O que foi dito e decidido no primeiro dia do julgamento do ataque à Academia do Sporting
Dos 44 arguidos, apenas o líder da Juventude Leonina, Nuno Mendes (vulgo Mustafá), e um outro arguido continuam em prisão preventiva; Bruno de Carvalho está sujeito à medida de termo de identidade e residência, existindo ainda 36 pessoas com pulseira eletrónica.
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Arrancou esta segunda-feira aquele que promete ser um dos processos mais mediáticos dos próximos meses - provavelmente anos. O Tribunal de Monsanto, por limitações logísticas do Tribunal de Almada, começou a julgar os 44 arguidos do ataque à Academia Sporting, em Alcochete, entre os quais o ex-presidente dos leões Bruno de Carvalho, acusado de quase 100 crimes, com o foco para os 40 de ameaça agravada, 38 crimes de sequestro, 19 de ofensas à integridade física qualificada e ainda de terrorismo.
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Dos 44 arguidos, apenas o líder da Juventude Leonina, Nuno Mendes (vulgo Mustafá), e um outro arguido continuam em prisão preventiva; Bruno de Carvalho está sujeito à medida de termo de identidade e residência, existindo ainda 36 pessoas com pulseira eletrónica.
Segundo o Ministério Público, os 41 adeptos, a maioria da Juve Leo, mas também dos Casuals, deslocaram-se ao centro de treinos do Sporting num plano "previamente traçado" e conhecido, argumenta-se, não só por Bruno de Carvalho e Mustafá, mas também por Bruno Jacinto, antigo oficial de ligação aos adeptos.
O ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting Bruno Jacinto assumiu em tribunal que omitiu a um agente da PSP a informação de que um grupo da claque Juventude Leonina ia deslocar-se à academia de Alcochete.
O arguido contou que na noite de 14 de maio de 2018 (segunda-feira, véspera do ataque) recebeu um SMS de Tiago Silva, da direção da Juventude Leonina (JL), informando que alguns elementos da claque iriam à academia para confrontar verbalmente a equipa devido à insatisfação pelo não apuramento para a Liga dos Campeões e aos atritos verificados no Aeroporto da Madeira na noite anterior.
Bruno Jacinto disse ao coletivo de juízes que nessa noite reportou a situação por mensagem ao então diretor-geral do clube André Geraldes, na qual mencionava que um grupo da claque ia à academia para falar com a equipa e o treinador Jorge Jesus.
Na resposta, André Geraldes questionou, ainda nessa noite, "quando", com o arguido a responder "amanhã" (15 de maio).
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Em 15 de maio, dia do ataque, por volta da hora de almoço, um elemento dos 'spotters' (equipa da PSP responsável pelo acompanhamento das claques), dado o contexto conturbado que o Sporting vivia e depois do que se tinha passado no Aeroporto da Madeira, perguntou a Bruno Jacinto se "ia alguém à academia", mas o arguido respondeu-lhe que "não sabia se ia alguém".
A revelação consta de um memorando escrito por Bruno Jacinto em finais de setembro, inícios de outubro de 2018, a pedido de um vice-presidente do Sporting, que lhe pediu para colocar por escrito a sua versão dos factos.
O arguido foi confrontado na tarde de hoje com esse documento, que está junto aos autos, o que levou o coletivo de juízes a questionar Bruno Jacinto sobre as razões que o levaram a não comunicar à PSP, pelo menos, de que havia conversas sobre a ida da claque à academia de Alcochete.
"Não achei relevante. Das outras vezes que as claques foram à academia não se passou nada e não havia 'spotters' nem agressões físicas. Não avaliei a situação dessa forma", respondeu Bruno Jacinto.
"Não achei relevante. Das outras vezes que as claques foram à academia não se passou nada e não havia 'spotters' nem agressões físicas. Não avaliei a situação dessa forma", respondeu Bruno Jacinto.
Bruno Jacinto foi o único dos 43 arguidos presentes (Fernando Mendes, ex-líder da JL, justificou a ausência devido a questões de saúde) a querer prestar declarações na primeira sessão do julgamento da invasão à academia do Sporting, em Alcochete, distrito de Setúbal, em 15 de maio de 2018, que começou na manhã desta segunda-feira no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.
Este arguido contou que quando chegou à academia viu cinco elementos da claque JL, arguidos no processo, entre os quais Fernando Mendes, a falar com o jogador William Carvalho e outros elementos do 'staff' do clube, numa altura em que o ataque já tinha acontecido e do qual afirmou nunca ter tido conhecimento.
O ex-funcionário do Sporting relatou ainda que em abril de 2018, um ou dois dias após a derrota em Madrid e o post feito na rede social Facebook pelo então presidente do clube Bruno de Carvalho, houve uma reunião na sede da Juve Leo
O ex-funcionário do Sporting relatou ainda que em abril de 2018, um ou dois dias após a derrota em Madrid e o post feito na rede social Facebook pelo então presidente do clube Bruno de Carvalho, houve uma reunião na sede da Juve Leo, conhecida como casinha, junto ao Estádio de Alvalade, na qual marcaram presença Bruno de Carvalho, André Geraldes e entre 40 a 50 elementos da claque Juve Leo, incluindo a sua direção.
Entretanto, a defesa de muitos arguidos pediu que os respetivos constituintes pudessem estar ausentes durante o julgamento, uns por se encontrarem a trabalhar, outros por estudarem.
O advogado de Bruno de Carvalho também pediu que ex-presidente do Sporting pudesse ser dispensado de marcar presença nas audiências, a não ser naquelas que o tribunal entenda necessário.
"Não tem meio de transporte próprio, tem ocupação profissional, duas horas de manhã e duas horas à tarde, e está totalmente depauperado", justificou o advogado Miguel Fonseca.
A presidente do coletivo de juízes, Sílvia Pires, acedeu aos pedidos de cerca de duas dezenas de arguidos, incluindo o de Bruno de Carvalho.
O ex-presidente, à saída do tribunal, defende que os visados pelo ataque à Academia poderiam ter sido colocadas em segurança naquele dia. E por isso pede uma reconstituição.
O julgamento, que pertence ao Tribunal de Almada, mas por questões de logística e de segurança realiza-se em Monsanto, em Lisboa, prossegue na terça-feira e na quinta-feira, com a inquirição de militares da GNR e agentes da PSP: três de manhã e outros três à tarde, em ambos os dias.
Bruno de Carvalho, que disse ser atualmente comentador, Mustafá e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos, estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Os três arguidos respondem ainda por um crime de detenção de arma proibida agravado e Mustafá também por um crime de tráfico de estupefacientes.
Aos arguidos que participaram diretamente no ataque à academia, o MP imputa-lhes a coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.