Em mais um programa "ironias do destino", do Porto Canal, Pinto da Costa lembrou a construção do Estádio do Dragão e as dificuldades que enfrentou para ver a obra erguida.
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Nome Dragão para o estádio: "Havia várias hipóteses. Uns entendiam Estádio das Antas, outros achavam que devia ser Estádio FC Porto e houve quem defendesse que devia ter o meu nome, o que era um absurdo pôr o nome de quem fosse num estádio que é do FC Porto. Como éramos conhecidos pelos dragões foi iniciativa minha propor o nome de Dragão. Achavam que não ia pegar, que iam continuar a dizer que iam às Antas, mas a realidade e o tempo confirmaram que eu tinha razão. Fiquei feliz por ver aprovado esse nome porque o dragão está no símbolo da cidade que está no nosso emblema. Fazia todo o sentido."
Plano de Pormenor e guerra aberta com a Câmara e Riu Rio: "Não gosto de admitir que houve uma guerra com a Câmara porque é uma entidade que faz parte da cidade, como o FC Porto também é. Foi uma guerra do Rui Rio contra o FC Porto. Em 1999, quando Portugal conseguiu a organização do Euro'2004, eu tive alguma participação. Na altura, um dos grandes obreiros foi o engenheiro José Sócrates, o presidente Madaíl e eu envolvi-me um pouco a pedido deles. Já estava no meu pensamento construir um novo estádio, mas era mais pequeno e em terrenos anexos às Antas. Por proposta do dr. Fernando Gomes, na altura presidente da Câmara do Porto, fez-se este projeto."
Dificuldades: "Foi muito difícil porque estava tudo idealizado e concedido fantasticamente pelo arquiteto Manuel Salgado, uma autêntica obra prima que maravilha todos que cá vêm. Já depois da hora, nos descontos, o presidente da Câmara, Rui Rio, embargou as obras porque entendia que a parte comercial tinha de ser reduzida 75 por cento. Isso inviabilizava totalmente o projeto porque o estádio ia ser construído com fundos do FC Porto e uma pequena participação do Estado e um acordo comercial com o grupo Amorim. Deixou tudo em causa, retirar 75% da área comercial deixava de interessar aos promotores. Ficou tudo parado desde o dia 2 de março a 3 de abril. Chegou a pôr-se em causa o próprio Europeu porque era fundamental ter um estádio para 50 mil pessoas para a inauguração. Foi um escândalo internacional, o próprio presidente, o doutor Jorge Sampaio, intercedeu porque achava que isto era um absurdo."
Avanços: "Para mim era de tal forma absurdo que não tínhamos de tirar nada do projeto. Se o doutor Rui Rio queria dar cabo do projeto que desse, mas não ia fazer uma pequena obra quando pretendíamos fazer uma grande obra. O senhor Comendador Américo Amorim chegou a acordo com Rui Rio e com uma Laura qualquer coisa [Rodrigues] que era da Associação dos Comerciantes, no dia 3 de abril retomámos esta obra [aponta para uma maqueta do estádio] maravilhosa do arquiteto Manuel Salgado que aqui aparece sem público. Não sei se ele pensava que havia de aparecer a doutora Graças Freitas a levar o público do estádio para os pavilhões para ver fadistas e humoristas. Foi um visionário, fez um estádio maravilhoso que é o nosso orgulho."
Relação atual com Rui Rio: "Não conheço esse senhor, não tenho relação nenhuma, nunca me foi apresentado. Sei que é atualmente o líder de um partido político da oposição. Deve ser o líder da oposição mais apreciado por quem está no poder desde que há democracia. Ele também não me conhece a mim, sei que anda lá pelo partido, mas isso não é responsabilidade minha porque não sou militante de nenhum partido."
Jogo de inauguração, em 2003, na estreia de Messi: "Curiosamente, pretendíamos um grande clube, tentámos o Barcelona, foi o primeiro porque entendo que o FC Porto e o Barcelona se identificam muito como clubes que representam as cidades e são, normalmente, marginalizados pelo poder central. Lá com outras possibilidades, uma vez que têm autonomia e regionalização. Falei com o presidente de então, o Laporta, que é hoje novamente presidente, ele disse que era uma honra e que também viria ao jogo. Ofereceu-me uma camisola do Barcelona com o meu nome escrito nas costas. Uma bela recordação da inauguração. Ele tinha acompanhado a nossa luta contra o Rui Rio e desde a primeira hora que se comprometeu a vir cá."
Se não tivesse sido tão difícil, o dia não teria tanto sabor? "Se calhar, não. Seria sempre importante, mas foi uma luta muito grande, grandes personalidades estiveram do nosso lado. O doutor Jorge Sampaio convocou uma reunião quase para obrigar que o projeto fosse para a frente. Foi na inauguração que o Messi jogou pela primeira vez na equipa principal do Barcelona. Ele já esteve aqui depois disso, visitou o nosso Museu e recordou sempre a sua estreia."