Petit recorda festa de campeão do Boavista, em 2001: "Foi uma semana pesada..."
ENTREVISTA, PARTE II - No dia em que o Boavista assinalou o 21.º ano da conquista do título inédito na história do clube, Petit recordou esses momentos de euforia. Petit recordou os momentos de ansiedade que antecederam o jogo com o Aves, que ditou a conquista do título de campeão nacional, em 2001, e falou de alguns segredos do sucesso.
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Petit falou a O JOGO no relvado onde há 21 anos o Boavista venceu o Aves e festejou o título de campeão nacional.
Como foi o dia do Boavista campeão nacional?
-Como jogámos à noite, a esta hora em que estamos a fazer a entrevista [11h00] estava no quarto do hotel a preparar-me para almoçar, mas com muita ansiedade para que chegasse a hora do jogo, porque sentíamos que íamos conseguir o nosso objetivo, até porque o Boavista já estava preparado, porque tinha conseguido dois segundos lugares uns anos antes. Tínhamos um grupo muito forte e uma estrutura igualmente forte, além de termos muita ambição de conquistar algo que ficou na história do clube, dos adeptos e de todos nós. Agora podemos contar essa história aos nossos filhos e aos nossos netos...
Naquele dia do jogo com o Aves sentiam que não podiam falhar?
-Nesse dia não estávamos nervosos, estávamos ansiosos que chegasse o apito do árbitro para conseguirmos esse nosso objetivo, até porque, como a seguir íamos jogar ao FC Porto, queríamos resolver a questão do título o mais rapidamente possível. Muita gente não acreditava, mas, no clube, sentíamos que podíamos ser os primeiros campeões deste século sem ser o Benfica, o FC Porto ou o Sporting.
Quando tempo precisaram para recuperar das noitadas depois da conquista do campeonato?
-[Risos] Foi uma semana pesada... Depois do jogo e da festa no estádio, fomos para a discoteca Via Rápida, onde estivemos todos juntos com as respetivas famílias. Tínhamos um grupo muito forte, que ia muitas vezes almoçar à quarta-feira, um dia fantástico deste clube, porque havia treino de manhã e à tarde... Na altura, num dia íamos jantar a casa do Jorge Couto, no outro à do Rui Bento ou à do Litos. Havia sempre sete ou oito casais juntos. Houve uma passagem de ano em que estivemos praticamente todos juntos, com as respetivas famílias, e fechámos um restaurante só para nós. É para se ver o grupo que tínhamos, não só dentro como fora de campo, porque é essencial que as famílias se sintam bem, não só os portugueses, mas também os estrangeiros. Esse foi um dos nossos segredos. Tínhamos um grupo muito forte e isso transportava-se para dentro do campo.
Muitos jogadores desse plantel são treinadores. É apenas uma coincidência?
-Não. Muitos deram treinadores, como o Pedro Emanuel, Mário Silva, Rui Bento, Gouveia e o Sanchez, alguns deles saídos do "San Siro", o nosso campo pelado. Isso vai da mentalidade e da personalidade de cada um, mas também da exigência deste clube. Tínhamos treinadores e dirigentes exigentes, que nos puxavam as orelhas, desde o falecidos Jaime Garcia ao Queiró, duas pessoas importantes no futebol de formação do Boavista, assim como os dirigentes Jorge Trabuco e Vítor Cabral. Eram pessoas exigentes que nos davam valores para podermos crescer. Os treinadores e os diretores eram os nossos pais. Isso fez-nos crescer.
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"Campeões com sete da formação"
Numa altura em que tanto se fala na aposta nos jogadores formados nos clubes portugueses, Petit lembra que essa já era uma prática do Boavista que foi campeão, em 2001.
A tão falada mística do Boavista tem feito falta?
-Hoje em dia, todos falam da formação e o Boavista sempre criou jogadores à imagem deste clube. O Boavista andava sempre a lutar por títulos e estava sempre presente nas fases finais. Não era fácil chegar à formação do Boavista. Lembro-me que o senhor Marques foi ao meu bairro contratar-me a mim e ao Mário Silva por 15 bolas e 15 chuteiras. Na minha geração, era eu, Mário Silva, Ricardo Silva, Nuno Gomes, Tavares, Delfim, Moreira e tantos outros jogadores. Depois, veio outra geração, com Raul Meireles e Bosingwa. O Boavista sempre teve jogadores que saltaram dos juniores para a equipa principal e outros que andaram a rodar para depois darem o salto. No ano em que fomos campeões tínhamos sete jogadores da formação no plantel , e quatro ou cinco eram titulares. Isso foi sempre a mística deste clube e temos de ir buscar um pouco do passado. Nesse sentido, o presidente Vítor Murta está a trabalhar para dar melhores condições aos jogadores e aos treinadores para que, dentro de quatro ou cinco anos, estes jogadores da formação possam afirmar-se no plantel principal. Já temos alguns que vieram da formação, como o Pedro Malheiro, que acabou muito bem a época, o Fran, o Luís Santos e o João Gonçalves. Tem de haver sintonia entre os seniores e todos os escalões de formação.
Alguns destes jogadores da equipa de Juniores A que foi campeã da II Divisão podem ter espaço no plantel principal?
-Esta época tentámos trazer todos os dias três ou quatro jogadores da formação, concretamente o Tiago Morais, o Pedro, o Berna, o Martim Costa, o Joel e o Dabo. Ainda na última jornada, a equipa principal chegou de Tondela e foi ver o jogo dos juniores. Aproveito até para dar os parabéns ao trabalho fantástico que foi feito pelo Ricardo Paiva e todo o staff para o regresso da equipa da juniores ao campeonato nacional. Eles já tinham subido de divisão, mas era fundamental ganhar o título e saber o que é jogar no Estádio do Bessa, e com adeptos.