Paulo Baldaia: "Chamem o dono da cadeira de sonho"

Não sou um velho do Restelo e tenho memória, o FC Porto esteve 19 anos sem ganhar um campeonato. Não alinho, portanto, em pessimismos militantes e acredito que é possível dar a volta com a actual estrutura directiva, mas vai ser preciso encontrar outro treinador e reabilitar a equipa. Não durou para sempre a glória das conquistas nacionais e internacionais, como é possível acabar com este trauma de saber que qualquer um nos pode ganhar.

Imigrado em Lisboa, com mais ou menos metade do tempo da minha vida passado entre a capital da segunda circular e o Porto, não posso deixar de estar grato ao presidente do meu clube que, com o seu trajecto vitorioso, contribuiu para a minha afirmação enquanto cidadão com raízes no Norte. Beneficiei dos muitos sucessos nacionais e internacionais que teve o meu clube e não sou de cuspir no prato onde comi. Mas hoje sou pai e tenho duas filhas lisboetas que gostava de ver crescer com raízes nortenhas, com um ADN portista de quem faz das fraquezas forças, de quem sabe que somos o que fazemos e não o que recebemos.

O plantel do Futebol Clube do Porto está recheado de jogadores internacionais, jogadores que nas selecções brilham e no clube se ofuscam. Falta-nos uma defesa consistente, centrais competentes no relvado e no banco, pontas de lança com o pé quente, mas temos matéria-prima para fazer mais, desde que alguém os convença que é preciso correr. O que não temos e nos faz falta, é um treinador ambicioso e com capacidades de liderança. Falhámos com Lopetegui e não acertámos com Peseiro. Se o futebol é tão caro com passes de jogadores e comissões a intermediários, não tenham medo de pagar principescamente a quem seja capaz de liderar um projecto vencedor. Há um treinador que regressa a Portugal no final da época. Um treinador que se assume portista e a quem todos reconhecemos competência. Apelem ao seu clubismo, paguem-lhe o que tem de ser pago, André Vilas Boas é absolutamente capaz de ganhar o próximo campeonato e devolver a glória ao Futebol Clube do Porto.

Para Peseiro, que é um treinador esforçado mas não chega, sobra a hipótese de ganhar a Taça de Portugal. Não é fácil, mas é possível. Vou estar com as minhas filhas no Jamor, espero que não me façam o que fizeram ontem no Dragão, dia em que elas pela primeira vez foram com o pai ver um jogo de futebol.