ENTREVISTA - Edinho é o protagonista de uma extensa entrevista na edição de domingo a O JOGO
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Depois de ter jogado na II Liga ao serviço do Gil Vicente em 2006/07, Edinho regressou ao segundo maior palco do futebol português através do Cova da Piedade. A família e o sonho de fazer história pelo piedenses falaram mais alto na hora da decisão, ficando para trás um convite para jogar no campeonato da Arábia Saudita.
O que encontrou no Cova da Piedade?
Foi um desafio e as pessoas quiseram-me muito, mas principalmente vim por ter começado a jogar no Almada. Joguei muitos dérbis contra o Cova da Piedade e acreditei que poderia ajudar esta equipa a fazer história. Não será de hoje para amanhã, pode não ser este ano, mas temos de trabalhar para isso. Era bom ter mais uma equipa desta zona na I Liga. Estou feliz aqui, com um grupo bom e, sinceramente, acredito que é possível subirmos de divisão. Para já, o grande desafio é a permanência e fugir dos últimos lugares o mais rápido possível.
Como é trabalhar com João Alves?
É muito bom. O míster João Alves é uma referência no mundo do futebol e ter esta oportunidade tem sido muito bom. É uma pessoa que gosta da proximidade com o jogador e isso cria intimidade, confiança. É um treinador à antiga, que gosta de ter os jogadores por perto e ser um pai. Está lá para dar um puxão de orelhas e para dar um elogio. Vai trazer-nos muitas alegrias.
Nesta fase da carreira, muitos jogadores pensam em ir para fora. Preferiu jogar em casa em vez de ir para o estrangeiro?
-Antes de vir para o Cova da Piedade tive a oportunidade de ir para a Arábia Saudita, mas fui pai há pouco tempo e preferi a estabilidade familiar. Não vou negar que era um objetivo, tal como a China, mas neste momento estou focado neste clube e neste projeto. Quando saiu o Raúl de Tomás, recebi umas 60 mensagens de adeptos do Benfica. Pediam-me para ir para lá, para ajudar a formar goleadores, e disseram que mesmo com 37 anos ainda posso ajudar muito. A verdade é que sempre marquei golos em equipas que não são do calibre do Benfica, logo não seria no Benfica que iria deixar de marcar.
"O Braga é o meu clube do coração, que eu adoro imenso"
O ponta de lança passou por vários clubes em Portugal e no estrangeiro, mas nenhum o marcou como o Braga e o V.Setúbal, embora por motivos diferentes. Regressar à Pedreira ou ao Bonfim é um dos sonhos de Edinho, que escolheria um dos dois clubes para colocar um ponto final na carreira.
Na minha idade, os outros começam a duvidar das minhas capacidades.
-O Braga é o meu clube do coração, que eu adoro imenso. Tenho uma paixão enorme pelo Braga e pelo Vitória de Setúbal, embora por razões distintas. O meu pai jogou em Setúbal, eu fui uma pessoa muito acarinhada lá e gosto muito da cidade, mas a verdade é que criei uma ligação muito grande quando estive em Braga. Cresci e amadureci lá, daí ter ganho esta paixão. Costumo dizer que foi o meu primeiro amor. Antes de ter namorada, encontrei o Braga.
Se pudesse escolher, onde terminaria a carreira?
No Braga ou no Vitória.
Avançado acredita que o Cova da Piedade pode sonhar com a I Liga, mas primeiro há que fugir à descida. João Alves, que se estreou na semana passada, "é uma referência, um treinador à antiga"
"Na minha idade, os outros começam a duvidar das minhas capacidades"
Edinho ainda resolve, aos 37 anos. O avançado saltou do banco no último jogo, com o Nacional, para dar três pontos ao Cova da Piedade e garante que está longe de querer colocar um ponto final na carreira. A idade é apenas um número, defende.
Como se sente neste momento, aos 37 anos?
Sinto-me grato, acima de tudo. Grato por ter a possibilidade de fazer aquilo que mais gosto, de ter saúde e estar com gente que me quer bem. Sempre fui confiante, sempre soube o que queria e para onde ia, mas digo que o Edinho de agora é mais visionário, vê mais além. Sei o meu valor e sei que tenho de trabalhar o dobro, nem que seja para demonstrar que a idade é apenas um número. Ainda tenho muito para dar e muito futebol pela frente.
Estes últimos golos foram uma resposta?
Na minha idade, os outros começam a duvidar das minhas capacidades. Marcar dois golos vem provar que o Edinho ainda está cá e tem algo a dizer. Tenho uma vontade tremenda, uma paixão enorme por aquilo que faço e um sonho muito grande.
Tem alguma meta traçada?
O meu maior objetivo é ser o melhor marcador da II Liga. É aquilo que tracei no início da época e vou persegui-lo. Estou habituado a metas altas, daí dizer que costumo ver mais além. Acredito que tudo é alcançável quando sabes o teu propósito e o teu porquê.
Começou como sénior em 2002, no Barreirense. O que queria nessa altura?
Já tinha decidido que queria estar no patamar mais alto. Com 15 anos fui treinar ao Atlético de Madrid e acabei por não ficar, mas percebi que era diferente e tinha de o aproveitar para ser alguém. Não me preocupei por regressar. Vi os meus colegas saírem para Benfica e Sporting na formação e voltar mais tarde. O meu pai sempre me disse que quando eu saísse, não voltaria.
Qual o jogo mais marcante?
A final da Taça de Portugal pela Académica, frente ao Sporting. Estávamos calmos e o nervosismo começou quando entrámos no balneário. O Pedro Emanuel disse-nos "hoje não vos vou dizer nada. Vão lá para dentro e divirtam-se". Os minutos finais foram dramáticos. Lembro-me de estar cheio de cãibras, mas não podia parar. Tinha sempre mais 20 metros e força para os correr. Sabíamos que aquele era o nosso momento de brilhar.
E o pior momento?
Perder a final da Taça da Liga pelo V. Setúbal, contra o Sporting. Merecíamos uma ponta de sorte no final. Sentia que ia sair no final da época e queria sair com um troféu. Ganhei a primeira taça, mas não participei na final.
Nunca jogou num dos três grandes. Sente que podia ter tido uma carreira diferente?
Sinto, mas estou muito grato por tudo aquilo que atingi e que continuarei a atingir. Acredito que tinha de dar as voltas que dei para conseguir o que consegui e isso deixa-me orgulhoso. Custou-me bastante, saiu-me da pele e um dos meus grandes orgulhos é ter chegado à Seleção sem passar por um dos grandes.
Depois de tantos jogos, já pensa em pendurar as botas?
Ainda não. A grande dúvida é se terei a mesma paixão por jogar aos 40 anos, que é quando eu sempre disse que queria terminar a carreira. O meu pai jogou até aos 39 e eu disse-lhe que iria até aos 40, mas se tiver motivação consigo mais. O dia em que custar levantar da cama, será o dia em que vou pendurar as botas.