Qualidade decaiu e VAR não credibiliza: integrantes do tribunal O JOGO criticam o CA
Erros dos árbitros têm explicações várias, da falta de poder de decisão à de experiência. Trio de ex-juízes muito crítico com o CA. A jornada 22, sobretudo os jogos de Benfica e FC Porto, trouxe lapsos de árbitros e VAR e muita polémica, para a qual tem contribuído, paradoxalmente, esta ferramenta. Soluções para melhorar não se vislumbram.
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Com o campeonato a entrar no seu derradeiro terço e a escoar-se cada vez mais depressa a areia na ampulheta das decisões, é natural o aumento do dramatismo em torno das decisões da arbitragem mas não o dos erros dos homens do apito. E que têm aumentado, provocando uma quebra na qualidade das arbitragens, segundo opinião consensual do painel de integrantes do Tribunal O JOGO.
"Constata-se menos sensibilidade ao jogo, pior interpretação", sublinha Jorge Coroado. José Leirós aponta os "demasiados erros, semanalmente, nos vários campeonatos" e Fortunato Azevedo acrescenta que "esta geração em termos de qualidade é das mais fracas das últimas décadas", nomeadamente na falta de "experiência e poder de decisão".
Não se vislumbram, porém, soluções para este défice identificado pelo trio de ex-árbitros, pois se Leirós é taxativo ao rotular de "fim de linha" do Conselho de Arbitragem da FPF, Coroado imputa precisamente à cúpula federativa a "responsabilidade para promover melhorias". Fortunato, por seu lado, pede um CA "independente dos clubes".
Os jogos de Benfica, em Vizela, e FC Porto, em casa com o Gil Vicente, puseram sob os holofotes da polémica o VAR, ferramenta nascida para beneficiar a verdade desportiva mas que os três concordam estar a contribuir para o aumento do ruído. Fortunato e Coroado qualificam de "inaceitável" a sucessão de erros e Leirós diz que há "descrédito".
Os integrantes do Tribunal O JOGO analisaram o momento da arbitragem portuguesa através de um mini-questionário, focado em temas prementes e muito discutidos na jornada da I Liga que ontem terminou.
1 - O nível da arbitragem em Portugal está pior e se sim porquê?
2 - O que pode fazer o Conselho de Arbitragem para melhorar?
3 - O VAR está a contribuir para aumentar a polémica em torno das arbitragens?
JORGE COROADO
1 - Pelos exemplos que semanalmente nos chegam há que convir que sim, está pior! Constata-se menor sensibilidade ao jogo, pior interpretação. Sem se saber porquê, depois de há cerca de quatro décadas o IFAB ter determinado a punição técnica e disciplinar somente do que é objetivo, instalou-se na arbitragem portuguesa o ajuizamento do subjetivo (intencionalidade).
2 - O CA não pode fazer nada, porquanto têm de fazer por ele. De facto, o estado atual da arbitragem deve-se, muito, à reconhecida e mais que evidente incompetência técnico/administrativa, falta de autoridade e manifesta incapacidade para gerir de quem o constitui. A responsabilidade para promover melhorias é de quem manda na FPF, embora duvidemos se realmente tem interesse na melhoria da capacidade técnica da arbitragem. Não basta dizer que a arbitragem está entregue aos árbitros. É preciso percecionar se a quem se entrega é competente, capaz e responsável.
3 -Naturalmente que sim. Se, enquanto árbitro no ativo, ficava com azia quando reconhecia os erros cometidos ou eventualmente cometidos, embora pudesse aceitá-los, hoje, com a tecnologia VAR, é inaceitável não se ver o que todo o mundo vê!
JOSÉ LEIRÓS
1 - Sim está pior. Houve e há demasiados erros semanalmente nos vários campeonatos. Esta geração de árbitros não tem conseguido ter eficiência porque a gestão da arbitragem a cargo de ex-árbitros eleitos e mandatados estagnou. Não tem conseguido uma melhoria contínua para alterar o rumo, modificar e melhorar os procedimentos formativos.
2 - Francamente já não há nada a fazer. É o fim de linha. Custa-me afirmar isto mas é um facto que o final de linha do Conselho de Arbitragem da FPF chegou e, como se diz em política, é a vida. Continuando em funções só resta ao CA cumprir o tempo que resta no mandato. Por isso não acho que seja possível a este CA alterar algo que não conseguiu fazer nos últimos anos.
3 - Sim. O VAR veio para ficar mas os erros aumentaram e a aferição dos intervenientes tem deixado uma imagem negativa. Existe um protocolo desordenado, uma falta de critério semanal que levou a esse descrédito. O VAR é um elemento primordial para corrigir erros que serão focos de polémica e injustiça. A discussão jamais pode ser o VAR.
FORTUNATO AZEVEDO
1 -Sim, está muito pior infelizmente. Esta geração em termos de qualidade é devidamente reconhecida por todos como das mais fracas das últimas décadas. Árbitros sem grande experiência, com falta de poder de decisão, ao ponto de hoje já ninguém confiar nos seus desempenhos. E o mais grave é que, cada vez mais, temos árbitros muito fortes para com os mais fracos e fracos com os mais fortes.
2 - Temos de ter um Conselho de Arbitragem independente dos clubes para, de uma vez por todas, que eles sejam rigorosos para com os árbitros. Responsabilizando-os pela sua falta de rigor no cumprimento do seu dever, que é cumprir e fazer cumprir as leis do jogo.
3 - Sim, de facto muito tem de ser alterado para dar mais rentabilidade da função do VAR em defesa da verdade desportiva. Não podemos fazer seleção de árbitros que foram desclassificados pois estes não credibilizam a função do VAR. É inaceitável que com tanta tecnologia sejam demasiados os lapsos cometidos.