Ramires, ex-Benfica, agradece a Abel e fala de depressão e ameaças: "Ultrapassam o limite"
Antigo médio das águias e do Chelsea terminou a carreira no Palmeiras em 2020
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Ramires, antigo internacional brasileiro que brilhou no Benfica e no Chelsea, terminou a carreira no Palmeiras de Abel Ferreira, em 2020, quando já apresentava um quadro de depressão.
"Já estava num estado de ansiedade e a entrar até em depressão. Depois, eu saí, procurei um psicólogo, comecei a conversar, a expor-me e a vida melhorou. O Abel é um tipo que me trouxe paz para a decisão que eu tomei de parar e encerrar a minha carreira. E deu-me a oportunidade de encerrar a carreira de maneira digna e 'bacana'. Ter encerrado a carreira foi a melhor coisa que fiz e não me arrependo, digo-o de coração", afirmou em entrevista ao Abre Aspas, do Globo Esporte.
Ramires retirou-se com 33 anos e explica que foi para passar tempo de qualidade com a família e para desfrutar do crescimento dos filhos: "As pessoas 'cobram' por não ter jogado mais tempo, mas não dava realmente. A cabeça não estava focada, o corpo reagia de uma forma diferente. Para tomar essa decisão, eu fiquei neste processo de treino, jogo, concentração, família... Coloquei tudo na balança, demorei um tempinho, mas quando tomei a decisão já estava consciente e convicto de que era o que eu queria fazer".
O antigo médio recorda: "Eu sempre fui muito competitivo. Quando eu vim para o Palmeiras, comecei a ter uma série de lesões. Na minha cabeça, eu estava a começar a ser um peso para o clube por não estar a jogar, por salário... O futebol para mim nunca foi só financeiro. Eu saí de Barra do Piraí, fui para Joinville, ganhava 80 reais e nunca fui mudando de clubes por dinheiro, mas sempre por oportunidades de maior visibilidade. O Abel perguntou-me se eu queria sair pela porta da frente ou de trás. Começou a dar-me oportunidades, mais minutos de jogo e eu comecei a recuperar a competitividade. Comentei que a minha cabeça já não estava virada para o futebol, aconteceram várias coisas na minha vida pessoal. Ainda assim, continuei um pouco mais e depois a conversa foi em família e com amigos mais próximos. Todos disseram que ainda tinha lenha para queimar, mas não tinha como. Não me surpreendeu por ter vindo do Abel. É um excelente treinador, uma pessoa extraordinária que eu pude conhecer no futebol. Chamou-me para integrar a equipa técnica. Mas ele viu como eu estava. As redes sociais acabam ultrapassando muito o limite. Você está a trabalhar e recebe ameaças. Contra mim, não tem problema, porque eu estava sempre rodeado de seguranças. A minha preocupação maior sempre foi a família. A minha mãe, os meus irmãos, os meus filhos... Eles conhecem a família toda do atleta e mandam nome dos filhos na rede social ameaçando. É quando você para e fica impotente, sem ter o que fazer. Você vai jogar em Porto Alegre e sofre ameaça envolvendo os seu filho em São Paulo. Eu parei e vi que não era o caminho que eu queria seguir."