Rui Fonte, na primeira entrevista depois de ter deixado o Braga: "Foi difícil deixar tudo para trás"
No momento da despedida, Rui Fonte elogiou as ideias de Abel Ferreira e a qualidade dos avançados que ficaram no plantel. Ficou ainda um aviso para os adeptos: o sucesso do clube passa por eles
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Duas épocas, 70 jogos e 25 golos depois, Rui Fonte despediu-se em lágrimas do Braga, de onde saiu capitão. Numa longa conversa telefónica, o avançado fez o balanço dos últimos dois anos e projetou o futuro de um clube que guarda no "coração".
Marcou ao Portimonense e, dois dias depois, estava a assinar pelo Fulham...
-Foi tudo muito rápido. Tinham-me falado por alto dessa possibilidade, mas de um momento para o outro chegou-se a acordo. Num fim de semana estava a jogar pelo Braga, no seguinte já estava a representar o Fulham.
Ouvi dizer que houve choradeira no balneário.
-Foi difícil. Como é que posso explicar isto [pausa]... Aconteceu tudo muito rapidamente e não tive tempo para me preparar. Apesar de terem sido só dois anos em Braga, foram muito intensos. Foi difícil aguentar a despedida... A forma como fui recebido, a conquista da Taça de Portugal, a época difícil que se seguiu, ter sido nomeado capitão... Custou-me deixar tudo para trás.
Houve algumas palavras que o tivessem marcado mais na despedida?
-Acima de tudo, as que foram ditas pelos meus colegas e pelo míster. Seria sempre complicado partir, mas a verdade é que, depois de ouvir algumas coisas, ainda ficou mais difícil. O importante é que deixei muitos amigos em Braga.
Que opinião tem sobre o arranque de época?
-Está a ser criada uma ideia de jogo e há sempre algumas situações que demoram mais tempo a assimilar. Também sei que é importante construir essas ideias em cima de vitórias e, apesar de tudo, é isso que está a acontecer. O Braga perdeu apenas com o FC Porto e o Benfica e, apesar de ter a obrigação de fazer melhor, toda a gente sabe que são jogos sempre difíceis. É preciso dar tempo a esta equipa para as ideias do míster começarem a fluir.
Acha que os adeptos vão ter essa paciência?
-Os adeptos têm sempre mais dificuldades em entender as circunstâncias. É normal, eles querem é vitórias. Se calhar, o clube só vai colher os frutos do que está a plantar agora daqui a algum tempo e só nessa altura é que eles vão perceber o que está a ser construído. Estou a dizer isto, mas eles têm estado sempre ao lado da equipa. Aliás, é fundamental que continuem assim, porque isso passa para os jogadores, que se sentem mais confiantes. Está aí o segredo para o sucesso do clube nesta época.
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Apesar disso, o discurso de Salvador tem sido bastante ambicioso. Isso não pode criar falsas expectativas?
-A pressão dos adeptos vai ser sempre a mesma, independentemente do que se disser. Claro que, para um adepto, é difícil olhar para o quadro todo: há um treinador novo, uma ideia de jogo nova e ainda muitos jogadores jovens. Apesar disso, o clube tem passado, e bem, essa tal mensagem ambiciosa, até porque estão criadas as bases para um futuro promissor.
Mas fala-se na vontade de chegar ao título e depois vende-se o capitão e um dos jogadores mais experientes da equipa (Pedro Santos). Isso não é um contrassenso?
-Pode ser, mas foram as circunstâncias que o ditaram. Eu não estava a contar sair, enquanto o Pedro [Santos] tinha algumas expectativas. Posso falar do meu caso: foi uma boa oportunidade para o clube fazer um bom encaixe financeiro. Para além disso, o Braga tem muitas e boas soluções para a minha posição: o Paulinho entrou e tem estado muito bem, o Dyego marcou um golo e fez uma assistência na Liga Europa, o Hassan e o Stojiljkovic também estão a jogar... E ainda há o Wilson, que também pode jogar na frente. A minha posição está bem preenchida e isso também é uma das imagens de marca do clube: tem sempre soluções para preencher as saídas.
Tendo em conta o quadro geral, acha possível lutar pelo titulo já este ano?
-Vai ser difícil, não só este ano, mas em todos. Há diferenças para os grandes e para o Braga ser campeão terá de fazer uma grande época e esperar por alguns deslizes dos seus principais adversários. Apesar disso, o Braga está a construir uma grande equipa para que esse sonho se torne realidade num futuro próximo.