Pinto da Costa: a "revolta extraordinária" de 1993 e uma "dica" sobre o presente
Em novo episódio da série "Ironias do Destino", do Porto Canal, Jorge Nuno Pinto da Costa lembra uma manifestação no 1.ª de Maio de 1993, no antigo edifício do Governo Civil do Porto, a propósito de uma sanção aplicada pelo Conselho de Disciplina.
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Revolta e manifestação em 1993: "Nesse ano, o FC Porto estava numa luta pelo campeonato, que se aproximava do fim, e tentavam-nos criar as dificuldades mais extravagantes possíveis. Um dia fomos surpreendidos com uma interdição do campo, as Antas, para o jogo seguinte, que era com o Boavista. Vieram dizer-nos que teria de ser em Coimbra. Fomos saber o que se passava e a justificação do Conselho de Disciplina foi que um agente da autoridade, que por acaso não estava de serviço, tinha sido atingido por uma pedra e recebido tratamento hospitalar. Fomos averiguar, realmente, houve um indivíduo hospitalizado alegando isso. Teve alta, confirmou-se que não estava de serviço. Era o senhor Bonito que teve alta, mas passado uns dias apareceu um atestado de outro médico a dar-lhe cinco dias de baixa. Médico que nem era do hospital. Foi uma revolta total das forças vivas da cidade. Na altura, o presidente da Câmara era era Fernando Gomes, na Maia era o professor Vieira de Carvalho e o presidente da AF Porto era o deputado Adriano Pinto. Os três falaram comigo e marcámos uma vinda ao Governo Civil para manifestar o nosso protesto perante o que se estava a passar. O governador era o doutor Fernando Melo que deferiu o nosso pedido e marcou a reunião. Não era uma manifestação. Depois, foi indeferido pelo Ministro da Administração Interna [Dias Loureiro], dizendo que podia haver um ajuntamento de pessoas e que isso podia prejudicar o bom funcionamento do Governo Civil."
Manifestação foi em frente: "Isso não ficou por aí porque eu e o governador civil ultrapassámos isso. Se o problema era afetar o funcionamento, uns dias depois era o 1º de Maio, feriado, e como tal não havia serviço. Ficou de nos receber nesse dia. Calcularam os jornais que cerca de dez mil pessoas estiveram aqui [no antigo edifício do Governo Civil], foi uma revolta extraordinária, que tocou toda a gente. Essa manifestação foi importante, apesar de a interdição se manter, porque motivou as pessoas. A revolta das pessoas foi tanta que galvanizou a equipa que acabou por ser campeã. O dr. Fernando Melo teve uma coragem fantástica."
Revolta faz falta no contexto atual: "Esta praça estava cheia e essas imagens são de se mostrar, porque o povo português está a aceitar comer calado e a engolir tudo o que os nossos governantes resolvem obrigar a fazer. Acredito na afirmação da sociedade civil, dentro da disciplina, e acho que está a fazer falta, não só no futebol, mas mais concretamente no futebol, com esta vergonha de estarem abertos os teatros e os centros comerciais e o futebol não pode ter 50 pessoas, uma revolta do povo. Dizer que o povo é quem mais ordena e usar isso como um slogan atual para depois fazer o que bem apetece e interessa a meia dúzia de pessoas tem que acabar."