"O Conde Dias Garcia é um estádio lindo, mas não oferece as condições necessárias"
Urgel Martins esteve mais de 20 anos no FC Porto, mas saiu para abraçar a presidência da SAD da Sanjoanense
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Urgel Martins, 47 anos, estava no FC Porto desde 1998, onde, mais recentemente, era diretor executivo do futebol e só o clube do coração o fez sair dos dragões. Na primeira entrevista desde que assumiu a presidência da SAD da Sanjoanense, revelou as ideias da administração e os objetivos para o futuro.
Trocar uma estrutura como a do FC Porto por um clube onde, deduzo, haja quase tudo por fazer é um desafio grande?
-É muito estimulante, sem dúvida. Estamos a organizar as coisas e a criar os alicerces do projeto. Na Sanjoanense somos poucos, mas todos têm uma vontade enorme de fazer bem as coisas e de colocar o clube onde merece estar.
Como surgiu o convite para presidir à SAD?
-Fui convidado para assumir a liderança deste projeto em julho deste ano. Foi um convite que muito me honrou. Senti imediatamente a ambição e que era o momento certo para ajudar a fazer crescer o clube da minha terra. Fiquei até ao fim do mercado de transferências no FC Porto, pois sentia a obrigação de fechar os processos que tinha em mãos.
Urgel Martins é licenciado em economia e foi anunciado como líder da sad da sanjoanense em outubro
Qual é o projeto que têm em mente?
-Nesta fase estamos a criar os alicerces necessários do projeto, ao nível de recursos humanos, de instalações e de parcerias. Neste ano zero, que é a época atual, já apresentamos um futebol atrativo, com um plantel com muitos jovens de elevado potencial futebolístico, suportados por uma equipa técnica competente e ambiciosa e por alguns jogadores mais experientes, que são essenciais ao desempenho da equipa e ao processo de crescimento dos nossos miúdos. Acreditamos na juventude, nos jovens talentos que abundam neste país e que só precisam do contexto certo para explodir.
O plantel é muito jovem e vários deles têm contratos de longa duração. É intenção da SAD formar para depois vender e a partir daí começar a recolher dividendos?
-O orçamento na Liga 3 é muito exigente. As despesas são muitas e as receitas escassas. A gestão de ativos é uma ferramenta para procurar o equilíbrio orçamental e permitir que o projeto seja sustentável.
"Fiquei até ao fim do mercado no FC Porto, pois sentia a obrigação de fechar os processos que tinha em mãos"
Renovaram recentemente com o treinador Tiago Moutinho, pouco depois de ter sido contratado. É, desde já, uma aposta ganha?
-Os adeptos é que têm que fazer esse juízo. Renovámos porque acreditamos no trabalho que está a ser feito e achamos que com mais tempo, mais trabalho de equipa, mais tempo para planear, podemos ser ainda mais fortes.
As infraestruturas do clube precisam de uma remodelação profunda. Se a Sanjoanense subisse, porventura já esta temporada, o estádio seria um entrave para o desenvolvimento?
-Queremos chegar a outros patamares, mas não posso deixar de dizer que a Liga 3 é uma competição espetacular, super bem organizada e com jogos que vale a pena ver. Quanto ao estádio, o Conde Dias Garcia é um estádio lindo, com história e muito caráter, mas atualmente não oferece as condições necessárias para que aí se disputem competições profissionais. Para resolver este problema será preciso que a ADS e a Câmara Municipal trabalhem em conjunto para encontrar soluções. Se houver vontade e visão de futuro pode-se conseguir modernizar o estádio. Estamos 200% empenhados em ajudar. O maior problema é o estádio, mas ao mesmo tempo é uma grande oportunidade que não devíamos desperdiçar.
"O orçamento na Liga 3 é muito exigente. A gestão de ativos é uma ferramenta para procurar o equilíbrio orçamental"
Um "sanjoanense de gema" que foi jogador e diretor de basquetebol
Apesar de estar ligado ao futebol, o passado de Urgel Martins na Sanjoanense foi... no basquetebol. "Joguei basquetebol na formação da Sanjoanense. Era da geração do saudoso Paulo Pinto [faleceu de morte súbita em 2002], grande referência para mim. As minhas filhas começaram no basquetebol muito cedo e hoje ainda são atletas. Quando o presidente do clube pediu ajuda a um grupo de pessoas para não deixar cair a secção nós não virámos as costas", contou. O dirigente espera que o facto de ser natural da cidade inspire mais confiança nos sócios. "Sou um sanjoanense de gema, aqui cresci, aqui tenho a minha família e a maioria dos meus amigos e estou a desempenhar o cargo com enorme paixão. Penso que isso se vai notar no projeto que estamos a colocar ao serviço da cidade", completou.