Rui Barros recorda os treinadores do penta do FC Porto: "Era de cair para o lado"
Rui Barros, antigo avançado do FC Porto e atual treinador da equipa B portista, recorda alguns momentos com os três treinadores do penta
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>> Sobre Bobby Robson:
"Presidente pôs as mãos no fogo"
"Era um homem único, admirado por todos. O plantel tinha 24 ou 25 jogadores e todos o adoravam, mesmo aqueles que não jogavam. Pela comunicação dele, pela sinceridade, pelo respeito que tinha por todos. No final dos jogos dizia o que tinha a dizer, olhos nos olhos. Mas mesmo àqueles a quem apontava alguma coisa tinha sempre uma palavra amiga. Quando regressei ao FC Porto, proveniente do Marselha e depois de seis anos no estrangeiro, se calhar, aos 29 anos, já era um jogador velho para muitos. Bobby Robson disse ao presidente que eu já tinha feito o meu percurso, que se calhar não ia acrescentar nada, que financeiramente já estava estabilizado, que era só mais um, porque não ia ter vontade de ganhar. O presidente disse-lhe que punha as mãos no fogo por mim. Depois desse episódio, foi sempre um homem fantástico. Joguei sempre. Tenho uma boa recordação dele".
>> Sobre António Oliveira
"Deixou-me fora do Europeu"
"Era o mestre do discurso. Cada jogo era como se fosse o último da nossa vida. Tínhamos de ter paixão pelo jogo e nós levávamos aquele espírito para dentro de campo. Era um espírito de luta, de sacrifício, éramos uns dragões autênticos dentro do campo. Tinha um discurso fantástico. Quando ele era selecionador, eu era sempre convocado e fiz seis ou sete jogos de apuramento para o Europeu de 1996, mas para meu espanto não fui chamado para a fase final. Fiquei desanimado e foi das piores notícias que recebi, mas tendo em conta o meu feitio, não disse nada. Por incrível que pareça, imaginem que eu tinha falado mal dele... No ano seguinte quem é o meu treinador no FC Porto? António Oliveira. Depois falámos e ele disse que, como iam muitos jogadores do FC Porto, mas também porque eu já tinha 30 anos, fiquei de fora. A verdade é que, nos dois anos fantásticos com ele, fui quase sempre titular".
>> Sobre Fernando Santos
"Acabávamos o treino rotos"
"Entrou numa fase boa, com a responsabilidade de conseguir o penta, mas ele, sempre muito crente, adaptou-se rapidamente ao FC Porto e aos jogadores. Em termos de treino, a exigência física era enorme. Todos comentávamos que foi o treinador que nos custou mais no início da época, porque o trabalho físico era violento. Fizemos a pré-época em Viseu, com quase 40 graus, e treinávamos no campo de golfe. Era de cair para o lado. Acabávamos os treinos rotos e quase nem conseguíamos levantar as mãos para jantar. Gostei muito de trabalhar com ele, pela sinceridade dele, pelo carisma que tinha e pela amizade que tinha pelos jogadores. Ele tinha aquela cara fechada, com aquele ar sério, sisudo, e o Paulinho Santos dizia: "Ó míster, você chega aqui e parece que a sua esposa o pôs fora da porta; dê um sorriso, ria". Começávamos todos a rir e ele levava aquilo na brincadeira. Era um homem fantástico".