Pinto da Costa sobre Co Adriaanse: "Eu a ver que ficava de fora o Jorge Costa…"
Pinto da Costa, presidente do FC Porto, lembrou as passagens de Víctor Fernandez, José Couceiro, Víctor Fernandez e Jesualdo Ferreira pelos dragões na segunda parte do programa especial intitulado "Os Homens do Presidente", do Porto Canal
Corpo do artigo
A passagem de Víctor Fernandez: "Não é fracasso, um treinador que ganha uma Supertaça e uma Taça do Mundo [Intercontinental] não precisa ganhar mais nada. Por isso está no museu em destaque, entre os que venceram provas internacionais. Eu acho que ele era, no futebol, demasiado boa pessoa. E nós tivemos um problema disciplinar, dois dias antes de um jogo com o Braga, três jogadores que foram passar a noite a Vigo, fizeram uma direta e foram para o treino e quando entendi que tinham de ser suspenso, ele aceitou isso, mas depois pô-los em jogo. E perdemos por nítida incapacidade desses jogadores. Aí ele compreendeu que não tinha condições perante o grupo e resolvemos amigavelmente que ele saía. Para mim, o grande mérito e o que aprecio nele é que, passados dois ou três anos, eu completei 25 anos de presidente e não sabia o que estavam a preparar. Fizeram uma festa comemorativa no Palácio da Bolsa. Convidaram os treinadores antigos e o Fernández veio de propósito, de carro, com a sua mulher, para estar presente na minha festa e mostrar o apreço que tinha por mim e que eu, ainda hoje, retribuo."
Sobre José Couceiro: "Foi uma transição para acabar a época. Não teve sorte, também foi vítima de algumas arbitragens esquisitas, mas deixou no FC Porto um rasto de simpatia, porque além de ser profundo conhecedor de futebol, deixou grande impressão e amizade em todos nós, a começar por mim."
Sobre Co Adriaanse: ""Era muito boa pessoa. Tenho sempre umas ideias e ele estava no AZ Alkmaar, jogavam futebol espetacular. Tinha informações de que era um disciplinador e fui à Holanda, com o Antero, falar com ele. Era um pouco extravagante, mas no bom sentido. Praticamente nesse dia ele ficou de vir ao Porto, mas ficou assente que aceitava vir. Veio muito disciplinador."
15558304
O episódio com Co Adriaanse e Jorge Costa: "Recordo-me de um episódio em que estava a falar comigo e disse: "Vou jogar com três defesas." E eu: "Com três defesas? Mas nunca jogámos. Mas jogue com três, com dois ou sem defesas, tem é de ganhar!" E ele respondeu: "E vamos ganhar!" Nós tínhamos muitos defesas e, na véspera de dizer quem ficava, ele estava a fazer a equipa, dois jogadores para cada lugar, e disse-me que os três defesas iam ser o Bosingwa, o Pepe e o Pedro Emanuel. Eu a ver que ficava de fora o Jorge Costa... Mas isso era com ele, porque eu nunca me meti no trabalho dos treinadores. Eu, o Reinaldo e ele depois do último jantar, a fazer o plantel. Ele só queria dois por cada lugar e três guarda-redes. Eu cheguei ao fim e disse: "Ó míster, não está aqui o Jorge Costa." Ele respondeu: "O Jorge Costa não pode jogar neste sistema. No meu esquema não cabe. Presidente, o meu plantel é este. Se quiser pôr o Jorge Costa, ponha. E se ele for melhor do que outros, melhor. Mas ele não tem condições para jogar com três defesas, porque já não tem velocidade. Se estiver bem joga, se se portar como os outros..." O Reinaldo disse logo que tínhamos de comunicar ao Jorge, foi ao quarto dele e diz-lhe: "O míster quer falar contigo." E diz o Jorge Costa: "É natural, ele quer saber a minha opinião sobre algumas dúvidas que tenha..." [risos] O Reinaldo não sabia onde havia de se meter. E o míster, muito frontal, explica que ia jogar assim e assado, mas que o Jorge podia ficar. "Não conto contigo para esse sistema", disse ele. Por azar, no último jogo em que Co Adriaanse ensaiou os três defesas, o Jorge Costa deixou fugir um indivíduo, agarrou-o e foi expulso. "Não vou mudar o sistema só para ficar com algum jogador!" E de facto nós estranhámos, nós e os jogadores. Mas o que é certo é que ao fim de mês e meio, dois meses, aquilo parecia que estavam lá quatro ou cinco defesas. O meio-campo estava de tal forma adaptado que conseguimos vencer um campeonato em que nitidamente não éramos favoritos."
Sobre Jesualdo Ferreira: "Eu conhecia o Jesualdo, era admirador dele, embora não fosse o meu tipo de treinador. O meu estilo era mais Mourinho, Jesualdo era mais conservador, mas era um autêntico professor de futebol. Ficámos sem o Adriaanse a oito dias de começar o campeonato. Os treinadores possíveis já estavam colocados e o Jesualdo, que vinha do Braga, onde fez um grande trabalho, tinha ido para o Boavista. Falei com ele, que me disse imediatamente que desde que resolvesse o problema com o Boavista ele vinha. E veio. Foi o treinador que mais fazia evoluir os jogadores. O Hulk, por exemplo, não era o mesmo jogador três meses depois de chegar, graças ao trabalho que o Jesualdo fazia com um jogador. Era o Hulk, o Bosingwa, o Falcao... Ele passava horas com o Bosingwa e pô-lo a centrar como o Sérgio Conceição. Pôs o Hulk a jogar daquela forma fantástica, o Falcao como um autêntico matador, quando às vezes se perdia no meio-campo... Em termos de melhorar e otimizar jogadores, foi o melhor treinador que vi. Depois, talvez fosse um bocadinho conservadora, um pouco receoso, queria jogar pelo certo e faltava um bocadinho de audácia. Mas ganha três campeonatos e fica quatro anos, nunca nenhum tinha ficado tanto tempo. No terceiro ano falava-se que vinha o Jesus, mas ele ganha o campeonato e, depois de um treinador ganhar três campeonatos seguidos, não fazia sentido estar a trocar. Mantivemo-lo mais um ano."
15558468