"Possibilidade de eliminar o Sporting é 0,00001? Pronto, é a isso que nos vamos agarrar"
ENTREVISTA - Há um mundo de coisas bonitas à espera de Luís Pinto, o treinador do Leça, que aos 32 anos assegurou a entrada no livro de boas memórias do clube, por força da Taça de Portugal. Mas quer muito mais
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Há um jovem treinador que está a espantar o futebol nacional. Luís Pinto tem 32 anos, está à frente do Leça FC desde o início de uma época que começou por ser atribulada - quando arrancou só tinha sete jogadores (!) -, e foi fazendo o seu caminho. Mas há mais de dez anos que anda nesta vida - desde que no Boavista fez o estágio curricular na formação -, tem o mestrado pela Faculdade de Desporto do Porto, cidade onde nasceu, na Sé, mas Castelo de Paiva, terra dos pais, e Gondomar, onde cresceu, também lhe dizem muito.
Agora, Leça da Palmeira acolheu-o e ele não podia estar mais feliz. Perdeu-se um central, ganhou-se um treinador. Chegou ao Leça por indicação de Cláudio Borges, seu adjunto. Apresentou o seu projeto e o presidente do clube, António Pinho, e muito bem, nem pestanejou. Ora leiam, por favor.
Como é que surge a treinar tão jovem?
-Ganhei o gosto pelo treino. Era futebolista, o míster Leonardo Jardim convidou-me para ir para o Chaves, mas o Leixões não me deu os direitos de formação. Depois também tive a hipótese de ir para o Beira Mar, também com o míster Jardim. Aconteceu a mesma coisa, o Gondomar deu-me os direitos, o Leixões não. Não pude assinar um contrato profissional. Cortaram-me as pernas e comecei a ficar desapontado.
Foi aí que nasceu um treinador?
- Por aí, sim. Enquanto estudava, ainda joguei no Alpendorada e no Padroense, mas ao mesmo tempo começava a ganhar gosto pelo treino.
Se calhar era fraquinho como futebolista...
- Hoje posso dizer que era um grande jogador. Ninguém vê... (risos)
No Trofense foi onde começou a pensar numa carreira de treinador a sério?
- Sim. Recebi um convite do míster Porfírio Amorim para ser adjunto e achei que aquela era a minha grande possibilidade de continuar no futebol e de me tornar profissional. Foi uma boa opção. Sou muito feliz e gosto imenso do que faço.
Estudar, treinar, jogar... Isso não foi complicado?
-Foi um desafio tremendo, mas pelo menos consegui provar a mim mesmo que é possível conciliar o estudo e o futebol. No plantel do Leça há muitos estudantes e eu incentivo-os, dando o meu exemplo. Claro que por vezes é preferível deixar uma cadeira para trás e não prejudicar a carreira. É uma questão de gestão e de autodisciplina. Aqui temos jogadores já com cursos, licenciados com mestrados...
Isso também dá personalidade à equipa?
-Dá, claro. Atenção que não sou daqueles que pensa que uma pessoa para ter sucesso tem de ter um curso, longe disso, mas um curso pode ser uma mais-valia para a vida.
Qual foi o segredo para eliminar duas equipas da I Liga?
-Nos dias desses jogos foi tudo normal, fiz uma palestra de sete ou oito minutos não mais, vimos um vídeo sobre pontos fortes do adversário, uns quatro minutos, e mais nada. O segredo talvez tenha sido a forma como acreditámos. Nós temos uma grande responsabilidade - os adeptos do Leça apoiam-nos desde o primeiro jogo e devemos-lhe entrega, trabalho, dedicação. Há uma grande ligação entre nós e os adeptos. Temos que dar tudo por eles e foi isso que lhes disse. Respeitar este emblema que tem 110 anos, dar tudo por ele. Foi aí que ganhámos.
Sei que é muito cedo e você já está focado no próximo jogo com o Alvarenga. Mas tem o sonho de eliminar o Sporting?
-Claro que tenho esse sonho, tenho o sonho e tenho o objetivo. Se é difícil? Muito, é muito difícil, mas tenho esse sonho. Não pago nada por isso. Não sei entrar nos jogos para perder. Podemos levar 10-0, como podemos ganhar o jogo. Não é essa a minha preocupação - preocupo-me que os meus jogadores entrem no campo com vontade de ganhar. Há possibilidades? Há. É 0,00001? Pronto, é a isso que nos vamos agarrar. Nesta época, só o Ajax e o Dortmund é que ganharam ao Sporting Não temos responsabilidade nenhuma, a não ser a de quando entrarmos em campo darmos o nosso melhor pelo Leça.
Você é muito jovem. Daqui a dez anos vamos a estar a falar do treinador de uma grande equipa?
-Não sei, porque não faço futurologia. Tenho ambição, claro. Acredito na minha qualidade e competência, na qualidade e competência da minha equipa técnica. Evoluímos muito desde que iniciámos o nosso trajeto. Acredito que temos qualidade, mas não estou preocupado.