Tarefas à número 10 são claras nas estatísticas: Mehdi arrisca mais dribles e multiplicou os passes para finalização.
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Os primeiros dez encontros do FC Porto em 2021/22 têm acentuado uma nova versão de Mehdi Taremi, especialmente evidente no desafio com o Paços de Ferreira, no qual o iraniano passou praticamente por terceiro médio.
Sérgio Conceição desde cedo identificou no iraniano a capacidade de jogar fora da área por ser "inteligente e refinado". Avançado não remata tantas vezes, mas não perde eficiência
Esta forma de jogar, mais recuado e envolvido na construção de jogo, tem deixado marca em diversos parâmetros estatísticos do atacante, numa aposta que tem sido afinada pela equipa técnica e que até foi aproveitada pela seleção do Irão.
Há pouco mais de um mês, Sérgio Conceição explicou que Taremi estava a "ser trabalhado para uma ou outra nuance", de forma a aproveitar as suas características - "É um jogador muito inteligente e refinado, percebe o que o jogo está a pedir", chegou a dizer o técnico - mas também não se trata de algo totalmente surpreendente. Pouco tempo após a chegada do iraniano, em 2020, o treinador identificou-lhe, em entrevista a O JOGO, a capacidade de "sair daquele espaço que é normalmente dos atacantes e jogar de costas para a baliza". Passado um ano, e com Mehdi perfeitamente integrado nas dinâmicas da equipa, os trilhos que passou a explorar estão bem evidentes.
Taremi tem um raio de ação amplo no ataque e já executou 14 passes para finalização, metade do que acumulou em toda a época passada
De acordo com os dados do portal especializado "Wyscout", em médias por 90 minutos, no campeonato e por comparação à temporada passada, o "novo" Taremi arrisca mais dribles (3,7 - 2,1), passes em profundidade ( 1,6 - 0,8) e entregas para a grande área (2,3 - 1,6). Mudanças naturais para quem explora terrenos mais recuados para retirar referências à marcação e tem o jogo diante de si. Não obstante, o dado que, porventura, mais evidencia este lado de maestro são os passes para finalização: no total, Mehdi já fez metade (14) dos que somou em toda a época passada (28). As assistências é que ainda estão discretas - tem apenas uma, para Toni Martínez, em Famalicão - mas é algo que não depende apenas de si, além de que nem sempre os números contam tudo. Basta recuar até ao golo do empate frente ao Paços, em que Taremi cruza e obriga o defesa a um corte difícil, que se transformou em assistência para Luis Díaz.
Em sentido inverso, mas também sem grande surpresa, Taremi tem rematado menos vezes (1,9 - 3) e regista menos toques na grande área (4,1 - 5,7), fator no qual se destacava em 2020/21. Ainda assim, leva cinco golos em todas as provas e mantém a tendência de enquadrar metade dos disparos que realiza. Por fim, o contributo para a equipa também se nota na recuperação, com o camisola 9 a subir substancialmente a eficácia nos duelos defensivos: 72% - 49%. Por mais do que uma vez, nas análises às partidas, Conceição destacou a mobilidade no ataque e Taremi tem sido imprescindível na estratégia.
Surpreendidos Iranianos aprovam adaptação
No anterior período de seleções, o treinador do Irão, Dragan Skocic, testou Mehdi em tarefas semelhantes e o portista respondeu com um golo e duas ofertas. Mais do que isso, as mudanças deixaram os compatriotas surpreendidos, como atesta o jornalista Nima Roodsari.
"Não sei o que está a acontecer entre Taremi e [Sérgio] Conceição, mas o nível a que ele está a jogar... Nunca o vi assim tão bem, nem pensei que pudesse ser tão bom. Tem sido excecional neste papel de número 10. Liga o jogo e aguenta-o, é muito forte e rápido a executar", descreveu a O JOGO.