O meu 25 de Abril | "Ouvi no rádio que os militares tinham tomado conta do país"
50 anos do 25 de Abril >> O treinador Jesualdo Ferreira recorda o dia da Revolução dos Cravos e analisa o que mudou no futebol em Portugal ao cabo de 50 anos de democracia
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Onde estava no 25 de Abril?
Estava a dar aulas no Estoril e, quando ia a caminho, ouvi no rádio que os militares tinham tomado conta do país. Depois foi só acompanhar o que se passava nos dias a seguir ao 25 de Abril. Passados 50 anos, para mim parece que foi ontem. Em junho desse ano de 1974 entrei na Federação Portuguesa de Futebol, onde começou a minha vida profissional. Entrei para formar uma equipa técnica onde estava o José Maria Pedroto, como treinador principal, depois eu estava “cá em baixo”, na formação. A partir daí, e até à época passada, fiz 49 anos sem deixar de trabalhar.
"Quem tinha alguma coisa na cabeça e um passado político, embora curto, tinha noção que estava a acontecer aquilo que muitos de nós desejávamos, ou seja, uma saída para a democracia"
Quem tinha alguma coisa na cabeça e um passado político, embora curto, tinha noção que estava a acontecer aquilo que muitos de nós desejávamos, ou seja, uma saída para a democracia. Ainda hoje continuámos a discutir isso, a fazer eleições e tudo aquilo que é possível, nomeadamente alguma informação e interferência. Foi uma mudança que não foi trágica e violenta, como aconteceu noutros países. Se estivermos atentos à história das democracias, alguns países, como a Espanha, evoluíram mais depressa do que nós, porque tinham substrato político muito grande e, sob o ponto de vista económico, eram muito mais fortes. Naquele tempo havia as colónias ricas que ajudavam o país, mas não para aquilo que era o mais importante, nomeadamente para a saúde e para a qualidade de vida dos habitantes de Portugal.
Como analisa a evolução do futebol de então para cá?
Até ao 25 de abril de 1974 o futebol já era profissional, mas é bom não termos dúvidas como surgiam os estatututo profissionais, tanto dos jogadores como dos treinadores. A formação de treinadores era pouco rica. Digamos que era necessário ter estatuto e. normalmente. eram os ex-jogadores que tinham esse estatuto e podiam treinar. Não havia regras, ou melhor, havia algumas, mas aquelas que havia nós fomos alterando.
Passamos a ter uma Liga profissional, passamos a ter uma Federação que agora é top no mundo, temos uma formação muito forte e com muita qualidade
Passamos a ter uma Liga profissional, passamos a ter uma Federação que agora é top no mundo, temos uma formação muito forte e com muita qualidade. Antes já tinha qualidade, mas faltavam infraestruturas e pouca formação. Em relação ao futebol, estamos entre os melhores, o mesmo acontecendo em relação aos jogadores e aos treinadores.