O meu 25 de Abril | "O futebol era para analfabetos e para quem não levava os estudos adiante"
50 anos do 25 de Abril >> Eduardo Luís, antigo defesa do FC Porto, recorda o dia da Revolução dos Cravos e analisa o que mudou no futebol em Portugal ao cabo de 50 anos de democracia
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Onde estava no 25 de Abril?
Tinha 18 anos. Sou de Lisboa e estava a jogar nos juniores do Benfica, que na altura organizava um torneio internacional. Essa edição teve de ser adiada por causa do fecho dos aeroportos. A revolução fez parar tudo. Passaram 50 anos e a sensação que tenho é a de que foi ontem... Parece incrível. Naquela fase, estava tudo um bocado anárquico. Logo a seguir àquele dia, as pessoas não sabiam bem o que esperar, até por terem estado tantos anos sujeitas àquela ditadura. Estavam, digamos, atrofiadas.
Como analisa a evolução da sua modalidade/clube de então para cá?
As condições melhoraram e para muito melhor. Uns anos mais tarde, houve a entrada na União Europeia, o que fez com que Portugal fosse ajudado em diversos aspetos. No futebol, só havia dois escalões de formação, juvenis e juniores. Hoje, os miúdos jogam à bola desde bebés, quase. O futebol era para analfabetos e para quem não levava os estudos adiante, agora os pais até empurram as crianças para jogarem... A maior parte dos clubes tinha só o campo de jogos e mais nada. Depois, os campos pelados foram desaparecendo, mas ainda joguei em muitos. E os estádios têm todos grandes condições, com bancadas cobertas. Antes do 25 de Abril, não havia cadeiras. Levava-se as almofadas e, no final, algumas eram atiradas para o campo... O Estádio das Antas só tinha uma tribuna coberta. Quem não se lembra daquelas imagens dos guarda-chuvas a taparem por completo as bancadas das Antas? E alguns guarda-chuvas também voavam para o relvado no fim. Hoje, em termos gerais, tudo é mais cómodo.