Pepe a fazer faísca e história no FC Porto aos 38: "O Deco nem tocou na bola..."

Pepe está de parabéns. O central do FC Porto cumpre esta sexta-feira 38 anos e no sábado vai tornar-se no primeiro jogador da história do clube a participar num clássico com essa idade. Além disso, já é o sexto mais velho a atuar no campeonato português, descontando os guarda-redes cujas carreiras, habitualmente, têm uma longevidade maior.

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Natural de Maceió, no Brasil, o defesa atravessou o Atlântico pouco depois de cumprir a maioridade para jogar no Marítimo. De lá mudou-se para o FC Porto e o resto é uma história recheada de títulos nacionais e internacionais, com a naturalização por Portugal e o regresso ao Dragão pelo meio. Vinte anos e 747 jogos depois de chegar ao Funchal, Pepe é o pilar da defesa portista, o capitão de equipa e um caso de estudo pelo alto nível que mantém com esta idade.

Há dois meses, ultrapassou Aloísio como o jogador de campo mais velho a vestir a camisola do FC Porto e, em Portugal, só o benfiquista Veloso participou num clássico com mais idade do que o central que amanhã estará no relvado do Dragão a tentar ajudar a encurtar a distância para o Sporting, a equipa onde chegou a estar à experiência, mas que não o quis.

Pepe chegou a Portugal sozinho, com 18 anos e apenas o equivalente a cinco euros na carteira, que gastou para telefonar à mãe mal aterrou no Funchal. Nelo Vingada foi o treinador responsável pela sua contratação e O JOGO convidou-o a dar os parabéns ao jogador, mas também a recordar o "menino" que descobriu quando foi ao Brasil buscar um lateral esquerdo e saiu de lá também com um central. "Já era alto, um bocadinho magro e frágil do ponto de vista muscular, mas havia aspetos que nos motivaram a trazê-lo; fui a Maceió com o presidente Carlos Pereira e escolhemos o Ezequias para vir, mas depois foi apresentada a solução do Pepe, que era mais novo. Houve a possibilidade de trazer os dois e acabou por ser uma decisão extremamente feliz. Veio para ser integrado no plantel do Marítimo e, de início, treinava comigo regularmente, mas jogava na equipa B e os jogos mais difíceis no Campeonato da Madeira de Juniores. Teve azar, porque assim que chegou partiu um dedo de um pé e esteve um mês parado, mas com o desenrolar da época víamos que estávamos perante um jogador que refinou o seu potencial", contou-nos o treinador.

Citação citacao Rigor no treino, na alimentação e no sono permitem-lhe manter-se ao mais alto nível. João Santos e Nelo Vingada, os treinadores que o lançaram, recordam o menino que chegou do Brasil há 20 anos

Antes de o lançar na equipa principal, João Santos aproveitou-o na equipa B dos insulares. "Já nos treinos tinha complicações com ele e o Zé Vítor. Eram dois polos positivos. Um era avançado, o outro defesa, aquilo era faísca por todo o lado e chegaram a pegar-se", recordou a O JOGO.

Quando não deixou Deco tocar na bola

Na opinião de Nelo Vingada, um dos jogos que catapultou a carreira de Pepe foi um Marítimo-FC Porto [2002/03], que os insulares venceram por 2-1. "Curiosamente, ele jogou à frente dos centrais, não a marcar homem a homem, mas tendo como referência o Deco, que não tocou na bola. Ele fez um jogo fantástico. Aliás, foram os dois expulsos. Era chato expulsar o Deco e deixar o Pepe dentro..., porque ele não merecia, mas são as coisas do futebol", contou. Antes de ser contratado pelo FC Porto, é sabido, Pepe esteve à experiência em Alvalade "com autorização do Marítimo", mas o Sporting "não o quis e fez mal". Nelo Vingada agradeceu. "Regressou e jogou. Teve também a sorte, num determinado momento, de ter atuado ao lado do Van der Gaag, e cresceu com isso. Não vou ter a veleidade de dizer que fiz dele o que é hoje, mas demos um contributo importante", acredita o treinador, atualmente sem clube e João Santos concorda. "Beneficiou muito da experiência do Van der Gaag, que deu umas dicas e ajudou o Pepe a ser o jogador que é", concluiu o antigo técnico do Marítimo B.