A caminho do jogo 50 no Vitória, admitiu que gostaria de vir a ser treinador da formação.
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Por mais um par de anos, ainda se pode contar com a magia dele nos relvados, e depois vê-se a treinar miúdos. Prestes a chegar aos 50 jogos com a camisola do Vitória de Guimarães, na jornada com o Boavista, e a poucos meses de terminar contrato, Ricardo Quaresma, 38 anos, abordou a forma como encara o final da carreira. E
m entrevista ao programa Júlia, da SIC, o extremo assegurou que ainda se vê na pele de futebolista por uns anos, "mais dois, no mínimo", e admitiu que lhe custa a ideia de parar. "Obviamente, chega a um ponto em que já começas a sentir que está no momento de sair", mas isso "assusta". "É uma vida inteira a fazeres aquilo de que gostas", explicou, e deixou claro que esse prazer de jogar permanece intacto. "Ainda amo. Por isso é que me assusta pensar que está a chegar o momento de abandonar o que mais gosto de fazer, mas já estou a preparar-me para isso."
No horizonte tem a fundação que criou para ajudar famílias pobres e a luta contra o cancro, que lhe levou um irmão. "Tudo aquilo que passei e vi na minha infância e adolescência" precipitou o projeto: "O que puder fazer para lutar por esse tipo de causas, lá estarei." Quanto ao futebol, vê-se no papel de treinador. "É uma ideia. Se fosse há uns anos, dizia já que não. Ser treinador não é fácil, hoje em dia entendo isso. Antes, se calhar, não queria entender esse papel. Mas, gostava de ser treinador, principalmente, da formação. Depois, logo se via."
ara os primeiros passos nessa outra potencial carreira está seguro do que quer, a "formação" dos mais novos. "Ter essa paciência de ensiná-los" agrada-lhe, e não é apenas por estar naturalmente habilitado a lidar com putos rebeldes como ele próprio foi. "Às vezes, é mais fácil lidar com um rebelde do que com um santinho. De um rebelde já sabes o que esperas; de um santo... nunca sabes o que vai sair dali", comentou o internacional cigano, de ascendência angolana, rosto e voz da luta contra o racismo, que não esquece as dificuldades da infância numa casa que "não tinha água, luz, casa de banho." "Passei por isso tudo e sempre fui um miúdo feliz, porque nunca me faltou amor, não me faltou comida em casa." Faltou o dinheiro para tratar aquela tendência para "meter os pés para dentro", mas fintou-a e fez-se mágico no futebol: "Quando pegava na bola, era de trivela."