Rúben Vinagre "arrisca muito", mas tem "qualidade técnica para superar qualquer jogador"
Começou a época como titular, substituindo Nuno Mendes, em trânsito para o PSG. Porém, no último mês e meio só fez parte do onze em duas ocasiões. "Tem força mental para voltar", afirma o seu ex-técnico
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"A nível mental, o Rúben Vinagre tem capacidade para voltar ao melhor nível", assim começa a conversa com O JOGO Rui Pedro Silva, treinador que orientou o jogador de 22 anos durante quatro épocas no Wolverhampton, clube onde era braço-direito de Nuno Espírito Santo, isto numa altura em que o ala canhoto vive um momento de menor fulgor no Sporting.
O internacional sub-21, recorde-se, foi titular na Taça da Liga e na Taça de Portugal, as duas aparições no onze no último mês e meio, depois de ter sido opção inicial em seis dos primeiros sete jogos do campeonato e no arranque da Liga dos Campeões, no copioso 1-5 contra o Ajax.
Rúben Amorim categorizou Matheus Reis - aposta nos desafios de maior grau de dificuldade - como "consistente" e tem ainda utilizado Nuno Santos na ala esquerda, relegando frequentemente para a banco Vinagre, jogador que disse estar a "construir-se."
"O Rúben é potente, é um grande talento, mas muitas vezes, nós, como treinadores, não queremos que ele arrisque tanto. Ele arrisca muito porque sabe que consegue sair com vantagem no drible. É assim que interpreto as palavras do Amorim e, no alto nível, tudo vem com a maturidade. Isto dá-se com o jogo, porque os erros nos treinos não prejudicam tanto", analisa Rui Pedro Silva ao nosso jornal, confidenciando que quando o resgatou, ainda júnior, ao Mónaco já havia a intenção de fazer uma adaptação a lateral de um jogador que se destacara na formação como extremo.
"Utilizávamos o esquema tático com cinco defesas e tirávamos vantagem com ele porque tem grandes argumentos ofensivos. Já tínhamos intenção de o usar ali. Penso que é um jogador com as características ideais para esse esquema e, claro, que realizámos, na metodologia de treino, alguns exercícios individuais para o preparar."
Assim, o técnico que foi adjunto de Nuno Espírito Santo durante nove anos acredita que o jovem que relançou a carreira no Famalicão em 2021, efetuando 20 jogos como titular no Minho, tem capacidade para agarrar a titularidade no Sporting e explodir em termos exibicionais: "Espero que ele saiba balancear essa questão do potencial que tem a subir no terreno. Quando o Rúben Vinagre tomar a melhor decisão em campo, vai ser um jogador de excelência. É potente como poucos e, como disse, tem muitos argumentos ofensivos. Além disso, é jovem e até saiu muito novo de Portugal."
Rúben Vinagre não começou a temporada a titular porque na Supertaça foi Nuno Mendes o eleito, ele que depois rumou ao PSG num negócio que renderá ao Sporting mais 40 milhões de euros depois dos 7 da taxa de empréstimo acordada para 2021/22.
Cedido pelos Wolves, o ala ex-Famalicão custará dez milhões de euros aos leões, valor de 50 por cento do passe numa cláusula de compra obrigatória mediante jogos realizados. Somou duas assistências nesta temporada, estando apenas a uma do que alcançou no Minho.
Elogiado pela Imprensa inglesa quando despontou, ainda com 19 anos, na equipa principal do Wolverhampton, o ala procura uma fase de maior confiança, ainda que seja alvo de comparações naturais com o anterior titular da posição.
"Do pouco que acompanhei o Nuno Mendes, noto que ele era mais robusto. Isso faz diferença porque é importante nas bolas paradas também. Temos de ponderar, enquanto treinadores, se queremos um jogador mais ofensivo ou defensivo. Nem podemos falar muito nas idades, porque o Nuno é mais novo, mas parece-me que já era mais completo. Ainda assim, o Rúben tem qualidade técnica e individual para superar qualquer jogador", termina Rui Pedro Silva, elogiando o ex-pupilo.
Canhoto tem direito à comparação com o diferenciado João Cancelo
Transformar um antigo extremo num lateral não é fácil, mas tem sido recorrente em Portugal. O segredo está na cabeça do atleta.
"Brincava com o Vinagre, dizendo-lhe que ele iria acabar a carreira como número 10 pela qualidade que tem. Consegue desbloquear jogos, mas é preciso mudar o chip, pois pedimos a força ofensiva e defensiva", explica Rui Pedro Silva, lembrando João Cancelo, lateral do Man. City com quem trabalhou no Valência: "Tinha um enorme talento, capacidades ofensivas e um 1x1 diferenciado. Faltava-lhe decidir melhor e ter o tal chip defensivo. Cresceu tanto nesse aspecto. E beneficia em equipas que tenham a bola."
Explosão nos Wolves
Rúben Vinagre fez a formação como extremo e esteve quatro épocas no Sporting. Rumou ao Mónaco e depois saltou para Inglaterra. Nuno Espírito Santo recrutou-o para ala nos Wolves e Vinagre teve 17 jogos na primeira temporada, a maioria no segundo escalão, mas não tremeu quando subiu de divisão. Realizou 53 jogos nos dois anos seguintes e depois de empréstimo fugaz no Olympiacos relançou-se no Famalicão, onde foi sempre titular na época passada.