Centrais Rúben e Ferro têm 22 anos e os 88 jogos juntos ajudam no arranque. Entre os calejados dragões, Pepe reina nos números, mas os outros sectores penalizam
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Benfica e FC Porto encontram-se no sábado cheios de certezas no eixo central. As duplas Rúben Dias-Ferro e Pepe-Marcano têm sido titulares pelas respetivas equipas e cumpriram os 90 minutos em todos os jogos oficiais da temporada. Para já, o Benfica segue sem golos sofridos e com três vitórias. Os centrais do FC Porto já viram o tombo com Gil Vicente e Krasnodar, com cinco golos sofridos. Desses, três aconteceram na ala esquerda, um de bola parada e o tento de Kraev, do Gil Vicente, foi o único com responsabilidade do eixo. O JOGO consultou Dito, ex-central de Benfica e FC Porto, que reparte a culpa, até porque Pepe tem-se assumido como um destaque na equipa: "Viram-se desposicionamentos e más abordagens dos centrais que são normais pelo pouco tempo de jogo juntos. O FC Porto tem muito a melhorar coletivamente quando está a defender."
"Viram-se desposicionamentos e más abordagens dos centrais que são normais pelo pouco tempo de jogo juntos. O FC Porto tem muito a melhorar coletivamente quando está a defender"
Nos dragões, a veterania é um posto: Pepe tem 36 anos, Marcano voltou este ano da Roma com 32. O português continua indiscutível no eixo da Seleção; o espanhol aproveitou as saídas de Militão (Real Madrid) e Felipe (At. Madrid). No meio de tantas caras novas, ter um central que já conhecia os cantos à casa foi uma alegria para Sérgio Conceição. Ainda assim, a época iniciou titubeante e nem o bom índice de duelos ganhos por jogo e principalmente em recuperações no meio-campo ofensivo (12,9 para Pepe, 6,3 para Marcano) têm permitido ao FC Porto passar incólume aos ataques dos adversários, enquanto do outro lado há uma dupla jovem bem rotinada. "É uma questão de entendimento. A dupla do FC Porto é mais experiente, mas as rotinas do Benfica são maiores. Já fizeram imensos jogos juntos, por juniores, equipa B e equipa A... Quando o Ferro assumiu a titularidade, viu-se a sua resposta. O Benfica tem centrais até daqui a dez anos. São jogadores que querem atacar o mundo. No FC Porto, o Pepe tem uma sobrecarga de jogos que ainda vem do Real Madrid. Afeta-lhe a disponibilidade mental. O Marcano pouco jogou na Roma e perdeu competitividade", afirma Dito, também treinador.
"É uma questão de entendimento. A dupla do FC Porto é mais experiente, mas as rotinas do Benfica são maiores. Já fizeram imensos jogos juntos, por juniores, equipa B e equipa A... Quando o Ferro assumiu a titularidade, viu-se a sua resposta"
O que mais espanta numa comparação direta entre as defesas é a idade: Rúben e Ferro têm 22 anos e não se via uma dupla tão jovem e portuguesa a atacar um clássico ante o dragão desde Paulo Madeira e Rui Bento (viria a assumir-se como médio), duo que alinhou nas Antas em novembro de 1991. Se juntarmos à equação que Ferro e Dias são formados no Seixal, os contornos tornam-se europeus: é raro nas principais ligas virem dois centrais (e tão jovens) da base. Desde os sub-15 até aos seniores, já vão em 88 jogos lado a lado. Para Dito, a maior velocidade até é uma falsa questão, já que considera que os mais maduros "sabem compensar" essa situação.
Dito, ex-jogador dos dois clubes, diz a O JOGO que o problema azul e branco é , sobretudo, coletivo e que a adaptação entre os centrais leva tempo. Dueto encarnado quer "atacar o mundo"
Bola é a melhor amiga de Pepe
Em 2007, Pepe marcou pelo FC Porto num 1-1 na Luz. Foi o único dos quatro centrais em análise a marcar ao rival. Volta à Luz, de onde só uma vez saiu com uma vitória, num dia em que até acabou expulso (2006). Pois bem, neste século o FC Porto costuma ter centrais mais goleadores. Sete fizeram o gosto ao pé ou à cabeça - Maicon é figura, pois decidiu o triunfo na Luz (3-2), fundamental para o título em 2011/12 -, enquanto dos encarnados só três centrais marcaram ao dragão, dois recentemente: Garay, em 2013/14, e Lisandro, no 1-1 de 2016/17, que evitou o desaire. Dito vê o FC Porto mais forte neste capítulo: "Têm vantagem porque, além de dois bons centrais nas alturas, ainda sobem à área o Danilo, Marega, Soares ou Zé Luís."
Além da ameaça nas bolas paradas, Pepe domina no capítulo ofensivo (é rei nos passes certos, passes longos certos e passes certos para a frente), o que mostra uma dependência dos dragões na fase de construção, principalmente pela direita. Marcano, por seu lado, arrisca pouco. No Benfica, a subida de Ferro potenciou a qualidade ofensiva. "Os passes interiores são fantásticos. Tem visão e qualidade técnica", reitera Dito. E se no FC Porto é Pepe a evidenciar-se, no Benfica há um equilíbrio na construção: os dois centrais saem a jogar. Apesar de Rúben ser tido como menos virtuoso, bate o colega em todos os tipos de passe e é uma solução nas aberturas longas. "É um líder e comanda as tropas", explica Dito.
Marcano estrerou-se e Ferro era sub-10
Quando Marcano se estreou em La Liga, Ferro era sub-10 na Oliveirense e Rúben Dias estava nos sub-11 no Estrela da Amadora. Nesse ano de 2007, Pepe até marcou o único golo ao Benfica enquanto dragão, ele que agora partilha o eixo no onze da Seleção com Rúben Dias - enquanto Ferro espreita uma chamada. Esta nova geração de centrais está a ter espaço para aparecer e agora é o FC Porto que pode bem seguir o exemplo encarnado. Diogo Leite e Diogo Queirós, de 20 anos, são apostas e já estão no plantel principal de Conceição. À semelhança de Ferro e Dias, a dupla joga desde os iniciados, passando por todos os escalões de formação. Ganharam juntos a Youth League e andaram pelo Mundial de sub-20. Ainda para mais, Queirós é destro e Leite é canhoto. À medida do futebol moderno.