Em grande em Inglaterra, mas com um olho na liga portuguesa, onde FC Porto e V. Guimarães o têm impressionado. Os campeões não podem relaxar e o treinador será decisivo nisso, acredita Ricardo Pereira, por estes dias em destaque na Premier League
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Nas bocas do mundo pelo grande golo ao Manchester City a valer a vitória do Leicester, Ricardo Pereira acredita que 2018 foi o "melhor ano da sua carreira". É fácil explicar porquê. "O FC Porto, o título nacional, a chamada ao Mundial e a entrada na Premier League...", enuncia. No princípio da cronologia está o Dragão e um título tão festejado como complicado e que até pode, agora, ajudar a equipa no ataque ao bicampeonato. "O FC Porto teve um início complicado. É sempre difícil essa fase, porque chegam jogadores novos. Mas aguentaram bem, deram a volta por cima e tenho a certeza que depois desta vantagem não vão relaxar. Não podem relaxar e nem o Sérgio Conceição deixa. Os jogadores também sabem disso. No ano passado, percebemos que a distância não permite facilitar. Espero que não passem pelo mesmo e seja mais tranquilo do que o ano passado", comentou, a propósito, em exclusivo a O JOGO.
No FC Porto 2018/19 há uma situação que Ricardo já viveu no passado: um extremo sem lugar cativo virou lateral. Como é receber um pedido desses do treinador? "Eu acolhi bem o pedido, mas tive algum receio das questões defensivas. Foi a parte mais difícil, mas tive de me habituar. No ataque estava mais à vontade e Corona está mais do que à vontade também. No estilo do FC Porto, um lateral ofensivo é peixe dentro de água", considerou.
"No ano passado percebemos que a distância não permite facilitar. Espero que agora o FC Porto não passe pelo mesmo e seja mais tranquilo"
Para Ricardo, não há grandes dúvidas: "Corona tem condições para se afirmar a lateral". Ainda que a adaptação o tenha surpreendido. "No ano passado, nunca treinou como lateral. Ou então já não me lembro", riu, bem-disposto. "Começou apenas agora, mas tem feito boas exibições e ajudado a equipa. Tem mais do que qualidade para ser lateral, isto se continuar a trabalhar na posição e a aprender as particularidades da mesma", alongou. O mais difícil é mesmo mudar o chip. A não ser que essa mudança vire rotina. "Quando voltei a ser extremo, aqui no Leicester, senti dificuldades a mudar o chip. Mas já há muito tempo que era quase só lateral. Quando mudava com frequência, a adaptação instantânea é mais fácil e acaba por ser natural hoje jogarmos a lateral, no próximo jogo a extremo. Essa mudança torna-se fácil", garante.
O ex-portista passou por uma adaptação semelhante e vaticina uma aposta certeira de Sérgio Conceição. Basta que o mexicano mantenha o interesse em aprender
Com Corona atrás, mais espaço sobra para Otávio na frente. Em 2017/18, "quase só jogava na esquerda ou no meio, mas em qualquer posição ele tem qualidade para jogar. Ele marca, assiste, cria jogadas...", frisa. "Até como segundo avançado. Foi pena a lesão vir nesta altura. Mas é como eu lhe disse: só tem de pensar em recuperar e voltar mais forte", conta o emigrante em Inglaterra.
"Militão surpreendeu-me. É jovem, está muito bem e tem muito potencial"
De FC Porto, uma nota mais. E para Éder Militão. "É quem mais me tem surpreendido, mas talvez porque é o único que eu não conhecia. Militão foi uma surpresa. É jovem, está muito bem e tem muito potencial", analisou.
Do FC Porto para a Seleção, de onde desapareceu no pós-Mundial: "O futebol é feito de escolhas, de momentos de forma de vários jogadores de qualidade que jogam em grandes campeonatos. Há que aceitar, trabalhar no meu clube e fazer as coisas bem aqui. E depois ser chamado. O objetivo é voltar, porque é um orgulho vestir a camisola de Portugal."
Azuis ao nível do amor pelo Vitória
A resposta saiu-lhe com naturalidade. "Como assisti aos primeiros meses da liga portuguesa? O balanço é muito bom. O FC Porto está em primeiro lugar e bem na Liga dos Campeões e o meu Vitória não começou da melhor forma, mas está agora muito bem", começou por enunciar Ricardo, num claro equilíbrio de amores. E até foi o jogo do V. Guimarães com o Sporting que motivou uma reação mais efusiva. "Esse jogo foi muito bom. A equipa foi compacta, esteve muito bem, teve bola, oportunidades, um futebol atrativo, um ambiente incrível... Foi um espetáculo a todos os níveis", completou.
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"Bernardo disse que lhe atrapalhei a vida"
O segundo golo na Premier League (o primeiro foi ao Everton) deu visibilidade à boa época de Ricardo. Especialmente por ter dado a vitória contra o Manchester City. "O golo é um reconhecimento para as pessoas que não acompanham tanto. Só no nosso melhor podíamos ganhar. Senti que tínhamos dado um passo importante depois do meu golo. Falei com o Bernardo Silva no fim. Disse-me que lhe atrapalhei a vida na caminhada dele, mas desejou-me boa sorte. Disse-me com outro vocabulário, claro", riu o português.
"A Premier League está a corresponder, é uma dimensão diferente, outra cultura, outros ambientes, estádios sempre cheios, jogos sempre difíceis. Estou a gostar a da experiência, quero continuar a melhorar, a ajudar a minha equipa e mais tarde se verá", comentou, num jeito de balanço à primeira volta, que em Inglaterra já se cumpriu.
"Já não me sinto desconfortável por andar a saltar de lugar. Tive de me adaptar apenas ao futebol inglês porque é diferente... Há muitas transições, é mais agressivo, o jogo é mais direto. Senti algumas dificuldades ao início porque não estava habituado. Penso que a intensidade é a grande diferença. Percebe-se por fora, mas quem está dentro nota mais. É sempre ataque, contra-ataque, ataque rápido... Não há tanta paciência com bola. E todas as equipas têm muitos internacionais e muita qualidade", analisou.