"Os avançados só chegam ao pico aos 30 anos. O Lewandowski, por exemplo, está no auge aos 32"
ENTREVISTA - Henrique Araújo fez a formação quase toda em escalões acima do seu, e mesmo assim destacou-se a ponto de somar 143 golos nas últimas 150 partidas. Realça a mobilidade e o trabalho em prol da equipa como mais-valias pessoais
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Com oito golos e quatro assistências, o benfiquista Henrique Araújo é o jogador que, nesta edição da II Liga, tem o número mais elevado de participação direta em golos. Um avançado que realça a mobilidade como característica pessoal, o prazer em participar no jogo coletivo e as virtudes do trabalho.
Como lhe parece que os adeptos o veem?
-Como uma pessoa que trabalha muito e que dá muito à equipa. Procuro mostrar vontade, porque é o principal para um adepto. Eu sou jogador, mas também sou adepto e para mim a primeira coisa que um jogador tem que ter é vontade de jogar pela camisola que veste. Tudo o resto são questões táticas ou técnicas.
Preocupa-se em oferecer golos ou prefere ser objetivo e centrar-se apenas na concretização?
-Um avançado é muito os golos que marca, é verdade, mas aqui na formação do Benfica entendemos que um avançado não é só golos. Precisa de vir buscar jogo, de jogar com os médios, de fazer passes para os extremos e é nisso que me foco. Foco-me nos golos, que é o que gosto mais de fazer, mas também no jogo da equipa e em criar oportunidades.
Marcou 143 golos em 150 jogos nas últimas três épocas e meia. Pode considerar-se simpático...
-Se os números são bons, ainda bem, fico feliz por isso. São os que estava à espera quando vim para o Benfica e agora é dar continuidade.
O que gostava de melhorar no seu jogo?
-Tenho a aprender em todos os aspetos do jogo. Até porque os avançados só chegam ao pico aos 28, 29 ou 30 anos. O Lewandowski, por exemplo, só com 32 anos é que está no auge de forma. E eu creio que vou continuar a crescer na minha carreira e a evoluir em todos os aspetos. Na finalização também.
Quais as suas maiores virtudes?
-Mobilidade. Tenho beneficiado ao jogar com centrais mais velhos. Gosto de participar em jogo apoiado, com os dois médios interiores perto de mim. E depois marcar golos, que é o que mais gosto. É a fazer isso que me divirto.
Muitas vezes jogou acima do seu escalão, certo?
-Sim, no Marítimo, por exemplo, toda a minha passagem foi feita em escalões acima. Quanto ao Benfica, tenho subido e ganho o meu espaço em quase todas as equipas onde tenho passado.
Sente-se um jogador bom, muito bom, fora de série ou espetacular?
-Não sei. Creio que para jogar na equipa B do Benfica um jogador tem que ser bom. Mas ainda tenho um caminho muito grande a percorrer.
Há jogadores muito talentosos que acabam por não ter carreiras brilhantes. Receia que isso lhe possa acontecer a si?
-O que faço é focar-me no trabalho. Quanto ao talento, já vimos muitos jogadores talentosos, mas o trabalho tem que estar lá. Muitos jogadores talentosos não conseguiram ir a lado nenhum e outros menos talentosos conseguiram. Graças ao trabalho, conseguiram ter grandes carreiras. E é assim que nós vemos o futebol aqui. É verdade que para se jogar no Benfica é preciso ter talento, mas o trabalho tem que estar lá sempre.
Tem-se dedicado muito aos estudos?
-Fiz o 12º ano e inscrevi-me na universidade, no ISEG, na área de economia, mas entretanto congelei a matrícula. Andar a fazer as duas coisas ao mesmo tempo estava a ser muito complicado para mim. Inscrevi-me na universidade, entrei, mas depois optei por congelar a matrícula e é esse o ponto da situação neste momento.
No estudo de Economia, os números são preponderantes. Considera que essa vertente pode, de alguma forma, ajudá-lo enquanto futebolista?
-Acredito que um jogador inteligente é sempre melhor jogador. Se tiveres bons resultados também fora do futebol, é excelente, até porque porque os próprios treinadores também valorizam isso. Para além de ser sempre um plano B para o meu futuro, claro.