ENTREVISTA - Rui Vitória destaca as qualidades de Rúben Amorim, até ao nível da comunicação, e a ligação entre este e a administração do clube, como mola impulsionadora do sucesso do Sporting.
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A aventura na Arábia Saudita chegou ao fim. O trajeto foi positivo com conquistas importantes, mas a relação desgastou-se e Rui Vitória colocou um ponto final na ligação laboral com o Al Nassr, dedicando-se agora a cem por cento à família de quem esteve afastado durante muito tempo.
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Em entrevista a O JOGO, aborda os temas da atualidade com o distanciamento que considera desejável, admitindo desde logo ter o sonho de treinar uma equipa da Premier League e ser selecionador. Entre muitas outras questões, o treinador falou da Liga NOS, das expectativas das várias equipas, das estrelas deste campeonato, da formação dos clubes, dos árbitros e do tempo útil de jogo.
Regressa a Portugal depois de uma experiência na Arábia Saudita. O futebol português está diferente?
- A parte extra jogo tem-se mantido, o que se passa fora do campo, o menos agradável, o menos saudável. Falando do jogo e das equipas, tem havido o aparecimento de jovens jogadores, treinadores, como por exemplo o Rúben [Amorim], e nuances táticas que há dois três anos não se viam tanto. Houve alguma evolução na parte do jogo. No resto, vai-se mantendo a tónica com os grandes no topo. O Sporting com muito mérito está no primeiro lugar, a aproveitar aquilo que os outros dois vão perdendo. Temos um Braga também forte e um Paços de Ferreira a aproximar-se dos primeiros. Isso é uma agradável surpresa.
O Sporting surge esta época como principal candidato ao título. Quando começou a temporada em algum momento pensou que a classificação estaria como está nesta altura?
- Acima de tudo, parece-me que houve uma relação muito bem conseguida entre a administração e a parte técnica. Entre a Direção, os seus treinadores e jogadores porque se vê que há decisões de comum acordo e que transmitem uma segurança muito boa. Vê-se que há uma simbiose, uma relação muito estreita entre as questões mais administrativas e técnicas. Quando um jogador, por exemplo, passa para a equipa B, não há ruído... Estão em sintonia. Por outro lado, as expectativas não eram tão elevadas. O Sporting, com tantos anos de espera - este seria apenas mais um -, tirou alguma carga emocional aos jogadores. O recrutamento é um dos aspetos fundamentais para as equipas e aí estiveram muito bem. Toda a estabilidade que se foi criando, fruto da conjuntura e de não haver tanto ruído externo do estádio foi vantajoso. Não digo ruído externo com a equipa, mas em relação à Direção. O Sporting tem uma verdadeira equipa, muito bem construída, com uma postura em campo digna de registo. Há ambição e há a emergência de ter jogadores novos com uma enorme fome de vencer. Isto resultou num sério candidato ao título.
"O Rúben [Amorim] não mexe por mexer, dá uma noção de total confiança no seu trabalho"
Benfica e FC Porto terão desvalorizado este rival?
- Talvez. No passado, o Sporting formava grandes equipas mas não conseguia ganhar. Isso talvez tenha tido influência. Ninguém diria que o Sporting teria nesta altura dez pontos de avanço e tudo isso foi bem aproveitado pelo Rúben. Ele terá dito: "Ok, ninguém dá muito por nós, vamos trabalhar". Mas há também outro aspeto importante: estar envolvido apenas numa competição, isso foi fundamental. Foi determinante terem tempo para treinar, o que não aconteceu com os outros.
Esta ascensão do Rúben Amorim é uma surpresa para si?
- É sempre uma surpresa quando se vê aparecer um treinador assim. Quase sem provas dadas e a ter um desempenho destes. As vitórias e os ambientes favoráveis ajudam, mas estamos na presença de um treinador com qualidade. O Rúben também terá momentos desagradáveis, difíceis, mas tem muito valor. Não mexe por mexer, dá uma noção de total confiança no seu trabalho. A própria comunicação e mensagem que passa é muito direta e simplificada, de alguém identificado com o projeto e com a equipa.
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