O meu 25 de Abril | "Estava na Guiné. Só foram mobilizados jogadores do FC Porto, do Benfica nada"
50 anos do 25 de Abril >> Lemos - antigo avançado do FC Porto, jogava no União de Bissau em 1974 -, recorda o dia da Revolução dos Cravos e analisa o que mudou no futebol em Portugal ao cabo de 50 anos de democracia
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Onde estava no 25 de Abril?
Tinha sido mobilizado para a Guiné e estava em Bissau. Um comandante tramou-me no quartel da Senhora da Hora, por causa de um estacionamento numa zona de oficiais. Fui sendo castigado até ser enviado para a Guiné. E era angolano. O FC Porto tentou evitar, mas o poder que tinha era nulo. Se repararmos, só foram mobilizados jogadores do FC Porto, como eu, o Seninho ou o Chico Gordo. De Lisboa, nada. Após oito meses no mato, fui para Bissau, onde já podia jogar futebol.
FC Porto tentou evitar, mas o poder que tinha era nulo. Se repararmos, só foram mobilizados jogadores do FC Porto, como eu, o Seninho ou o Chico Gordo. De Lisboa, nada
Dá-se a revolução, a 24 éramos bombardeados por notícias hora a hora, mas confusas. Os oficiais não estavam bem documentados. Só a 25 e 26 é que percebemos que tinha mesmo vingado. Foi uma alegria enorme. A 26 já sabíamos que íamos embora, que deixávamos de ter a vida em risco, pois as balas não levam nome. Era deixar um lugar que não era o meu, saber que podia voltar a casa e retomar a carreira.
Como analisa a evolução da sua modalidade/clube de então para cá?
Mudou tudo e para muito melhor. Nada é comparável. Temos a nossa liberdade em tudo. Naquele tempo o futebol tinha coisas muito obscuras, os jornalistas não as conseguiam descobrir tanto e escrever sobre elas. Era tudo na base da obediência, regras muito apertadas, diretores muito difíceis. Qualquer coisa que fugisse do controlo ou que não gostassem, estávamos feitos num oito. E temos de ver o que aconteceu em Portugal, ao ponto de ter organizado um Europeu. Temos imensos estádios modernos, enquanto que as condições anteriores eram terríveis. Era tudo em cimento.