O meu 25 de Abril | "Responde-me ele: 'Não me chame Governador que está a acontecer uma Revolução'"

Onde estava no 25 de Abril?
Na noite de 24 de abril fui jantar ao Casino do Estoril com um amigo que era o Governador Civil de Faro e quando me deitei, já tarde, ainda não tinha dado conta do que se estava a passar. Mas de manhã, esse mesmo amigo liga-me e eu digo-lhe: “Então sr. Governador o que passa?” e responde-me ele: “Não me chame Governador que está a acontecer uma Revolução.” Um pouco mais tarde, fui até à Baixa e almocei no Hotel Mundial e dali tinha vista para o Quartel do Carmo. Percebi o que estava a suceder, com toda a gente na rua e também fui até ao Quartel do Carmo, quis ir ver com os meus olhos.

"Um pouco mais tarde, fui até à Baixa e almocei no Hotel Mundial e dali tinha vista para o Quartel do Carmo. Percebi o que estava a suceder, com toda a gente na rua e também fui até ao Quartel do Carmo, quis ir ver com os meus olhos"

Foi uma alegria grande ver aquilo, a felicidade das pessoas. A maioria, em especial os mais jovens, ansiavam por uma mudança de regime e liberdade que não existia. Foi muito bom para Portugal e temos todos de estar agradecidos aos capitães de Abril, porque foram eles que fizeram a Revolução. E as coisas mudaram para melhor, havia muita coisa que não estava bem no nosso país e que não fazia qualquer sentido. Só para dar um exemplo, Angola pertencia a Portugal mas não se podia viajar para lá sem uma carta de chamada...

Como analisa  a evolução do futebol de então para cá?
Pela minha experiência a maior mudança aconteceu sobretudo nos últimos anos. Houve um período muito grande em que o Sporting era muito prejudicado, mesmo quando tinha a melhor equipa e não deixavam que ganhasse nada. O FC Porto e Pinto da Costa tinham um grande poder, na federação, na Liga, nas arbitragens. Hoje há mais verdade desportiva.