ENTREVISTA - Feliz no clube do coração, o técnico boavisteiro acredita que pode ter uma carreira de treinador com o mesmo sucesso que teve como jogador. Em entrevista a O JOGO, Petit falou de mais uma época de sucesso, mas reconhece que não gosta que lhe chamem "bombeiro" ou "salvador da pátria". Acredita que vai colocar o Boavista na luta pela Europa.
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Petit até nem queria ser treinador quando regressou ao Boavista, em 2012, mas agora sente que está mais preparado do que nunca.
Se tivesse chegado mais cedo, o Boavista teria lutado pela Europa?
O "se" e o "quase" não existem. Há é trabalho e dedicação. Sabíamos aquilo que podíamos fazer no Boavista. Quando reuni com a Administração, disseram-me para valorizar os jogadores, ter uma ideia de jogo, ter uma equipa competitiva e que os adeptos se orgulhassem dela. Conseguimos fazer isso. Alguns jogadores sobressaíram para que o Boavista possa vender e ter suporte financeiro.
O Petit já salvou várias equipas da descida, mas não gosta que o apelidem de "bombeiro" ou "salvador da pátria". Porquê?
-Quando regressei ao Boavista, a última coisa que queria fazer era ser treinador de futebol; queria mais estar no departamento de futebol juvenil, mas, depois, pediram-me para ser treinador e jogador ao mesmo tempo. Comecei a gostar do processo e comecei a aprender. Foi um processo muito rápido, até porque, cerca de um ano depois, conseguimos chegar à I Liga. A partir daí, comecei a salvar equipas. Para que tal aconteça, é preciso ter competência, trabalhar bem e ter uma ideia de jogo para depois tirar o melhor rendimento dos jogadores. Não me considero um bombeiro, mas antes um trabalhador que evoluiu bastante no processo e na metodologia de treino, mas também na ideia de jogo. Já passei por seis clubes, onde evoluí. Hoje sei muito mais sobre treino e jogo, devido à experiência que tenho, mas também pela evolução que tive como treinador. Tanto eu como a minha equipa técnica temos uma ideia de jogo para onde podemos ir, seja o 4x3x3, o 4x4x2 ou 3x4x3. Vamos evoluindo e vamos crescendo. Não me revejo no rótulo de "bombeiro", e para salvar equipas também é preciso jogar para ganhar. O que me deixa orgulhoso é que os jogadores com quem trabalho, depois ligam-me e dizem que querem voltar a trabalhar comigo.
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Tem contrato com o Boavista, mas está preparado para dar o salto e para chegar onde?
-Estou preparado para dar o passo seguinte. O Boavista vai para a oitava época na Liga Bwin desde que regressou ao escalão principal e este é um clube com uma grande história, com uns adeptos incríveis, e o meu objetivo passa por tornar o Boavista mais ambicioso, com mais adeptos nos estádios, valorizando os jogadores e a formação do clube. Estamos a melhorar departamentos para sermos mais fortes e para darmos o passo seguinte, a olhar mais para cima. Quando chegarmos a esse patamar, queremos consolidá-lo, porque o Boavista tem nome e tem uma história. Todos os jogadores gostavam de jogar no Boavista.
Que alterações são essas nos departamentos?
-Hoje em dia, já temos um departamento de scouting, que é fundamental para o Boavista. Além disso, no início da época, vamos ter reuniões com a formação, desde treinadores a diretores, para estarmos mais perto uns dos outros e para saberem o que é o Boavista. Temos de melhorar esses pormenores para estarmos mais fortes e para depois darmos o passo seguinte.
Mas, pessoalmente, onde pensa chegar?
-Sonhamos sempre em trabalhar ao mais alto nível e lutar por títulos. Sinto-me bem no Boavista, já tenho experiência e já evoluí, e é claro que tenho o objetivo de conquistar títulos. Vai ser passo a passo, mas sei aquilo que quero. Posso demorar algum tempo, mas também foi assim como jogador. Como treinador, espero dar esse passo e o Boavista vai abrir-me as portas para dar esse salto. Mas estou feliz aqui.
Acredita que pode ter uma grande carreira como treinador idêntica à que teve como jogador?
-Acredito que sim. Cheguei ao Boavista com 24 anos, depois de andar a rodar durante cinco anos. Foi um processo difícil, depois de ter sido campeão em quase todos os anos da formação. Depois, regressei, fui campeão nacional no primeiro ano, um ano depois estava a jogar a Liga dos Campeões e fui vendido [Benfica]. Tive sempre uma carreira a subir. E tive de saber manter-me. É isso que me faz acreditar que o meu processo como treinador pode ser igual ao de jogador.
"Europa? Vamos dar passos firmes"
Petit quer colocar o Boavista na corrida pelos lugares europeus, mas não sabe se será já em 2022/23.
Qual foi o momento mais marcante desta época?
-Todos os momentos foram importantes para a evolução da equipa, mas a vitória com o Braga, que garantiu pela primeira vez o acesso à final four da Taça da Liga, foi o momento mais marcante. Depois, sentimos uma tristeza enorme por não termos conseguido chegar à final, porque fizemos um grande jogo com o Benfica. Muitos pensavam que iríamos ter muitas dificuldades, porque alguns jogadores estavam nas seleções e outros estavam lesionados. Jogámos, até, apenas com um central de raiz. Mas fomos uma equipa muito competitiva. Ficou apenas esse sabor amargo, porque nas grandes penalidades não conseguimos o objetivo.
Chegou a acreditar que era possível ganhar a Taça da Liga?
-Depois de ver o que foi o jogo com o Benfica e o comportamento da equipa, sobretudo na segunda parte, podíamos ter ido à final e depois seria um jogo diferente. Seria um prémio para a estrutura do clube e para os jogadores.
A luta pela Europa vai ser possível já na próxima época?
-Podia estar aqui a vender sonhos e a dizer que vamos lutar pela Europa, mas a nossa ambição é lutarmos dia a dia, tentando crescer enquanto equipa e como clube. Temos de dar passos firmes. É claro que sou ambicioso e essa ambição tem de estar sempre presente neste clube, e vamos lá chegar, mas não sei se é para o ano ou daqui a dois anos.
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