<strong>TEMA - </strong>A FPF pretende ver entre oito a nove equipas na I Liga com ambições europeias, mas isso implica mudar quadros competitivos e diminuir o número de jogos. Reduzir para 16 equipas ou reformular as Taças são hipóteses avançadas. O ponto vital do relatório elaborado pela McKinsey ainda não gera grande consenso.
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A mudança no futebol nacional está na forja, com FPF e Liga a defenderem objetivos comuns. No essencial, os clubes concordam (no que ao dinheiro diz respeito), mas reduzir o número de jogos dentro de portas pode ser difícil.
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Esta é uma das medidas apontadas no primeiro de quatro eixos de desenvolvimento identificados num relatório apresentado pela FPF, elaborado pela consultora McKinsey e coordenado por Tiago Craveiro, apontando formas para assegurar a sustentabilidade do futebol português, num contexto de globalização. "Não temos dúvidas de que o quadro competitivo tem de ser alterado urgentemente. Em virtude da realidade do futebol português e dos nossos orçamentos, é obrigatório reduzir o número de jogos internamente. E, das duas uma, ou reduzimos para 16 o número de equipas da I Liga ou acabamos com a Taça da Liga. Penso que não existe uma terceira hipótese", afirmou a O JOGO fonte oficial do Sporting.
"Somos frontalmente contra qualquer ideia de redução do número de equipas na I Liga"
O quadro competitivo nacional tem uma carga de 47 jogos (caso dos finalistas de todas as provas). São mais 11 jogos, por exemplo, que a Rússia, que agora passou a perseguidora do sexto lugar que Portugal ocupa no ranking da UEFA. A importância desta posição traduz-se em vagas para as provas europeias, sendo que Portugal passaria a ter três clubes (um nas qualificações) na Liga dos Campeões (mais um que o número da época atual). Ainda assim, a opinião dos leões não é consensual. "Somos frontalmente contra qualquer ideia de redução do número de equipas na I Liga. Aliás, esta ideia era uma entre muitas que visavam a redução do número de jogos. Não seria uma medida fundamental no próprio documento", esclareceu Diogo Braga, administrador do Boavista.
Dos clubes auscultados por O JOGO, Braga, Rio Ave, Moreirense e Paços de Ferreira comungam desta ideia. São unânimes também em posicionar-se contra o fim da Taça da Liga para baixar o número de jogos internos. "Não se trata de eliminar competições, mas de as repensar", apontou Paulo Menezes, presidente do Paços de Ferreira. "Na apresentação, houve ideias de reformulação dos quadros competitivos das Taças, como, por exemplo, a extinção das duas mãos nas meias-finais da Taça de Portugal", explicitou Diogo Braga.
Equipas portuguesas podem ter de jogar 47 partidas de provas nacionais. São mais 11 jogos do que as equipas russas
Para promover a competitividade exterior, na generalidade os clubes concordam com a proteção às equipas lusas em provas europeias. "As equipas que disputem as competições europeias devem ser sempre protegidas regulamentarmente", defendeu António Silva Campos, presidente do Rio Ave. "É fundamental, para o futuro do futebol português, o nosso ranking na UEFA. Todas as medidas que protejam as equipas que disputem as competições europeias são bem-vindas", reforçou a fonte sportinguista.
No segundo eixo, também não há unanimidade. O aumento do jogadores a emprestar é bem visto por todos, mas a imposição de limite máximo ao número de profissionais sob contrato em cada equipa... "Sim, considero aprovar essa imposição, mas apenas para o futebol profissional", adiantou António Silva Campos. "Por princípio, não. Nem no futebol profissional nem no de formação", contrapôs o dirigente do Boavista.
O terceiro eixo, do enquadramento regulatório e fiscal, gera consenso entre os clubes e prevê a criação de mecanismos de avaliação de investidores e rever a regulamentação dos seguros. O quarto mecanismo, de solidariedade entre clubes, contempla a centralização da negociação dos direitos de TV (ver texto ao lado). Para definir formas de ação, foram criados seis grupos de trabalho que, ainda sem datas concretas, terão de arrancar nos próximos tempos, visto que as suas conclusões devem ser apreciadas até fevereiro do próximo ano, tal como O JOGO noticiou ainda em outubro.
Todos os clubes da I Liga foram contactados pelo nosso jornal. FC Porto, Benfica, Famalicão, V. Guimarães, Tondela, Belenenses SAD, Portimonense e Aves não quiseram responder. Santa Clara, V. Setúbal, Gil Vicente e Marítimo não reagiram ao nosso contacto.
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Eixos de crescimento
- Estrutura da prova e calendário
É proposto diminuir os jogos internos (com redução de equipas da I Liga ou reestruturação da Taça da Liga ou de Portugal), rever a calendarização para proteger equipas nas provas europeias (top cinco nacional), reestruturar a II Liga (com menos equipas e potencialmente semiprofissional) e otimizar horários.
- Formação de jogadores
Aumentar o número de jogadores emprestados, de seis para dez (sendo que os quatro a mais devem ser formados no clube), com partilha de valor do passe do jogador com o clube recetor; aumentar o número de vagas para jogadores formados localmente.
- Enquadramento regulatório e fiscal
Rever enquadramento fiscal, rever a regulação dos seguros e implementar regulamentação para o investimento estrangeiro no futebol nacional.
- Mecanismos de solidariedade
Legislar para que a centralização da negociação dos direitos televisivos seja uma realidade a partir de 2028, definir regras de partilha de receita num contexto de crescimento do bolo global (garantindo proteção de receitas atuais de cada clube, sendo que nenhum deles poderá receber menos do que a verba de que já dispõe atualmente).
Contratos de televisão limitados a 2028
A gestão das receitas televisivas e a sua distribuição estão na mira dos organismos nacionais de futebol, muito embora o relatório da FPF seja ambíguo quanto à possibilidade de aumento das verbas. É que dos cerca de 190 milhões de receitas das operadoras, 170 são entregues aos clubes, restando pouco para a operação anual (produção) e eventuais lucros. Não tem muito por onde crescer cá dentro...
Boavista e Aves terminam os contratos com as operadoras na próxima época, tornando urgente a definição desta medida para limitar as renegociações dos contratos por parte dos clubes
A liga portuguesa é a única do top 15 europeu sem negociação centralizada de direitos de TV e o relatório aponta 2028 para esse objetivo. Contudo, é urgente tratar já deste dossiê, tendo em conta a finalização dos contratos dos clubes com as operadoras. No final da próxima época, Boavista e Aves terminam os seus contratos. Em 2022 acontece o mesmo com Portimonense e Tondela. Em 2026 vencem os contratos de Benfica, Braga, Belenenses SAD, Marítimo, V. Setúbal e Paços de Ferreira. FC Porto, Sporting, V. Guimarães e Rio Ave terminam contratos em 2028. O grupo reconheceu que é importante mandatar "um organismo central" - admitindo ser a Liga ou a FPF - para preparar as negociações.
Acresce a necessidade de regulamentar (na Liga) ou legislar (no Parlamento) para limitar negociações individualizadas dos clubes além de 2028.
20: os milhões que sobram entre as receitas das operadoras de TV e os seus compromissos contratuais com os clubes. Com estes 20 milhões, é preciso pagar a operação
Em setembro, Pedro Proença, presidente da Liga, foi claro na intenção de discutir os contratos televisivos. No relatório da FPF, este é um ponto dado como "consensual nos traços gerais" entre todos. "Em Inglaterra, são os clubes pior classificados a receberem as verbas mais altas. Os clubes poderosos têm outros rendimentos: têm mais sócios, vendem mais bilhetes e embolsam mais dinheiro decorrente do merchandising. Isso permite que os mais pequenos se tornem ligeiramente mais fortes para combater os grandes. Isto tornaria o campeonato português mais competitivo e, naturalmente, as nossas equipas que vão às competições europeias já passariam a ter melhores desempenhos", apontou a O JOGO Fernando Oliveira, presidente do Conselho Geral do Braga.
O relatório aponta que as equipas despromovidas devem receber apoio e que as equipas com melhor classificação devem ter direito a verbas maiores que as restantes.