O meu 25 de Abril | "Trocavam-se palavras a dizer que havia tiros à entrada de Lisboa"
50 anos do 25 de Abril >> Shéu, antigo jogador do Benfica, recorda o dia da Revolução dos Cravos e analisa o que mudou no futebol em Portugal ao cabo de 50 anos de democracia
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Onde estava no 25 de Abril?
Quando saí de Moçambique tinha 15 anos e já tinha noção do que se passava e do que podia acontecer. Tínhamos notícias de outros sítios que não só de Portugal. Tínhamos essa perceção e antes de vir para o Benfica não era grande surpresa que pudesse acontecer. No dia, saí de manhã para ir treinar e estava a acontecer. Trocavam-se palavras a dizer que havia tiros à entrada de Lisboa. Lembro-me de ir a caminho do treino, no Estádio da Luz, e que havia limitações para ir para aqueles lados porque a revolução estava a acontecer e que havia inclusivamente tiros. Morava ali perto e ia a pé para o treino. No regresso a casa é que tivemos a certeza do que estava a acontecer e com pormenores, até ao vermos as notícias.
Como analisa a evolução do futebol de então para cá?
Portugal, pelo facto de estar um país aberto, absorveu tudo o que eram mudanças no sentido positivo e de dar às pessoas a capacidade de decidirem por si próprias e isso também influenciou o crescimento do futebol. A própria legislação era totalmente avessa à liberdade dos jogadores e evoluiu. Portugal ombreia desde então com o resto da Europa. Embora não sendo um país rico, com clubes com as posses de outros, vai ombreando desportivamente com os maiores. A própria Europa e resto do mundo têm usufruído dessa evolução através de jogadores e treinadores. Estamos mano a mano com os melhores.