Saltou do banco e foi herói: "Eu só pensava: 'Por favor, marquem os vossos penáltis'"
Guarda-redes Guilherme Oliveira foi a figura na conquista do título da Liga 3 ao defender um penálti, no desempate. Começou a época como titular, mas foi perdendo espaço. No jogo do título, com o Oliveirense (5-3 nas grandes penalidades, Nuno Manta chamou-o para os penáltis e o resultado não podia ser melhor.
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Formado no Sporting, o guarda-redes, de 27 anos, chegou a Torres Vedras no início da temporada, proveniente do Belenenses, emblema pelo qual se estreou no principal escalão português. Agora, com mais um ano de contrato, Guilherme Oliveira pretende continuar no Torreense, na II Liga.
Vestiu a pele de herói nos penáltis que valeram o título de campeão. Como viveu esse momento?
- Fiquei muito feliz e satisfeito por ajudar a equipa. Sinto que, por tudo o que passámos durante o ano, foi uma conquista merecida.
Quando o treinador Nuno Manta o lançou no encontro, sentiu o peso da responsabilidade?
- Sinceramente? Senti-me à vontade. Antes de entrar em campo, disse ao míster que nunca na minha carreira tinha perdido uma disputa por penáltis e não ia ser agora. É um momento do jogo em que sou muito forte e, por isso, estava relaxado, tranquilo e confiante que as coisas iam pender para o nosso lado.
Já estava definido que se o jogo fosse até aos penáltis seria o Guilherme a assumir a baliza?
- Não, não estava. Ou melhor, podia estar, mas eu, pelo menos, não sabia. Só soube durante o prolongamento. No dia anterior, no treino de adaptação ao Jamor, treinámos penáltis e eu defendi alguns. Pode ter tido alguma influência, mas o que importa é que aconteceu e foi uma aposta ganha.
No momento dos penáltis, o que passa pela cabeça do guarda-redes?
- Tentei acalmar um bocado os meus colegas, porque normalmente ficamos sempre contentes e com os nervos à flor da pele quando uma decisão de grandes penalidades é desbloqueada por uma defesa. Mas, como foi logo no início, não queria que eles pensassem que já estava resolvido, daí a minha reação a pedir calma. Eu só pensava: "Por favor, marquem os vossos penáltis que eu vou tentar defender todos aqueles que for possível."
No final do jogo, o telemóvel tocou muitas vezes para ser parabenizado?
- Sim, muitas mensagens, e ainda não respondi a todas por não ter conseguido.
Individualmente, começou a temporada como titular, mas ao longo da época foi perdendo espaço. Houve alguma razão para isso acontecer?
- Comecei o campeonato como titular, estava a sentir-me muito bem. Consegui, inclusive, estar incluído em três equipas da jornada nos primeiros oito jogos. As coisas estavam a correr-me bem, mas depois houve ali uma fase de três jogos em que perdemos dois e empatámos um, e que até coincidiu com a saída do treinador Daúto. O jogo que fizemos a seguir foi com o nosso treinador interino, o Ricardo, e ele decidiu trocar os guarda-redes. E quando chegou o míster Manta Santos, ele decidiu manter assim a baliza.
Nessa fase houve alguma desmotivação ou colocou sempre a equipa em primeiro lugar?
- Coloco sempre a equipa em primeiro lugar, mas claro que quero sempre jogar e ter o máximo de minutos. Isto é um desporto de equipa, não é um desporto individual, e eu jamais iria colocar os meus interesses à frente dos do clube.
No cômputo geral que balanço faz desta temporada?
-Muito positivo. Quando assinei o contrato propuseram-me a subida de divisão; não só conseguimos isso, como fomos campeões. Acho que no geral foi muito bom, foi uma época histórica para nós, para o clube e para a cidade, que já não estava nos campeonatos profissionais há 24 anos nem tinha nenhum taça no palmarés há mais de 60.
Terminar a temporada como protagonista é a melhor forma de mostrar o seu valor?
- Acima de tudo, sinto-me privilegiado por ter tido a oportunidade de mostrar isso mesmo e também muito contente por me ter conseguido mostrar ao mais alto nível. No nosso campeonato não há nenhum jogo com mais importância e mediatismo do que a final. Foi o melhor palco para ter desbloqueado a decisão das grandes penalidades e conseguirmos ganhar o título.
Agora, como perspetiva o futuro?
-Tenho contrato com o Torreense por mais um ano e o meu desejo é continuar e ajudar a equipa na II Liga, mas agora tenho um mês de férias e quero é descansar.
Da experiência no Mundial sub-20 à admiração por Rui Patrício
Em 2015, a Nova Zelândia foi o palco do Mundial sub-20, prova em que Guilherme Oliveira participou e que recorda como "uma experiência inigualável".
"Representar a Seleção Nacional é o pináculo para qualquer jogador. O Mundial sub-20 foi uma experiência sem igual, acho que é capaz de ter sido a melhor competição em que já estive", partilhou, frisando que tem como objetivo "voltar a ser chamado à Seleção".
A passagem pelo Sporting permitiu ao guarda-redes ver de perto o crescimento de Rui Patrício, a maior referência que tem. "Na altura em que estava no Sporting, foi alguém que tentei sempre replicar. Foi a figura máxima da formação do Sporting como guarda-redes, passou pelos escalões todos e conseguiu chegar à equipa principal e à Seleção. É alguém que admiro muito", rematou.