Jogadores que ouviram José Mourinho garantir que o FC Porto seria campeão em 2003 explicam o efeito do discurso de Conceição.
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Catorze anos volvidos da histórica conferência de Imprensa em que José Mourinho deu, com uma palmada na mesa, a conquista do título como uma certeza, os adeptos do FC Porto viram, ouviram e leram Sérgio Conceição dizer com todas as letras que o clube vai ser campeão esta época. Fê-lo primeiro perante o grupo, apenas com as câmaras de televisão por perto a captar o momento, e depois publicamente. Uma mensagem forte do treinador portista, que é interpretada por quem viu Mourinho fazer o mesmo como uma forma de massajar o ego dos jogadores. "Isto não se pode entender como presunção; é crença, determinação e confiança", analisou Cândido Costa para O JOGO, numa opinião que também é partilhada por Derlei. "Um jogador fica sempre contente quando vê o treinador transmitir uma mensagem destas. Dá confiança para o futuro e aumenta a vontade de fazer", admite. "É motivador e um sinal de ambição que todo o grupo receberá com satisfação, ainda por cima sabendo que estão a atravessar um bom momento", acrescenta Tiago.
Depois do empate em Alvalade, Sérgio Conceição transmitiu a confiança no grupo
Os pontos de contacto entre esta temporada e a de 2002/03, de resto, são vários. A começar por um passado recente órfão de conquistas e terminando no carácter do treinador. "Quando o Mourinho chegou, as coisas não estavam bem. O FC Porto não ganhava há algum tempo com o Otávio Machado, mas, tal como este ano, havia coisas muito positivas e margem para progredir. O Mourinho sentiu que o grupo agarrou a liderança dele e a determinada altura achou que podia ser campeão. E acho que Sérgio acaba por estar a sentir o mesmo. Os jogadores têm estado do lado dele e há um grande espírito de entreajuda no FC Porto", sustenta Cândido Costa. "A forma como [Mourinho e Conceição] transmitem as ideias para o público são muito idênticas: são genuínos na hora de revelar as suas convicções", atira Tiago.
A revelação pública de uma convicção deste tipo, porém, acarreta alguns riscos. Principalmente se o desfecho do campeonato não for ao encontro das expectativas entretanto criadas pelos adeptos. "É impossível saber o dia de amanhã e que momentos estarão para vir, quer para o FC Porto quer para os adversários. Mas esta época nota-se uma equipa a jogar à Porto", afirma o antigo médio, que fez 35 jogos em 2003/04, apenas menos sete do que Derlei, que recusa a ideia de que a responsabilidade a partir de agora passou a ser maior. "O Sérgio [Conceição] só o disse porque conhece bem o plantel e sabe o que pode tirar dele. Além disso, os jogadores dos grandes clubes sabem desde o início que têm a obrigação de lutar pelo título", recorda o brasileiro, convencido de que "Jorge Jesus e Rui Vitória também dizem o mesmo". "Só ainda não o fizeram publicamente", acrescenta o antigo atacante.