Pinto da Costa critica Governo e avisa: "O futebol não vai sobreviver, a este nível, com estas medidas"
EXCLUSIVO - Pinto da Costa celebrou a Supertaça com o treinador e os jogadores, mas também com o amigo de sempre, o falecido Reinaldo Teles, que sentiu mesmo ao lado e que mereceu dedicatória especial.
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Pinto da Costa celebra esta segunda-feira 83 anos de idade, poucos dias depois de ter somado o 63.º troféu no futebol na qualidade de presidente, lugar que ocupa desde 1982. Um aniversário diferente motivou a conversa com O JOGO. O líder dos azuis e brancos aproveitou para sublinhar mais uma excelente resposta da equipa e atirou-se novamente ao Governo, que mantém o futebol à porta fechada e não se fez representar em Aveiro, quarta-feira.
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Não é costume festejar o aniversário dias depois de ter conquistado um troféu. Imagino que a conquista da Supertaça tenha sido um presente antecipado. Como assistiu ao jogo e que significado lhe atribuiu?
-Não é, de facto, costume haver jogos e muito menos finais de qualquer prova em cima do Natal, a 23 de dezembro. Assim foi, pois a famigerada pandemia não permitiu que esta final se disputasse no seu tempo normal, no início de época. A nossa vitória foi, por todos nós, festejada intensamente, mas nunca a liguei ao meu aniversário, pois já nem me lembro disso. Festejei intensamente pelo justo prémio que foi para o nosso treinador Sérgio Conceição, para a sua equipa e para os jogadores, que após tantos jogos conseguem jogar assim e mostrar que sentem a camisola. E festejei-a também com Reinaldo Teles, que estava ali ao meu lado.
Apontou-se quase sempre o Benfica como favorito para 2020/21 apesar de o FC Porto ser o campeão e vencedor da Taça. Esta sequência de triunfos, que inclui uma grande Liga dos Campeões, é também uma resposta nesse sentido?
-Todos nós sabemos que em cada início de época, há determinada imprensa que coloca os nossos rivais sempre como uma equipa imbatível e nos apresenta como acompanhantes da festa dos outros. Felizmente, muitas vezes somos nós que fazemos a festa.
"A prova que os nossos governantes não consideram importante o que vários clubes fazem por Portugal é que o Governo esteve ausente da Supertaça"
As três últimas [Liga, Taça de Portugal e Supertaça] foram sem público. Em Inglaterra o público já regressou, noutros países começa a voltar. Em Portugal, as restrições totais continuam a só se aplicar ao futebol. Encontra explicação?
-O que se passa com a falta de público nos estádios é lamentável, incompreensível e estúpido. Lamentável porque está a causar as maiores dificuldades a muitos clubes, a retirar ao povo momentos de festa, povo que muitas vezes só tem no futebol a alegria de conviver. Incompreensível porque todos sabemos que foram autorizadas touradas, congressos e festas de partidos e continua a haver espetáculos com 40% do público em recintos fechados. E sabemos que em espetáculos de humor até o Presidente da República e o Sr. primeiro-ministro estiveram presentes. E em recintos abertos como são os estádios não pode estar ninguém. Isto demonstra que os nossos governantes não consideram importante o que vários clubes fazem por Portugal com as suas vitórias internacionais. A prova disso é que no recente dia 23, na Supertaça, com a presença dos dois maiores clubes portugueses, o Governo esteve ausente. O Sr. primeiro-ministro, que gosta de futebol e é adepto de um dos finalistas, não pôde estar presente por estar confinado. E o Sr. ministro da tutela e o Sr. secretário de Estado do Desporto? Estúpido porque há meses abriram os estádios ao público dizendo que que era para ver como corriam as coisas. Todos, inclusive o Sr. primeiro-ministro, disseram que correu bem, ótimo. Depois proibiram outra vez o público nos estádios. Então, testam para ver como corre, reconhecem que corre bem e proíbem de novo? Que crânios! A única explicação é que estariam à espera que corresse mal...
Como pode o futebol sobreviver e o FC Porto, mais concretamente, aguentar-se sem público? Já lá vai quase um ano e os prejuízos prometem continuar...
-O futebol não vai sobreviver, a este nível, com estas medidas. Ao FC Porto causou um prejuízo de cerca de 29 milhões de euros, mas além disso está a causar um prejuízo que ninguém pensa. É que está a afastar os jovens do futebol, como adeptos e praticantes. Para onde vão, os governantes devem saber...