Com um plantel mais forte do que no quase-título de 2010 (inédito 2.º lugar), com o hábito de ganhar a entranhar-se (Taça da Liga em 2013 e Taça de Portugal em 2016), falta apoio popular e poder para discutir o título. "Os três grandes estão a olhar para o Braga e não vão deixar que entre no clube", diz Manuel Cajuda
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Nos últimos 15 anos, sob a presidência de António Salvador, o Braga terminou o campeonato dez vezes em 4.º lugar ou acima: 2.º em 2010 e 3.º em 2012. Antes, tinha como melhor registo cinco 4.ºs lugares (1978, 1979, 1984, 1997, 2001). O presidente quer ser campeão até 2021 (centenário), o prudente treinador Abel Ferreira diz que "há que olhar para dentro e superar os próprios recordes". Tem o Braga os ingredientes para ser campeão? "Nim". Várias figuras ligadas ao clube dizem que falta massa social (uma reclamação permanente de Salvador) e que falta maior peso institucional para furar a fronteira delimitada pelos três grandes, FC Porto, Benfica e Sporting. Faltam poderes ao Super Braga.
"Não tem a força pública e a estrutura não é tão grande como as dos três grandes", analisa Domingos Paciência, treinador do histórico 2.º lugar em 2010, em que lutou com o Benfica até à última jornada (e da final da Liga Europa perdida frente ao FC Porto em Dublin em 2011). "Houve momentos-chave em que o Braga precisava de ter essa dimensão para ganhar esses duelos. Estou-me a referir a uma jogada do Benfica, que antecipou um jogo com o Leiria para ficar na frente do campeonato e ter a vantagem psicológica de ser primeiro. E senti, quando houve aquele caso do túnel, em que o Vandinho e o Mossoró foram castigados [o primeiro suspenso três meses; o segundo, três jogos] que o Benfica falou mais alto". "Quando tiver dois milhões de adeptos, aí estará no ponto de poder estar sempre mais próximo do título. Quando digo dois milhões, digo que o Braga não tem massa social como o Benfica e o Porto", aponta.
Num município com quase 182 mil habitantes (85 mil jovens), o Braga tem 25 mil sócios e uma média inferior a 12 000 espectadores por jogo. Isso pesa nas finanças e na influência para discutir com FC Porto, Benfica e Sporting
"As finanças ficaram mais saudáveis e permitiram a contratação de treinadores e jogadores, mas admito que o "braguismo", que sempre existiu, teve em 2010 e 2011 um íman que potenciou uma maior agregação de adeptos", diz por seu lado António Pedro Peixoto, candidato derrotado nas eleições de maio de 2017. O ex-guarda-redes do futsal bracarense, no entanto, assente num fator comum a muitos analistas: "O Braga como Braga precisa de, e merece, muitos mais adeptos e apoio da cidade. Pesa no orçamento, nas quotas e na influência".
24.459 sócios, 65% com as quotas em dia
Inserido num município com quase 182 mil habitantes (85 mil deles jovens), ter uma média de 11.691 espectadores nos jogos em casa "é pouco para um candidato ao título". Zé Nuno Azevedo, que vive na cidade desde que "em julho de 1992" chegou ao plantel até encerrar a carreira 11 anos depois, também aponta a falta de massa social. "Não ganha jogos, mas ajuda a ganhar. Ter 25 mil sócios em 181 mil habitantes é uma percentagem baixa", diz o treinador do Prado, da distrital de Braga (já foi técnico das camadas jovens dos arsenalistas). "Os meus filhos [25 e 21, nascidos em Braga] são do Braga e só do Braga. Foram alvo das conquistas e da ambição", exemplifica.
11.691 é a média de espectadores. Estádio com capacidade para 30 mil pessoas
"Não é o poder que faz diferença. O futebol português, todo ele, está virado para os ditos três grandes - aqui incluo as instituições que gerem o futebol, a comunicação social e a opinião pública, que não estão preparadas, ao contrário de outros países, para ver um clube de uma cidade mais pequena a intrometer-se na luta dos clubes das cidades maiores", interpreta o advogado António Pedro Peixoto.
"Quando vou ao Braga, sou tratado como um menino, um príncipe. Eu próprio me sinto pequenino com as dimensões do clube"
"Quando vou ao Braga, sou tratado como um menino, um príncipe. Eu próprio me sinto pequenino com as dimensões do clube. Sinto-me pequenino", diz Manuel Cajuda, que na década de 90 e início dos anos 2000 ajudou a colocar o Braga num patamar superior (4.º em 1997 e 2001, este na segunda passagem pelo clube). "O mérito é todo do presidente, das direções e dos técnicos que passaram lá", faz questão de lembrar.
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"Não acredito que o Braga possa ser campeão. Não é por culpa do Braga, é por quem está a olhar para o Braga. Claro que os três grandes estão a olhar para o Braga e não vão deixar que entre no clube", dispara.
Numa SAD que acumula bons resultados financeiros - encaixou quase cem milhões de euros no mercado de verão dos últimos cinco anos - e que vai esbatendo a diferença orçamental (acima dos 27 milhões, menos de um terço do campeão FC Porto, 90 milhões, e menos de metade de Benfica e Sporting, 70 milhões), o plantel dá garantias.
"Sem querer ser injusto para esse plantel [2010/11 e 2011/12], que me deu tantas alegrias, considero que o atual plantel no seu todo é mais forte. É um plantel que oferece mais soluções do mesmo nível para as mesmas posições. Podemos ser campeões", conclui António Pedro Peixoto.