50 anos do 25 de Abril >> Veiga Trigo, antigo árbitro internacional, recorda o dia da Revolução dos Cravos e faz o diagnóstico da arbitragem portuguesa após 50 anos de democracia
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Onde estava no 25 de Abril?
Estava a cumprir serviço militar em Angola, numa cidade a cerca de mil quilómetros de Luanda, e passou-se um caso muito engraçado. O comandante de setor e o seu adjunto, quando receberam a notícia do 25 de Abril, fecharam-se no seu gabinete e não disseram nada a ninguém. Só soubemos o que estava a passar-se em Portugal através da rádio do MPLA, o Angola combatente.
"E até nos aconselhou a nós, militares portugueses, a abandonar as armas, para deixarmos tudo. 'A guerra acabou, caiu o fascismo em Portugal, vocês agora são livres', era o que ouvíamos"
E até nos aconselhou a nós, militares portugueses, a abandonar as armas, para deixarmos tudo. “A guerra acabou, caiu o fascismo em Portugal, vocês agora são livres”, era o que ouvíamos. Simplesmente, só passados seis dias é que esse coronel e esse major, que era adjunto, é que disseram às forças que estavam naquela região que tinha havido um golpe de Estado em Portugal.
Como analisa a evolução da arbitragem de então para cá?
Após o 25 de Abril houve uma evolução muito grande. Antes do 25 de Abril, os árbitros podiam apitar com idades já muito avançadas. Quando subi à primeira categoria, em 1979, tinha colegas com 50. O quadro estava muito limitado a nível de idades. Notava-se muito nas provas físicas, principalmente no teste Cooper.
"Eu tinha de fazer 2800 metros e colegas meus só faziam 1600. Era proporcional à idade. A partir de 1984/85 houve uma evolução muito grande, porque começou a a aparecer gente mais nova na arbitragem"
Eu tinha de fazer 2800 metros e colegas meus só faziam 1600. Era proporcional à idade. A partir de 1984/85 houve uma evolução muito grande, porque começou a a aparecer gente mais nova na arbitragem. Atualmente, nota-se que há muita falta de qualidade. Com as condições que são proporcionadas aos árbitros, a nossa arbitragem deveria estar muito mais evoluída e, infelizmente, continua carregada de problemas.