Antigo selecionador discursou no congresso "The Future of Football", no Pavilhão João Rocha
Corpo do artigo
Campeão do mundo em 2002, finalista do Europeu em 2004, com Brasil e Portugal, respetivamente, Scolari é dos treinadores mais experientes e conhecidos do mundo.
Com 36 anos de carreira, falou sobre adeptos no congresso organizado pelo Sporting e comparou os adeptos dos oito países em que já trabalhou. "Vivi culturas totalmente diferentes, conheci adeptos totalmente diferentes. Na Arábia Saudita e Kuwait foi a minha primeira aventura: tem procedimentos diferentes dos sul-americanos e europeus. Muito calmos, muito centrados, é uma torcida não como a nossa. Vivem o jogo dia a dia mas sem a intensidade dos sul-americanos. Depois, Japão. Digo-vos: foi o país que mais me impressionou de como ser um adepto de futebol. Educado, com cultura, com procedimentos que não vivemos no dia a dia e como um clube pode ser organizado. Como vivíamos o dia a dia do torcedor: era controlado pelo nosso clube, as sessões de autógrafos, o dia em que estavam no campo connosco... Não tenho dúvida que é o país mais organizado no sentido de torcida que qualquer técnico gosta de trabalhar. O Uzbequistão é Muito diferente. Um técnico de futebol, às vezes, tem de entrar na cultura daquele país. Não falava a língua deles, mas tínhamos que receber as honras e mostrar que me podia tornar um pouco como eles. Na China fui colocado no avião por três mil fãs. Saía de um clube e diziam que não voltaria. De 11 títulos jogados, conquistámos sete. Não via como permanecer. Uma coisa que marca - e nem o meu nome sabiam - é a forma como recebem. No último jogo gritaram "Obrigado Felipão", a despedirem-se de mim. Na China havia um dia com a torcia. Uma das coisas boas era que não tinha imprensa dentro de campo E acho que o Bruno concorda comigo. Aquele dia era um dia em que o técnico agia. Os jogadores não gostam muito dos autógrafos, de cumprimentar. O técnico punha amizade, carinho, mas imposição. "Não vou..." "Vai""
O treinador recordou ainda os vários clubes por onde passou no Brasil, da Seleção, dos regionalismos em Inglaterra e terminou com uma história recente de um taxista em Portugal. "Estive no Palmeiras, grande oponente do Grémio nessa altura. Fui contratado e dei ao Palmeiras coração, dedicação, respeitei, aprendi a cultura palestrina e tive essa identificação. Acho que é assim que deve ser. Trabalhei no Criciúma, pequeno, mas de pequeno se transformou em grande, pois foi campeão. Aprendemos que podíamos ser uma equipa. Somos grandes nos pequenos também. Depois a Seleção do Brasil. É fácil... 99% apoiam-nos. O mais difícil é ser reconhecido para um técnico quando a situação não é boa. Em 2014, fui derrotado pela Alemanha por 7-1, mas fui recebido pela minha equipa, o Grémio, 15 dias depois da derrota. Eram dez mil pessoas para me receber. Isto tudo porque sabiam que o meu coração é gremista, porque tinha respeito, No Brasil joguei sete anos, o Caxias, não famoso, mas bom. Lá em Caxias é fácil e é normal ser torcedor. Quem torce pelo Caxias torce pelo Internacional. Em Inglaterra aprendi que se torces pelo Watford, torces pelo Watford. Se torces pelo Birmingham, torces pelo Birmingham. Não é pelo Birmingham e pelo Chelsea, torces pelo clube da cidade. Quanto à seleção portuguesa.... Sou bem recebido. Ontem apanhei um táxi para ir a casa do meu filho. O motorista disse que estava zangado comigo. Porquê? 'O senhor perdeu com a Grécia', disse ele. Perdi com a Grécia, mas o Fernando ganhou à França, respondi. E ele: 'ganhou, mas assim assim...' Brinquei com ele e disse que ia a pé", rematou o antigo selecionador nacional.