equipas.

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Estando em final de carreira, faltou-lhe representar a Seleção Nacional?

-Sem dúvida que sim. Seria a cereja no topo do bolo e era mais do que justo pelo que fiz nos anos em que estava no auge, nem que fosse num jogo amigável. Tenho essa mágoa, mas não guardo rancor de ninguém.

"Foi assustador passar pela doença"

Na última época, Ricardo Nunes foi diagnosticado com um cancro num testículo, conseguindo vencer a doença que foi descoberta "numa fase embrionária" num teste de rotina ao serviço do Chaves.

"Foi assustador. Para qualquer pessoa que passe por um diagnóstico desses, o mundo desaba. Tive a sorte de não precisar de tratamentos mais agressivos e apanhei pessoas fantásticas que me ajudaram imenso a ultrapassar a situação", relatou o jogador, enaltecendo ainda o "trabalho fantástico de todas as pessoas que trabalham no IPO". "Agradeço de coração todas as mensagens que recebi de clubes, adeptos e amigos".

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