Dono de características únicas no plantel para a posição 6, o jogador é uma garantia de agressividade e força física na batalha pelo meio-campo, "abafando" os mais diretos concorrentes ao nível dos números.
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A motivação sustentada pela liderança e pela diferença pontual em relação ao Benfica é uma arma de peso para o Sporting que, contudo, arrisca-se a perder um autêntico tanque de combate para a batalha do dérbi.
O quinto cartão amarelo na I Liga visto frente ao Boavista afasta João Palhinha do duelo da próxima segunda-feira e, enquanto não se conhece a sentença relativa ao pedido de despenalização apresentado pelos leões, Rúben Amorim vai dar voltas à cabeça para contornar uma baixa que atrofia o músculo do líder do campeonato.
Recuperado para as contas do treinador após o encerramento do período de transferências de verão, João Palhinha tornou-se uma peça indiscutível do 3x4x3, sendo o mais direto responsável por equilibrar a equipa e, ao mesmo tempo, dotá-la de níveis de agressividade nos duelos.
Dono de características únicas no plantel para cumprir a supracitada missão, o camisola 6 tem a coroa de rei do duelos e das recuperações de bola, com os mais diretos concorrentes a ficarem a léguas da fibra demonstrada pelo colega.
Nas contas do campeonato, João Palhinha lidera, entre os quatro médios à disposição de Amorim, os rankings de duelos defensivos ganhos, de duelos de bola livre ganhos e de duelos aéreos ganhos, este último com uma larga diferença para João Mário: 67,7 % contra 34,6% (ver infografia). Os números demonstram a supremacia física do camisola 6 em relação aos colegas, mas também refletem uma vantagem ao nível do posicionamento e de capacidade de "ferir" o adversário em terrenos adiantados ilustrada pelo número de interceções (4,57 por jogo contra as 3,82 de Matheus Nunes) e de recuperações de bola no meio-campo adversário (9,07 por jogo contra as 5,54 de João Mário).
"Talento único"
Responsável pela afirmação de João Palhinha no Belenenses, em 2016/2017, Quim Machado garantiu a O JOGO que o Sporting vai sentir bastante a ausência de um "talento único em Portugal". "Não vou dizer que é um jogador perfeito, porque a perfeição é algo difícil de atingir. Mas é um jogador que ocupa aquele espaço como poucos em Portugal graças à força física e capacidade de combate. É importante ter uma barreira à frente do último reduto defensivo e, nesse aspeto, o Sporting não tem mais ninguém com essas qualidades", afirmou o treinador. Este também revelou a forma como trabalhou Palhinha nos azuis. "Ele costumava seguir muito a bola e deixava-se arrastar da posição. Falei com ele e acabámos por retificar, focando o posicionamento no adversário e não tanto na bola. Soube ouvir com humildade e teve uma grande evolução nesse aspeto", frisou.
Memórias
Raspanete de Jesus em pleno Dragão
Resgatado ao Belenenses pelo Sporting após uma primeira metade de época de grande nível, João Palhinha foi uma das surpresas do onze de Jorge Jesus na visita ao FC Porto, em 2016/2017. Estreante absoluto em clássicos, o médio esteve aquém das expetativas do técnico e arcou com as culpas pela derrota (1-2). "Palhinha não levou o guião certo para se enquadrar com o que estava a acontecer. Perdeu-se durante meia-hora e isso foi fatal para nós", disse JJ.
O cabeceamento que apagou o "trauma"
Pelo Sporting, o médio ainda não sentiu o gostinho de um dérbi lisboeta, mas, com a camisola de outros clubes, já enfrentou o Benfica em sete ocasiões. Os primeiros seis jogos resultaram em outras tantas derrotas e só ao sétimo conseguiu somar o primeiro triunfo sobre os encarnados. O momento foi ainda mais especial porque foi seu o golo, com um cabeceamento indefensável, que selou a vitória do Braga no Estádio da Luz, em 2019/2020.
Uma entrada em cena com clássico de gala
Ultrapassado um defeso atribulado, onde muito se falou da sua saída, Palhinha entrou nas contas de Rúben Amorim após o término do mercado e a tempo de se estrear em 2020/2021 na receção frente ao FC Porto. Titular ao lado de Matheus Nunes, que vinha a fazer dupla no miolo com Pote, o camisola 6 deu outros níveis de agressividade à equipa e recuperou a bola em terreno adiantado no início do lance que culminou no 2-2.
Acusação de "excesso de agressividade"
Indiscutível no 3x4x3 dos leões, Palhinha foi um dos protagonistas na vitória (2-1) sobre o FC Porto nas "meias" da Taça da Liga. O camisola 6 viu um amarelo aos 52" e acabou por sair aos 85" por troca com Daniel Bragança. No final, Sérgio Conceição queixou-se de um segundo amarelo por mostrar ao médio após um corte com o braço, críticas amplificadas pela comunicação dos dragões, que falou em "excesso de agressividade".