Rui Costa manifestou durante a campanha eleitoral que conta com o administrador executivo, mas não incluiu no seu discurso o diretor financeiro do grupo Benfica
Corpo do artigo
Conquistado o poder pela via do voto, com resultados esmagadores - foi o presidente de um clube português a ter mais votantes -, Rui Costa vai meter mãos à obra e nos seus planos futuros está a reformulação de quadros, sobretudo, na SAD encarnada, na qual se perspetivam duas baixas.
De saída, apurou O JOGO, estarão Domingos Soares de Oliveira e Miguel Moreira, por razões diferentes, faltando apenas ser definido o prazo para que o processo seja concluído.
Luís Mendes, vice-presidente e novo braço direito de Rui Costa na Direção, e Jaime Antunes, outro "vice" mas que transita do elenco anterior, são dois dos candidatos a entrar no conselho de administração da SAD, numa remodelação que deverá ser abordada em breve pelo novo elenco diretivo e que depende, sobretudo, dos prazos de saída que serão definidos.
Na prática, Soares de Oliveira poderá abandonar o cargo de administrador executivo pelo próprio pé, enquanto Miguel Moreira, diretor financeiro do grupo Benfica, poderá ser afastado.
Menos poderes e algum atrito a nível interno
Contratado em 2004, por convite de Luís Filipe Vieira, Soares de Oliveira rapidamente ganhou protagonismo a nível interno pelo planeamento financeiro que permitiu ao Benfica dar um salto importante para reequilibrar as suas contas. Ganhou essa dimensão e, atualmente, o sentido de alguns dirigentes aponta para a necessidade de um travão, do corte de algumas competências e sua distribuição pelos elementos eleitos, o que funciona como pressão extra para que seja viabilizada a sua saída da estrutura. Internamente, tem tido períodos de choque com alguns dirigentes, sobretudo com Jaime Antunes.
A isto soma-se o desgaste dos processos jurídicos que caíram em cima do Benfica e do próprio Soares de Oliveira, que é arguido no processo Saco Azul, que investiga suspeitas de pagamentos ilegais de serviços informáticos.
Ao cansaço juntam-se convites, que o fazem abrir a porta da saída, apesar de Rui Costa ter dito publicamente, e no seio do clube, que conta com ele. O CEO da SAD vê este momento como uma janela, sabendo que se for implicado em outros casos terá o seu espaço profissional muito reduzido.
Segundo apurámos, em cima da mesa estará sempre um período de transição, um intervalo temporal que permita a passagem das pastas que tem a seu cargo, ele que conhece como ninguém com que linhas financeiras se cose a SAD.
As dúvidas em torno de um Cartão Vermelho
Contratado em 2007, Miguel Moreira subiu no clube até Luís Filipe Vieira lhe confiar o cargo de diretor financeiro, o Chief Financial Officer do grupo Benfica, tendo este ano assumido a função de vogal no conselho de administração da SAD, ele que também é o elo de ligação com a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.
Com responsabilidades alargadas ao nível das finanças, recursos humanos e área legal, o número 3 da SAD é também arguido no processo Saco Azul, com Soares de Oliveira e Luís Filipe Vieira, em que o Benfica é acusado de ter desviado 1,4 milhões de euros para a conta de Miguel Moreira, acusado de fraude fiscal.
Recentemente, no decurso das investigações do processo Cartão Vermelho, que levou à detenção de Luís Filipe Vieira, de quem é muito próximo, Miguel Moreira viu o seu gabinete na Luz vasculhado e a sua caixa de correio eletrónico copiada para posterior análise. Não foi constituído arguido, mas na Luz existe a leitura de que a continuidade do CFO constitua um risco jurídico para a SAD e seus dirigentes, pelo que a sua saída está já em marcha.
Aliás, durante a campanha eleitoral, e questionado sobre os dois administradores atrás referidos, Rui Costa limitou-se a falar de Soares de Oliveira, anunciando que conta com ele, e nada disse sobre o diretor financeiro.
Novos pelouros na próxima semana
Estes dois temas estarão no topo da lista das decisões que Rui Costa será chamado a abordar, algo que poderá acontecer já na próxima semana, altura em que está prevista a reunião de Direção. Esse encontro servirá também para serem discutidos e decididos os pelouros que cada vice-presidente terá durante o mandato de quatro anos.
Luís Mendes é uma das novidades, tal como Manuel Brito e José Gandarez, mantendo-se no grupo Jaime Antunes, Fernando Tavares, Almeida Lima, Sílvio Cervan e Rui do Passo.
Presidente escapa ao tema
Presente na cerimónia de homenagem a Ângelo Martins, antiga glória do Benfica que faleceu a 11 de outubro de 2020, Rui Costa optou por fugir à questão sobre o futuro de Domingos Soares Oliveira. Questionado sobre se teria convencido o responsável a continuar, o 34.º presidente das águias terminou a breve conversa com os jornalistas sem responder, isto depois de ter abordado os primeiros dias como líder do Benfica.
"Têm corrido bem. Têm sido primeiras horas de muito trabalho, mas estão a correr bem", afirmou, salientando, contudo, que esse é um cenário ao qual já se habituou, precisamente a partir da detenção de Luís Filipe Vieira: "Mas no fundo desde o dia 9 de julho que isso não se altera muito, porque já estava a fazer essas funções."
Eleito com 84,48 por cento dos votos - e convencendo os sócios nos diversos escalões, quer com um voto, cinco, 20 ou 50 -, Rui Costa disse falar "todos os dias com Jorge Jesus", procurando afinar a estratégia do clube.
Depois de na véspera ter assistido aos jogos de voleibol e de futsal, ambos com triunfos do Benfica, Rui Costa esteve ontem na Igreja de São João de Brito, em Lisboa, para homenagear Ângelo Martins, que não esquece. "Estou aqui enquanto presidente do Benfica, por alguém que foi bicampeão europeu e um homem da casa, e enquanto Rui Costa, pois foi meu treinador e não podia não estar. Era um homem com uma raça tremenda, incutia isso em nós. Era um grande nome do clube, com um historial fantástico e foi meu treinador."