No banco dos dragões estará um Vítor Bruno "afável", de quem o treinador do FC Porto "não abdica". No outro, um João de Deus "admirador e adepto assumido das ideias" do técnico das águias. Diogo Valente trabalhou com os dois adjuntos e, a O JOGO, faz o raio-X aos técnicos que vão substituir Conceição e Jesus na quinta-feira
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O clássico de quinta-feira (20h45), o primeiro de dois entre FC Porto e Benfica no espaço de uma semana, ficará desde logo marcado pelas ausências de Sérgio Conceição e Jorge Jesus dos bancos, ambos suspensos pelo Conselho de Disciplina da FPF. Como tal, a orientação das equipas ficará a cargo dos adjuntos Vítor Bruno e João de Deus, respetivamente, técnicos com os quais Diogo Valente trabalhou em momentos diferentes da carreira.
"O João de Deus sempre foi muito meticuloso em relação ao treino, olha muito para a parte tática, estava constantemente atento e ia ao mais ínfimo pormenor, sempre com uma postura séria no trato dos jogadores", define a O JOGO o extremo do Salgueiros, que apanhou o agora assistente de Jesus como treinador principal no Gil Vicente, no início de 2014/15.
Na época anterior, foi treinado por Conceição na Académica, altura em que privou com Vítor Bruno. "O Vítor segue a linha de trabalho e é o homem de confiança do Sérgio. É aquele elemento do qual Conceição não abdica por nada. Talvez por ser adjunto, o Vítor tinha uma relação mais próxima dos jogadores, mais afável. Também era sério, claro, mas conseguia equilibrar com uma faceta mais descontraída. O João de Deus era mais sério. A relação era boa, mas ligeiramente diferente. Talvez por ser o líder da equipa técnica", explica ao nosso jornal o jogador que também passou, entre outros, por clubes como Boavista, Braga e... FC Porto.
Da experiência que teve com ambos, há uma ideia que ficou bem clara para Diogo Valente: tanto um como outro foram moldados à imagem dos treinadores que auxiliam.
No caso de João de Deus, a admiração já vinha de trás, bem antes de se juntar à equipa técnica de JJ. "Sempre foi adepto do trabalho de Jesus. Era muito fiel ao sistema privilegiado pelo Benfica, na altura, e nós [jogadores] tentávamos atuar num estilo de jogo muito parecido. As ideias que defendia eram semelhantes às de Jesus, sempre notámos isso", conta, sobre um técnico que, com Jesus e para lá do Benfica, já passou por Al-Hilal e Flamengo.
No caso de Vítor Bruno, enquanto braço-direito de Sérgio Conceição, Valente garante que "absorve o conhecimento" do "mentor" e que a importância crescente que foi adquirindo é ilustrativa da confiança que tem merecido. "Não tenho dúvidas de que é pela qualidade que demonstra que ele [Vítor Bruno] está com o Sérgio há tantos anos. Já o disse e repito: é, neste momento, a pessoa de confiança do treinador do FC Porto. É muito interventivo no dia a dia, assume muitos momentos nos treinos, notou-se sempre grande competência. Antes, o número dois do Sérgio era o Jorge Rosário. Depois, chegou a vez do Vítor, com certeza pelo trabalho que fez", lembra Diogo Valente, ressalvando que o filho do histórico treinador Vítor Manuel acaba, em certas ocasiões, por contrabalançar o "mau humor" gerado pelas derrotas.
"Como se sabe e ele próprio assume, além de ser bastante exigente, o Sérgio Conceição tem aquela personalidade difícil quando as coisas não correm bem. Ele lida muito mal com a derrota. E o Vítor Bruno tem a capacidade de tentar e conseguir amenizar o ambiente", afiança o extremo, de 37 anos, baseado na última temporada que passou em Coimbra (2013/14). "O Vítor, por ter uma relação de proximidade com os jogadores, quase acaba por ser um de nós, com as devidas diferenças e distanciamento. Dada a personalidade do Sérgio, consegue dar um ponto de vista diferente após um mau resultado", acrescenta.
Em jeito de conclusão, Diogo Valente faz questão de sublinhar a admiração que nutre por Vítor Bruno e João de Deus, referindo que os dois técnicos "estão no mesmo nível de capacidade".
O clássico não será o primeiro jogo em que terão de assumir as rédeas de FC Porto e Benfica - já o fizeram na jornada anterior do campeonato, por exemplo -, mas pode muito bem ser um dos mais importantes, até porque quem perder despede-se da Taça de Portugal.
Experiência de João de Deus sem "influência"
Antes de se juntar à equipa técnica de Jorge Jesus, João de Deus acumulou vasta experiência como treinador principal. Por outro lado, Vítor Bruno, seis anos mais novo, tem feito um percurso nos bancos exclusivamente como adjunto. Mas Diogo Valente acredita que esse não será um fator decisivo no duelo de quinta-feira.
"A diferença não passará por aí. Não é algo que vá influenciar o desempenho das duas equipas. Os treinadores principais não vão estar nos bancos, mas as indicações serão passadas na mesma. Os jogadores sabem que, naquele momento, os treinadores serão o Vítor Bruno e o João de Deus, mas toda a gente terá a lição bem estudada", assinala o futebolista.
Recorde-se que, além dos clubes que orientou em Portugal, Angola, Espanha, Índia e Chipre, João de Deus esteve ainda ao leme da seleção de Cabo Verde.
Vítor Bruno a solo é "questão de tempo"
Diogo Valente não tem dúvidas: Vítor Bruno está destinado a fazer sucesso como treinador principal no futuro. "Eu e outros jogadores já comentávamos que daria um excelente técnico a solo, quer pela capacidade tática que tem, quer pela relação com os atletas", afiança a O JOGO o extremo do Salgueiros, que, ainda assim, não antevê uma separação de Sérgio Conceição para breve. "A verdade é que não vejo isso acontecer enquanto o Sérgio andar no futebol, porque valoriza muito a presença do Vítor. Mas é uma questão de tempo e, quando chegar a hora, será muito bem sucedido", prevê.