O rescaldo da jornada de seleções aponta para um 2021/22 terrível, principalmente a abrir, no período que os técnicos consideram fundamental, mas também em janeiro. E o número pode aumentar...
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O treinador do FC Porto em 2021/22 - tudo aponta a que Sérgio Conceição renove e se mantenha no cargo - terá muitos problemas para gerir logo a abrir a temporada.
Ou melhor, ainda na pré-temporada, período decisivo na solidificação das ideias de uma equipa, até porque o resto da época, a julgar pela atual, tem raríssimas semanas limpas para se treinar e assimilar ideias com o tempo adequado.
As seleções e a sobreposição de grandes competições internacionais serão uma espécie de segundo vírus a combater. A julgar pelas últimas convocatórias, é muito provável que 14 dos atuais efetivos sejam chamados a representar os respetivos países, uns mais cedo, outros mais tarde, uns com provas mais longas, outros a poderem até jogar só um dia. Mas todos praticamente impedidos de gozar férias a partir de 19 de maio, data prevista para o último jogo oficial de 2020/21, e assim sendo, "obrigados" a pararem depois, numa fase em que o FC Porto pode e já deve estar a trabalhar. É evidente que alguns destes jogadores podem não transitar para a época 2021/22, mas também é verdade que a SAD pode contratar outros em iguais circunstâncias. Stephen Eustáquio, por exemplo. Vamos por partes.
Da lista que, em baixo, expomos, apenas Taremi não tem uma grande prova para jogar. Mas os jogos de qualificação da zona asiática para o Mundial 2022 têm sido sucessivamente adiados por causa da covid-19 e vão agora concentrar-se na primeira quinzena de julho. O portista é figura de proa no Irão e terá quatro desafios para fazer. Só dia 15 de junho poderá entrar de férias, um mês depois dos não internacionais. Os sub-21 são os outros que se "despacham" cedo. A correr mal para Portugal até podem ter apenas um jogo a 31 de maio. Se assim for, estarão todos à disposição no arranque dos trabalhos da nova época, ainda não agendado, mas seguramente no início de julho. Se Portugal for à final - e há talento para isso - então ficam a semana toda. Também pode não atrapalhar, mas já dependerá da vontade mostrada por cada um. Já os internacionais A, por Portugal ou outro país, sabem que jogarão pelo menos até ao final de junho. O Euro"2020 e a Copa América deviam ter-se jogado no ano passado, mas foram adiados e têm calendários muito semelhantes. Pior são a Gold Cup, ou Taça de Ouro, e os Jogos Olímpicos de Tóquio, que, hipoteticamente, colocam em risco Corona (Tata Martino, o selecionador mexicano, pensa levar a equipa mais forte) e Pepê e Evanilson, respetivamente. As duas provas mais tardias têm calendários que não só chocam com a fase mais importante da pré-época como podem bater nas pré-eliminatórias de acesso à Liga dos Campeões.
Se o campeonato terminasse agora, o FC Porto entraria diretamente na grande prova, mas uma eventual queda para o terceiro lugar obrigaria a esforços extra e duplicaria os problemas. Em todo o caso, Conceição sabe que vai receber jogadores a conta gotas, que arrisca a começar sem mais de metade do futuro plantel e que pode até só receber os últimos (Pepê e Evanilson) em cima da estreia no próximo campeonato. Mais um efeito secundário do coronavírus...
Rivais com muito menos problemas
Na competição interna, todos os grandes terão alguma coisa de que se queixar. Mas nem Benfica nem Sporting perspetivam dores de cabeça semelhantes. A julgar pelas últimas convocatórias [também foi a base utilizada no FC Porto], o Sporting poderá ter 10 jogadores de fora: Luís Maximiano, Daniel Bragança, Pedro Gonçalves, Tiago Tomás, Neto, Nuno Mendes, Palhinha, Porro, Coates e Plata. E o Benfica apenas oito: Gonçalo Ramos, Rafa, Otamendi, Everton, Darwin, Vertonghen, Seferovic e Pedrinho. É claro que há mais jogadores na expectativa (João Mário, Gonçalo Inácio ou Paulinho, no Sporting; Nuno Tavares e Pizzi, no Benfica), mas também da parte do FC Porto, como a peça do lado esquerdo documenta.
Mundial 2022 vai complicar a seguir
Longe está ainda o Mundial do Catar, em novembro de 2022, que só interrompe a a temporada 2022/23. Esse é um problema que os treinadores enfrentarão mais tarde, mas ao qual não escaparão. Tudo porque a "folga" a meio da temporada vai obrigar os calendários a apertar novamente e, quem sabe, até a terminar mais cedo a época 2021/22, a tal que vai começar da forma que descrevemos no início deste texto.
CAN pode provocar razia em janeiro
A planificação da próxima época estará condicionada não apenas no seu arranque como também a meio, em pleno menos de janeiro. A Taça de África das Nações (CAN) vai decorrer de 9 de janeiro a 6 de fevereiro de 2022, nos Camarões. E há alguns jogadores que são presença habitual na lista de convocados dos respetivos países, como são os casos de Nanu (Guiné Bissau), Zaidu (Nigéria) e Loum (Senegal). Os dois primeiros são até habituais titulares e só não serão convocados se acontecer alguma coisa de força maior. E há ainda Marega, que é um caso à parte. O avançado termina o contrato com o FC Porto no próximo dia 30 de junho, Pinto da Costa já garantiu que quer que o jogador prolongue o vínculo, mas ainda nada está garantido. Além disso, mesmo que renove, a presença do internacional maliano na prova africana não é dada como certa. Marega não vai à seleção desde o dia 8 de junho de 2019, altura em que disputou a última edição da CAN, ao que se sabe por opção.
Os casos de Nanu e Zaidu são particularmente relevantes, pois os azuis e brancos poderiam ficar desfalcados de dois dos quatro laterais da equipa. A planificação da temporada irá obrigar também a pensar nisso. A julgar pelo calendário desta época, e analisando o período de 9 de janeiro a 6 de fevereiro, os africanos que forem à prova arriscam-se a perder até 10 jogos.
A essa razia para os primeiros meses de 2022 escapou Mbemba, porque a RD Congo não se apurou.