Treinador portista falou com Pinto da Costa ainda na terça-feira e, ontem, apresentou exemplos à equipa de momentos do passado para provar que, com os "reds", foi uma sombra do que pode fazer.
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A exibição realizada contra o Liverpool não é para repetir. Sérgio Conceição vincou-o após o jogo, em conferência de Imprensa, e reiterou-o ontem, no primeiro treino após a derrocada com os ingleses, já depois de ter falado com Pinto da Costa.
A troca de impressões decorreu no próprio dia do desafio, no Dragão, como é normal acontecer nos jogos em casa, e a conclusão foi a esperada, pelo que Conceição surgiu normalmente no Olival para trabalhar.
Além de dissecar os pecados cometidos com os "reds", coletiva e individualmente, O JOGO apurou que o treino teve ainda uma componente pedagógica, com o treinador portista a apresentar exemplos aos jogadores de momentos do passado, inclusive na Liga dos Campeões, que provam que a equipa foi uma sombra do que é habitual. A possibilidade de sair, como deixou transparecer a quente, não foi assunto, até porque Sérgio quis apenas fazer ver ao grupo que a exigência da equipa técnica obriga ao empenho máximo de todos e que é necessário olhar para os objetivos da época com realismo.
Portistas surpreendidos, mas unidos nos reparos
A intervenção de Sérgio Conceição, de resto, foi vista pelo painel de inquiridos por O JOGO como um abanão ao plantel, na tentativa de provocar uma resposta demolidora com o Paços de Ferreira. Desde que o treinador de 46 anos chegou ao Dragão, em 2017/18, o FC Porto reagiu sempre de forma positiva às derrotas europeias e os três desaires anteriores com o Liverpool não foram exceção. Nos jogos seguintes, os dragões bateram Rio Ave, Portimonense e Santa Clara, cenário que, a repetir-se sábado, ajudaria a recuperar os índices de confiança dos jogadores. "Reagiu daquela forma por acreditar que a equipa podia ter feito mais. Com a frustração, foi o que saiu", explica Chainho. "Profissionais como os do FC Porto têm de estar preparados para todas as circunstâncias. As palavras não são fáceis de digerir, mas têm de reagir", vinca Guilherme Aguiar, num raciocínio espelhado por José Fernando Rio. "Foi uma exibição contra a toada a que nos habituámos com esta equipa. Espero uma reação positiva, até porque o que o treinador disse pode ter repercussões para o que resta da época", defende o empresário, enquanto Carlos Abreu Amorim vinca que, "contra o Paços, a equipa tem de dar uma resposta esmagadora, à altura do FC Porto".
Ainda assim, as palavras de Conceição dividiram opiniões. O técnico azul e branco assumiu a necessidade de falar com Pinto da Costa e de perceber se "os jogadores estão dispostos a ouvir a mensagem". Aos olhos de Chainho, José Fernando Rio e Guilherme Aguiar, a reação de Sérgio Conceição foi de encontro à personalidade do treinador e pode funcionar de forma benéfica junto do plantel, incitando a uma resposta imediata. Por outro lado, considera Jorge Amaral, Sérgio "poderá ter exagerado um pouco". Manuel Serrão, por sua vez, quer acreditar na capacidade de encaixe dos atletas, mas teme "efeitos nefastos", receio partilhado por Carlos Abreu Amorim, que elogia Conceição, mas visa o teor e "timing" do discurso pós-Liverpool: "Temo que tenha impacto negativo. Não se justifica", critica.
Inquérito
Que impacto podem ter as críticas de Sérgio Conceição no plantel? Que reação espera da equipa após o "murro na mesa"?
Chainho
Ex-jogador e comentador
"Os jogadores já conhecem Sérgio"
"Os jogadores do FC Porto já conhecem o treinador e o caráter dele. Pode haver um ou outro que fique mais abalado, mas, em termos globais, acredito que não afetará a equipa de forma negativa. O jogo com o Paços de Ferreira será difícil, mas a reação tem de ser positiva, com uma entrada para ganhar, ainda para mais depois desta goleada. A tranquilidade surge com triunfos."
Jorge Amaral
Ex-jogador e comentador
""Botão" tem de estar sempre ligado"
"Se o treinador tiver realmente o grupo na mão, os jogadores reagirão de forma positiva. O Sérgio Conceição entendeu ter esta atitude para acordar o grupo. Talvez tenha exagerado um pouco, principalmente quando diz que os juniores teriam feito melhor, mas a crítica à equipa tinha de ser feita. O "botão" tem de estar sempre ligado. Acredito que, contra o Paços, a reação será muito forte."
Carlos Abreu Amorim
Político
"Época não acabou com o Liverpool"
"Como adepto do FC Porto, sou sempre a favor de Sérgio Conceição e não vejo ninguém que, neste momento, seja capaz de pegar nesta equipa como ele. Mas não pode pôr em xeque tudo o que se faz no clube. Foi uma reação desagradável, deslocada no tempo. A época não acabou ali. Agora, o FC Porto terá de provar em campo, a começar pelo Paços de Ferreira, que não é a equipa que se viu contra o Liverpool."
Manuel Serrão
Empresário
"Declarações preocupam mais"
"Fiquei mais preocupado com as declarações de Sérgio Conceição do que com o resultado. Gostaria de perceber o que se passa para que tenha surgido aquele discurso. Contra o Paços de Ferreira - e sempre - espero que a equipa jogue com a garra que demonstrou contra o Atlético de Madrid e não com a leveza com que abordou o Liverpool. O jogo de Espanha deveria servir como exemplo."
Guilherme Aguiar
Político
"Críticas saíram a quente, mas justas"
"Não estou na cabeça dos jogadores, mas as críticas [de Conceição] foram justas. São coisas que acontecem de vez em quando. A equipa podia ter perdido por cinco, mas ter dado outra imagem. Sabe-se que o Sérgio não digere bem as derrotas. Teve uma reação a quente, mas uma equipa de profissionais só pode centrar-se em reagir da melhor forma. Conhecendo o treinador, é isso que vai acontecer."
José Fernando Rio
Empresário
"O compromisso é inegociável"
"Foi um alerta dado por Sérgio Conceição, que pode ter repercussões para o que resta da temporada. O impacto será positivo. Não acho que os jogadores fiquem magoados ou sentidos e vão provar isso já no próximo jogo. O treinador detesta perder e não tolera que os seus atletas deem menos de 200 por cento. A qualidade do plantel não está em causa, mas o compromisso é inegociável."