Jason McAteer, 139 jogos pelo Liverpool, antigo mundialista pela República da Irlanda, analisa futuro do Liverpool sem Klopp, uma cultura apaixonante de oito anos, e fala abertamente da candidatura do técnico do Sporting, também no radar do West Ham
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O grande assédio a Rúben Amorim, que sopra de Inglaterra, do colosso Liverpool ao endinheirado e ambicioso West Ham, levou o técnico leonino a um voo relâmpago a terras de sua majestade, embora ainda se esteja longe da definição de um rumo, após o fim da temporada. Naturalmente, um desafio de máxima grandeza foi colocado no horizonte pela sucessão a Klopp e também por uma chegada ao universo de Anfield, onde a comunhão com o público é das experiências mais arrepiantes.
O nome do português, já conhecido por uma visão ofensiva e mente arejada, levanta curiosidade entre antigas figuras dos reds. As opiniões têm corrido pela imprensa inglesa, crescendo o fascínio pelo técnico do Sporting, na dimensão da sua juventude e dos resultados que tem apresentando, candidatando-se a olhos visto ao segundo título de campeão nacional.
"Quem vier não deve romper identidade"
O JOGO conseguiu falar com o antigo internacional irlandês Jason McAteer, 139 jogos pelo Liverpool entre 1995 e 1999. Primeiramente, o adeus a Klopp, um desfecho em digestão por qualquer adepto, já que o alemão foi monstruoso no sucesso e nos afetos criados.
"É algo emocionante, os oito anos com ele foram uma incrível montanha-russa. Mal chegou foi garantindo algumas finais. Infelizmente fomos derrotados na final da Liga Europa. O discurso que ele teve no final dessa final, eu tive o privilégio de estar lá, foi algo sensacional e único. Ele galvanizou todos e lançou as bases para o que todos sabemos. Ele abanou as expetativas de toda a gente e fez a equipa competir ao mais alto nível na Premier League e na Europa", elogia McAteer. O alemão deu um título e uma Liga dos Campeões mas ajudou a animar muitas lutas com o City.
"O impacto que teve nos jogadores e adeptos foi fenomenal, o título surgiu passado 30 anos, fez três finais da Liga dos Campeões. A sua partida trará uma atmosfera especial, seguramente, muitas lágrimas também. Klopp foi uma lufada de ar fresco pela forma que fez o Liverpool competir contra a riqueza do City e de outros grandes emblemas da Europa. O dinheiro que recebeu gastou com muita sabedoria, foi incomparável a outros que gastaram muito mais...Foi um grande recrutamento", atesta o irlandês, agora comentador, absolutamente tocado pelo reinado do antigo técnico do Dortmund.
"Incutiu um estilo rock'n'roll, alta pressão e alta intensidade. Eventualmente só um par de jogadores não atingiu o potencial que seria expetável. Foi tudo ao contrário de performances obsoletas, aborrecidas ou mundanas de outros clubes. Todos os técnicos procuram estratégias para vencer os jogos, mas nunca se viu uma visão tão apaixonante como a de Klopp. Por isso, foi amado pelos adeptos e pelos jogadores, que gostam de viver este tipo de futebol", observa o irlandês, pedindo competências inabaláveis a quem venha a agarrar o lugar no banco dos reds.
"O futuro fica nas mãos, mais que tudo, do sucessor. Terá que saber impor a sua filosofia e as suas ideias. Penso que o plantel não irá mudar muito e os jogadores darão também uma opinião sobre o tipo de técnico que consideram adequado. É preciso ter em atenção uma cultura de oito anos e acho que o Liverpool vai querer manter isso", admite, refletindo que "será necessário encontrar um equilíbrio entre um treinador que tenha critérios semelhantes, uma filosofia aproximada. Vai ser difícil", avisa, começando a descrever o perfil dos candidatos, onde mora Rúben Amorim. "Já não estamos naquela fase de escolher algum daqueles técnicos mais consagrados, que colocam a língua de fora, como Conte, Guardiola, Mourinho, para competir pelos cargos mais importantes", sustenta, elogioso para o técnico leonino.
"Não é mais assim! Há uma nova geração em ascensão. Rúben Amorim e Xabi Alonso são os grandes exemplos. Infelizmente não funcionou para Graham Potter mas existem outros técnicos preparados para o salto, mas que podem não estar disponíveis e Maio. Acho que da parte do clube, sendo expetativa dos jogadores também, a prioridade terá de ser um técnico que não rompa a identidade do Liverpool", alerta, dissecando pontos a favor e outros, nem tanto.
"Amorim está nos planos, é certo. Todos vimos como ele se saiu bem, o que fez no Sporting, perseguindo e roubando a hegemonia dos mais tradicionais. Trazer um título de volta para o Sporting foi uma grande conquista, sabendo qual era a realidade do clube antes dele chegar. E vai conseguir outro, isso é impressionante. Tem de ser um candidato, e é. Está na boca de todos que sabem que ele faz parte da lista do Liverpool. É um bom treinador e parece ser um apaixonado, preenche muitos requisitos que outros não cumprem", define, reconhecendo, porém, aspetos menos favoráveis. "A inexperiência na Premier League e talvez o facto de não ter competido por grandes decisões na Europa. Isso irá contra ele, mas é jovem, apaixonado, sabe qual o caminho para o sucesso e tem muitas valências interessantes. Veremos se é ele a conseguir o posto", afiança McAteer.