Uma lenda dos campos portugueses, do futebol com amor, em que cada camisola propõe superação. Aos 52 anos, ainda joga no Botafogo de Cabanas, em Palmela. Paulo Catarino percorre os relvados com ânsia de golos e de ser feliz. O auge foi no seu Vitória
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Aos 52 anos, ainda há muita força futebolística nas veias e nas chuteiras?
-A paixão pelo futebol vai andar sempre nas veias, porque é uma parte importantíssima da minha vida, sem a qual não consigo viver feliz. Fisicamente, ainda me encontro bem para a idade que tenho, mas, com a chegada do meu neto, a prioridade passou a ser desfrutar deste amor incrível que estou a sentir por ele. Por isso, muitas vezes falto aos treinos...
Algum clube que esteja no radar para acabar?
-O clube que sonhei jogar desde miúdo foi no Vitória de Setúbal e consegui-o, com muita dedicação, muita paixão, muito amor e com o dom que nasceu comigo para fazer golos. Gostava de ter terminado a carreira no Vitória, no estádio do Bonfim, na minha cidade, tendo família e os amigos ao meu lado, mas não foi possível. Sinto-me realizado com a carreira honesta e humilde que fiz. Sei que pelos mais de 30 clubes em que joguei as pessoas vão lembrar-se sempre de mim.
Ao jogar nesta altura, ressalta mais o medo de dizer adeus ou o prazer de inspirar os mais novos? Ainda é um desafio?
-Muito sinceramente, é um pouco de tudo isso. Muito medo do que vou sentir sem algo que faço já lá vão 46 anos de imensa paixão. Comecei a jogar aos seis anos e hoje, aos 52, continuo a amar a sensação de fazer golos. Não sei se inspiro alguém, mas adorava. Há pouco tempo propuseram-me fazer uma banda desenhada da minha história de vida e confesso que amava poder fazê-lo e inspirar os mais jovens. Mas, sem patrocínios, é difícil concretizar esse sonho...
Dá para fazer um top-3 dos clubes mais marcantes neste percurso?
-Para mim é muito fácil fazer o top-3 das melhores sensações que tive no futebol. A primeira foi no meu primeiro clube, o Sporting Clube Figueirense, tinha eu 14 anos, após descobrir, pouco antes, que tinha sido adotado. Nesse período, a minha mãe foi, pela primeira vez, ver um jogo meu e fiz dois ou três golos. Em todos corri para ela e vê-la tão feliz foi das melhores sensações da minha vida. A segunda foi quando disse à minha mãe que tinha assinado pelo Vitória e que ia realizar o meu sonho e o sonho dela, bem como o dos meus irmãos, todos vitorianos. Ela chorou tanto de alegria. A terceira foi quando marquei golo 300, pelo Águas de Moura, porque foi algo que prometi à minha mãe quando falámos pela última vez, antes de ela partir.
Jogar na I Liga pelo Vitória foi o concretizar da maior ambição?
-Quem me conhece sabe que tenho dois amores: o Vitória de Setúbal e FC Porto. Mas o sonho de menino sempre foi chegar ao clube da minha terra e da minha família. Era uma questão de concretizar o sonho de quem me criou com tanto amor e sacrifício. Por isso, quando tinha tudo certo para assinar pelo Getafe e recebo uma chamada do histórico dirigente Rui Salas a perguntar se queria ir para o Vitória, não pensei em nada mais, apenas em assinar pelo Vitória, que nesse ano até ia jogar a Taça UEFA. Apesar de não ter corrido como imaginava, porque em Setúbal apanhei um dos três treinadores da minha carreira para os quais não fui opção inicial - e tive 50 treinadores -sei que valeu a pena vestir a camisola de um grande clube e de festejar um golo no Estádio do Bonfim, como tanto sonhei em criança.
Paixões por Madjer, Futre e pelo ídolo Maradona
Paulo Catarino cresceu como adolescente encantado pelo que via nos anos 80 e a paixão pelo FC Porto também resulta das referências de uma fase futebolisticamente muito estimulante. “Em miúdo não era, na realidade, um ponta-de-lança, era médio-ofensivo e tinha como referências o Madjer e o Futre, que brilhavam no FC Porto. Mas, tenho de confessar que a principal divindade, aos meus olhos, sempre foi o Diego Armando Maradona”, relata Catarino, que viu, com 15 anos, o FC Porto ser campeão europeu; jogava, então, no GDR ‘O Sindicato’.