"O Major chamou-me atrás do autocarro e com aperto de mão foi feita a renovação"
Coelho formou-se no FC Porto e notabilizou-se no Bessa, na década de 1980. Carisma de Valentim Loureiro vale uma de muitas histórias
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Formado no FC Porto, onde ainda foi sénior na época 1980/81, Coelho foi um avançado que se notabilizou, sobretudo, no Boavista, afiando garras pelas panteras durante oito épocas, suficientes para fazer um total de 201 jogos e sorrir com 41 celebrações de golos. Natural de Penafiel, o avançado, hoje dono da pousada Casa Portuguesa no Brasil, na zona de Recife, chegou à Seleção Nacional a partir do que fez no Bessa, conquistando oito internacionalizações e somando dois golos em empates contra Suécia e Grécia.
De visita a Portugal, o dérbi da Invicta convoca paixões imediatas e memórias irresistíveis e o coração de Coelho coloca-o bem mais alinhado nos interesses dos axadrezados. “É um grande jogo, nunca importa como estão os clubes na tabela. Sabemos que o Boavista vive um momento complicado, mas se há jogo que nunca é fácil para o FC Porto é este. São jogos especiais entre os clubes mais representativos do norte e, sobretudo, da cidade. Se há clube que me marcou, foi o Boavista, pelos anos, pela Taça e por me ter feito internacional”, argumenta a O JOGO José Coelho, de 63 anos, que praticamente correu toda a década de oitenta de xadrez ao peito, provando essa ascensão conduzida por Valentim Loureiro. “Foi um crescimento forte, mas paulatino. O Major foi uma figura decisiva, sempre soube definir os passos a dar nesse crescimento, acabando por ser campeão já com o filho João Loureiro na presidência. Celebrei imenso essa conquista, um momento muito merecido”, vinca Coelho, ainda marcado pelo carisma e poder decisório de uma figura ímpar do futebol português. “Tenho uma história ótima com o Major, de quem ainda sou amigo. E é algo que dá para ver a palavra por trás de um aperto de mão. Naquela época isso valia mais do que uma assinatura. Quando fui internacional A pela primeira vez, contra a Suécia, em que também fiz um golo, estava a terminar contrato com o Boavista. Em surdina falava-se que ia abandonar o clube. O Major, sabendo dessas conversas, chamou-me atrás do autocarro e, ali mesmo, através de um cartão de visita, com um aperto de mão, foi feita a renovação por três anos. Ele aproveitou e anunciou logo à Comunicação Social”, graceja o antigo avançado, rendido a Valentim Loureiro e Pinto da Costa, considerando que não “existem mais presidentes” dessa estirpe.
Da longa vida no Bessa, pesam ainda extraordinárias recordações de um balneário que ia recebendo gente graúda, autênticas trutas. “Como gostava, e ainda hoje gosto, muito de sauna, o Alfredo e o Carlos Manuel, que eram dois dos grandes brincalhões desse grupo, apanhavam-me lá dentro e atiravam-me sempre baldes gelados. Uma surpresa terrível. Pernas para que te quero! No Boavista havia sempre um balneário excelente e todas as quartas, depois dos treinos, íamos almoçar juntos. E isso foi feito durante muitas épocas. Agora já poucos fazem isso”, lamenta Coelho, que viveu a conquista da Taça de Portugal de 1991/92 com Manuel José ao leme: “São momentos inesquecíveis que ficam para a vida”.
Reisinho e Samu nos destaques
Formado no FC Porto, Coelho não teve sorte quando subiu ao plantel principal, em 1980/81, ficando-se por seis aparições, as únicas com a camisola portista, tapado especialmente pelo irlandês Walsh. Fazia parte de uma geração de luxo, jogando ao lado de João Pinto, Jaime Magalhães e Bandeirinha, que acabaram campeões europeus em 1987. “Conquistei títulos na formação, campeão de juniores e juvenis, com esses grandes jogadores e outros de muita qualidade. No meu ano de juniores, fomos seis ou sete promovidos ao plantel principal. Destacavam-se o João e o Jaime, que se tornam grandes campeões, símbolos do clube e do futebol nacional. Foi uma grande equipa que se fez a partir desse tempo”, sublinha Coelho. “Naquela altura era muito complicado mudar do FC Porto para o Boavista! Mas sempre fui muito bem tratado no Boavista. Eram dois clubes geridos por dois excelentes presidentes. O Valentim Loureiro gostou do meu rendimento na primeira época e comprou a minha carta ao FC Porto. Com o meu consentimento, porque não queria voltar”, sustenta o antigo avançado.
Saltando para a atualidade, Coelho vê a equipa portista a afinar depois das dificuldades no pós-Sérgio Conceição, e um Boavista em franca encruzilhada. “Pelo Boavista destaco a equipa no seu todo, mas há um jogador que gosto muito que é o Reisinho. No FC Porto, vou pela escolha inevitável do Samu e do miúdo que está a fazer furor até pela idade que tem: o Mora parece um jogador experiente. É certo que vai dar um grande atleta”, avisa.
Íntimo do sucesso português no Brasil
Feliz e confortável no negócio em que investiu, Coelho confessa-se maravilhado com o sucesso luso no Brasil, tão próximo de si. “O impacto tem sido enorme e os técnicos têm sido cada vez mais requisitados. Todos têm feito trabalhos espetaculares. Primeiro o Jorge Jesus, alguém à frente do seu tempo, com quem subi no Felgueiras, de quem guardo capacidades incríveis. Depois o meu conterrâneo Abel, também treinado por Manuel Potinho, o meu mestre da formação no Penafiel. O Abel já deixou provas com muitos títulos, agora o Artur Jorge, que foi meu adversário, fez o que ninguém tinha feito no Botafogo. E não esquecer o Pepa que subiu o Sport Recife, um clube que vou apoiando pela proximidade”, comenta Coelho.