O meu 25 de Abril | "Houve uma consequência que o FC Porto aproveitou muito bem"
50 anos do 25 de Abril >> O antigo futebolista, José Alberto Costa, que se destacou no FC Porto, recorda o dia da Revolução dos Cravos e analisa o que mudou no futebol em Portugal ao cabo de 50 anos de democracia
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Onde estava no 25 de Abril?
Estava a estudar na universidade de Coimbra e a jogar na Académica. Tinha-me deitado tarde, porque tinha estado a estudar, e acordei com o rádio despertador que tinha no quarto que partilhava com um colega. Começámos a ouvir aquelas marchas militares e disse-lhe: ‘Passou-se alguma coisa. Hoje isto está estranho’. O quarto ficava em frente à sede da Associação Académica de Coimbra e ainda hoje se mantém por lá.
"Começámos a ouvir aquelas marchas militares e disse-lhe: ‘Passou-se alguma coisa. Hoje isto está estranho’"
Levantámo-nos, fomos tomar o pequeno-almoço lá ao pé e foi nessa altura que tivemos conhecimento do que se estava a passar. Juntaram-se várias pessoas e estivemos na expectativa, porque ninguém sabia bem o que ia dar. À tarde, quando fomos treinar, os colegas mais velhos já estavam mais dentro do assunto e tivemos a noção de que algo importante se podia estar a passar.
Como analisa a evolução do futebol e do FC Porto de então para cá?
Houve uma consequência do 25 de Abril que o FC Porto aproveitou muito bem e que culminou com o final do período de jejum sem ganhar o campeonato. No meu primeiro ano fomos bicampeões e o FC Porto começa a ter uma presença e uma influência que não tinha. O futebol na altura também era diferente.
"Quando ia marcar os cantos, tinha que pedir às pessoas que estavam ao pé da bandeirola para se afastarem para tomar balanço para correr para a bola. Hoje isso era impossível"
Tudo o que gira à volta de uma equipa passou a ser um negócio. Sou do tempo em que havia sobrelotação nos estádios, que tinham pistas de atletismo ou ciclismo. Quando ia marcar os cantos, tinha que pedir às pessoas que estavam ao pé da bandeirola para se afastarem para tomar balanço para correr para a bola. Hoje isso era impossível. Não deixava de haver rivalidades fortes, mas não eram tão fanáticas, tão lunáticas, tão cegas como hoje. Era possível haver rivalidades, mas mais respeito pelos outros.