Abel Ferreira representou Braga e Vitória, sentiu a mesma responsabilidade e recorda palavras de Jorge Jesus.
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De todas as palestras que ouviu como jogador, nos minutos anteriores a dérbis minhotos, Abel Ferreira jamais esquecerá uma curta e grossa mensagem de Jorge Jesus, a poucos minutos de mais um bombástico V. Guimarães-Braga: "Ou deixamos a pele em campo ou os adeptos tiram-na lá fora".
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Como treinador do Vitória, Jesus fez dessa declaração uma espécie de mantra para "outros jogos grandes" e eventualmente ainda recorrerá a ela para picar os jogadores do Flamengo, mas naquela altura, numa noite de tudo ou nada, foi "o melhor combustível possível" para um jogo eletrizante. Quinta-feira, na Pedreira, haverá mais do mesmo e o treinador, que representou os dois clubes como jogador (foi ainda treinador do Braga) e que ficou vacinado para a vida no tocante a jogos de alta voltagem, como são quase todos da liga grega em que entra o PAOK que agora comanda, tem a clara noção do que vão experimentar técnicos e jogadores.
"No Vitória sentia que a pressão vinha de fora, da parte dos adeptos. Era uma pressão positiva. No Braga, essa pressão vinha de dentro, da parte da estrutura. Era reflexo da ambição do presidente. Julgo que nos últimos anos essas duas facetas acabaram por associar-se nos dois clubes. Tanto as administrações como os adeptos exigem os quatro primeiros lugares, embora o Braga esteja a ser mais consistente em busca desses objetivos", analisou.
Atualmente no PAOK, o treinador não se intimida com os ambientes escaldantes do futebol grego. No Minho, ainda como jogador, ganhou rodagem ao lidar com altas pressões "de fora e de dentro"
Num exclusivo a O JOGO, a partir de Atenas, Abel Ferreira garantiu que não perderá pitada do segundo "round" da época entre os dois eternos rivais e sublinhou que pertencem a uma casta distinta todos os jogadores que já representaram o Braga, o Vitória ou os dois clubes, como foi o seu caso e os de João Tomás, Custódio e João Alves, entre outros. "Quem passa por esses clubes fica preparado para triunfar nos grandes de Portugal e do estrangeiro. Braga e Vitória não têm o mesmo número de adeptos do Benfica, FC Porto e Sporting, mas a exigência de vencer é exatamente a mesma. Os outros grandes têm mais adeptos, espalhados por todo o país, mas o fervor é comum a todos", assinalou. Em campo, as "filosofias de jogo", do passado e do presente, raramente mudam. "As duas equipas gostam de dominar e jogar ao ataque. Não especulam, jogam de olhos postos no adversário, sempre para vencer. São assim do primeiro ao último minuto. Espero que o Ivo Vieira e o Custódio proporcionem um grande espetáculo. Têm grande capacidade e jogadores para isso", apreciou.
Trincão e Edwards encantam o atual treinador do PAOK por "terem a capacidade de decidir jogos", mas não serão icebergues totalmente independentes. "São jogadores especiais que tiram partido da ideia de jogo das respetivas equipas. Essas duas individualidades são suportadas por isso. Emergem de uma ideia de jogo coletiva muito forte", defendeu Abel, certo de que qualquer dérbi é decidido "nos detalhes". "Ganhará a equipa que cometer menos erros", estimou. Já o jejum de golos que afeta os avançados de Braga e Vitória não passará de um problema "coletivo". "As equipas têm é de criar oportunidades. Se fizerem isso, os golos vão aparecer de forma natural. Porém, é verdade que em Portugal os treinadores estão cada vez mais estratégicos. Nunca vi tantas equipas a defender com linhas de cinco jogadores fixos ou com quatro auxiliados por um médio a fechar como terceiro central, como faz o Vitória com o Pêpê", exemplificou.
Jogos sem adeptos em modo pré-época
Estando as bancadas despidas de adeptos, o próximo dérbi "não vai ser a mesma coisa". Abel tem a certeza de que a "a emoção" será residual, mas não é isso que explica o baixo rendimento da generalidade das equipas. "Disputam jogos típicos de pré-época. Durante a quarentena, só treinaram, não fizeram jogos. É por isso que temos assistido a jogos menos conseguidos de várias equipas, incluindo os candidatos ao título. Perdeu-se a dinâmica que existia antes da paragem no campeonato. É preciso algum tempo. Quando chegarmos à quinta ou sexta jornada, o ritmo já será mais elevado", calculou o técnico.