"O Maxi Pereira no Benfica deu-me muito trabalho e gostava de dar umas porradas"
Dezasseis anos a fazer o que adora, 14 dos quais em Portugal, e uma forma de encarar a profissão - e a vida - que já parece difícil de encontrar: Mateus está orgulhoso mas tem fôlego para muito mais.
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Importante em todos os clubes que defendeu, Mateus aplica conselhos valiosos para ainda correr que se farta aos 34 anos. Tão frontal quanto bem humorado, o avançado do Boavista explica o que lhe faltou para outros voos.
Crê que a sua carreira podia ter atingido outros palcos?
-Acho que sim, mas não lamento nada. Olhando para trás, se eu tivesse alcançado a maturidade que tenho hoje um bocadinho mais cedo... Conseguia fazer grandes jogadas, mas chegava à baliza e dava um estouro, falhava muitos golos. Muitos empresários e treinadores diziam "O Mateus é muito bom, mas..." chegava ali e falhava. Se calhar, agora não crio tanto, mas na maioria das bolas consigo marcar. Há jogadores que conseguem alcançar essa maturidade muito cedo e tornam-se jogadores de elite. Faltou-me ser mais concretizador na fase mais nova, podia ter dado outros saltos, mas estou muito satisfeito.
"O Ulisses Morais teve a coragem de apostar num jogador que vinha do Lixa"
Que treinadores o marcaram?
-O Ulisses Morais teve a coragem de apostar num jogador que vinha do Lixa. Posso destacar o Pedro Caixinha, o que conseguiu tirar o melhor do mim, fiz a época mais produtiva em termos de golos e assistências, no Nacional. O Lito Vidigal também... já estive com ele no Arouca e na seleção de Angola.
Ainda usa conselhos deles?
-O Pedro Caixinha dizia que a velocidade era a primeira coisa que um jogador rápido perdia. Nos exercícios de velocidade, dizia-me para dar sempre o máximo e hoje os meus colegas dizem: "Mateus, ainda estás muito rápido!" Outro conselho é para tentar chegar sempre à área, mesmo que esteja cansado. A bola pode sobrar para mim. Com o Feirense marquei assim.
"Há um estigma com a idade, mas o futebol é rendimento, sejas novo ou velho. Tento sempre cuidar-me, vejo exemplos bons, como o Cristiano Ronaldo"
É por isso que ainda faz 90 sobre 90 minutos? Para um extremo de 34 anos não é fácil...
-Há um estigma com a idade, mas o futebol é rendimento, sejas novo ou velho. Tento sempre cuidar-me, vejo exemplos bons, como o Cristiano Ronaldo. Sinto-me bem, vou continuar enquanto tenha disponibilidade e, principalmente, amor pelo jogo. Desde que mantenha uma boa forma, de certeza que serei uma opção válida. Adoro jogar e ver as pessoas alegres com a maneira como eu jogo. Se perder essa paixão, é altura de parar.
Os jogadores esquecem-se um pouco desse prazer?
-Sim. Mas eu tento passar aos meus colegas que, mesmo que seja um jogo com uma pressão extra, é sempre um jogo de futebol. Vamos fazer aquilo de que gostamos, tentar aproveitar ao máximo e divertir-nos. Se eu fosse adepto e visse um jogo sem emoção, fintas e coisas que nos fazem aplaudir e dizer "aaah"... seria muito aborrecido. Quando me perguntam: "Então, estás nervoso?" Não... isso aí é o meu jardim, como jogo na minha casa, vou jogar para me divertir. Ao início, os colegas ficam admirados. Uma vez tentei fazer um remate, caí, não acertei na bola e fiquei a rir no chão. Achei engraçado, é o futebol! Não foi isso que me tirou o foco no jogo, continuei a jogar. Têm de levar isso na brincadeira.
"ADVERSÁRIO MAIS DIFÍCIL? TIVE GRANDES DUELOS COM O PEDRINHO"
Mateus levou uns bons segundos a pensar quando lhe perguntámos pelo adversário mais difícil que encontrou. "O Pedrinho, na altura da Académica, era muito chato. Marcava sempre, era rápido. Tinha muitas dificuldades sempre que jogava com ele, mas gostava de o defrontar, a cada jogo tentava superá-lo, eram grandes duelos. Sempre gostei de desafiá-lo, ele se calhar também se preparava bem", disse, bem-disposto, antes de apontar outro quebra-cabeças: "O Maxi Pereira no Benfica também me deu muito trabalho e gostava de dar umas porradas [risos]."